Como a educação se coloca em tempos de ChatGPT? Essa inteligência artificial produz textos claros e concisos. Será que deveria então fazer as provas por nós? Os alunos podem achar tentador deixar a IA dirigir sua jornada acadêmica mas, na verdade, existem outras habilidades essenciais necessárias para uma educação adequada, como, por exemplo, a habilidade da escrita.
Já ouviu falar em ChatGPT acadêmico? Essa e outras ferramentas de IA chegaram para facilitar a rotina dos pesquisadores. Clica aqui para ver!
Em estudos recentes, o ChatGPT provou produzir conteúdo que pode rivalizar e, em alguns casos, superar o que é produzido por estudantes universitários. Para colocar isso em perspectiva, professores da Universidade de Nova York em Abu Dhabi conduziram um projeto de pesquisa: 233 questões para avaliar alunos de 32 professores que lecionavam em oito disciplinas diferentes na Universidade de Nova York, Abu Dhabi. Descobriram que em quase 30% dos cursos, as respostas geradas pelo ChatGPT obtiveram desempenho igual ou melhor do que as dos alunos reais.
E, dado o rápido avanço da inteligência artificial, espera-se que essa porcentagem aumente. O GPT-3.5 pôde superar o desempenho humano em alguns testes de conhecimento específico, e o GPT-4 se saiu ainda melhor em testes ainda mais acomplexos, segundo a OpenAI. É uma revelação ao mesmo tempo impressionante e um pouco preocupante, e serve de argumento suficiente para educadores e especialistas precisarem se adaptar.
Sempre houve maneiras para os alunos encontrarem atalhos – pense apenas nos serviços de redação de ensaios disponíveis muito antes de IA como ChatGPT se tornarem mainstream. Mas, sem dúvida, a inteligência artificial deixou esses atalhos ainda mais acessíveis.
Como Ethan Mollick, da Universidade da Pensilvânia observa acertadamente, a IA, especialmente ferramentas como o ChatGPT, facilitou para que os alunos vejam as tarefas como meras tarefas a serem concluídas em vez de oportunidades de aprender e crescer.
O problema não é tanto a existência de tecnologias como o ChatGPT, é mais sobre as estruturas de incentivo. Quando notas e pontuações se tornam o foco principal, os alunos podem preferir o caminho mais fácil, e esse caminho, atualmente, é IA. Se o sistema de recompensa mudar de notas para a compreensão e aplicação real, talvez a dependência da IA diminua.
Professores como Debora Weber-Wulff da HTW Berlin estão tentando criar perguntas que confundam IAs Generativas como o ChatGPT, mas é uma batalha contínua já que essa tecnologia está em constante evolução. O desafio maior, porém, não é criar perguntas à prova de trapaça, mas abordar o cerne de por que os alunos trapaceiam.
Kui Xie, psicólogo educacional da Michigan State University, destaca: se o motivo central do aluno é aprender e dominar uma habilidade, não há motivo para trapacear. No entanto, se for superar os colegas ou simplesmente obter uma boa nota, então a inteligência artificial torna-se um artifício tentador.
Além das avaliações acadêmicas, há a própria essência do aprendizado que precisamos considerar. Se os alunos dependem da IA para todas as suas tarefas de escrita, correm o risco de perder os benefícios cognitivos que vêm da escrita.
Escrever não é apenas um meio de expressar ideias de forma organizada, é também uma ferramenta poderosa para o aprendizado, ajudando na memorização, compreensão e conexão de diferentes conceitos. Se os alunos optarem por delegar todas as suas tarefas escritas à IA, eles podem muito bem estar prejudicando seu desenvolvimento intelectual.
A boa notícia é que os educadores não estão exatamente indefesos contra esta avalanche da tecnologia. Uma forma de enfrentar isso é reinventar a educação, focando no crescimento em vez da competição.
A inteligência artificial pode ser uma tutora fantástica, ajudando a compreensão de conceitos pelos alunos, que podem então aplicar o conhecimento originado da IA em projetos realizados em sala de aula — um modelo conhecido como “sala de aula invertida“.
A posição mais ativa dos alunos pode colaborar para o desenvolvimento do pensamento crítico, maior absorção de conteúdo e a possibilidade de aprender mais em menos tempo.
Inteligência artificial e educação: Seria a hora de reavaliar os métodos de avaliação?
24 das universidades mais renomadas do Reino Unido foram pioneiras em abordar a IA na academia Clica aqui para ver os 5 princípios adotados por eles.
Talvez seja hora de olhar para a educação como um todo e reavaliar a relevância das notas. Fornecer feedback centrado em processos individualizados, em vez de apenas resultados finais, pode reduzir a tentação de recorrer à IA.
Incorporar tarefas mais frequentes e de menor peso também pode ser revolucionário, garantindo aprendizado e aplicação contínuos em vez de memorização mecânica. A inteligência artificial pode ser usada para acelerar o processo de feedback nesses modelos, para brainstormings e podem servir poderosos aliados para guiar os estudos, entre muitas outras aplicações.
Em vez de vermos a inteligência artificial como uma ameaça, os alunos podem ser ensinados a vê-la como uma ferramenta para facilitar seu aprendizado – de forma ética. Pode ser muito útil para obter ideias ou explicações da IA, desde que os alunos sejam a peça mais importante nesse cenário, atuando em respostas mais elaboradas e validadas por seus repertórios particulares e professores.
A calculadora já foi um problema no passado, o corretor ortográfico também colabora com a produção de textos, por isso é razoável acreditar que talvez haja uma abordagem equilibrada para incorporar a inteligência artificial na educação.
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É preciso orientar os alunos sobre como e quando usar a IA, em que ponto a criatividade e seu conhecimento entram em cena. Talvez, ao contrário do que muitos pensam, a inteligência artificial não seja o fim da educação como a conhecemos, mas uma oportunidade para rever os métodos de ensino e avaliação, que podem ser tão mais eficazes quanto mais acompanharem a evolução da tecnologia.
Fonte: Scientific American