Cientistas observaram uma orca solitária, conhecida como “Starboard”, executando uma façanha supreendente: o assassinato de um tubarão branco, seguido pela ingestão de seu fígado.
Este é um incidente notável que quebra padrões do observado das interações predatórias no oceano, e coloca em perspectiva o comportamento complexo desses formidáveis mamíferos marinhos.
Starboard, assim nomeado devido à sua barbatana dorsal curiosamente inclinada para a direita, já era conhecido pela comunidade científica por suas caçadas em dupla com Port, outra orca cuja barbatana dorsal se inclina para a esquerda. Juntos, eles foram observados atacando tubarões brancos em Mossel Bay, África do Sul, destacando-se como uma dupla implacável nos mares. No entanto, a observação de Starboard atacando sozinho adiciona mais complexidade ao seu legado, levantando questões intrigantes sobre a dinâmica social e as estratégias de caça das orcas.
A rapidez e eficiência com que Starboard imobilizou e consumiu o fígado do tubarão branco deixaram os pesquisadores atônitos: em menos de dois minutos, a orca havia completado sua caçada, demonstrando uma habilidade predatória extraordinária. Alison Towner, bióloga marinha e candidata a doutorado na Rhodes University na África do Sul, destacou a surpresa com a velocidade do ataque. Este evento aponta a destreza das orcas como predadores e para uma preferência específica pela parte mais nutritiva de suas presas: o fígado do tubarão.
A descoberta deste ataque solitário veio após pesquisadores serem alertados por observadores em terra sobre a presença de Port e Starboard nas águas de Mossel Bay. Ao lançarem uma embarcação em busca dos mamíferos marinhos, os cientistas se depararam com um espetáculo macabro: uma mancha de sangue coagulado na superfície sobre a superfície do oceano, exalando um odor distintamente oleoso – o cheiro característico do fígado de tubarão, o que os levou diretamente ao rastro de Starboard e, eventualmente, à testemunha ocular de sua caçada solitária.
A vítima, um tubarão branco juvenil de aproximadamente 2,5 metros de comprimento, não era um desconhecido para os biólogos. O evento também teve um impacto emocional considerável sobre os pesquisadores, particularmente Primo Micarelli, da Universidade de Siena na Itália, que se encontrava a bordo de uma embarcação de mergulho com tubarões nas proximidades. Assistir a um predador marinho admirado atacar outro de suas espécies preferidas foi, nas palavras dele, “realmente estressante“.
A complexidade do comportamento das orcas
Além disso, um segundo tubarão branco, também sem seu fígado, foi encontrado morto na costa no dia seguinte, sugerindo a possibilidade de outro ataque não observado anteriormente. Esse padrão de predação reforça a ideia de que as estratégias de caça das orcas, especialmente de Port e Starboard, podem ser mais variadas e complexas do que se presumia anteriormente.
A contribuição de Port e Starboard para a ciência marinha vai além de seus atos predatórios. Isabella Reeves, doutoranda em biologia marinha na Flinders University na Austrália, destaca o papel dessas orcas na redefinição do conhecimento sobre o comportamento dos cetáceos. De maneira inesperada, a liderança masculina nas caçadas, uma raridade no mundo das orcas, onde geralmente as fêmeas dominam, sugere nuances intrigantes na estrutura social e comportamental destes animais.
O fenômeno da caça aos tubarões por orcas não é exclusivo da África do Sul. Jennifer Tennessen, cientista pesquisadora sênior no Center for Ecosystem Sentinels na Universidade de Washington, aponta que bandos de orcas no Pacífico Noroeste também incluem uma variedade de tubarões em suas dietas. Contudo, devido à distância da costa e às dificuldades de observação, os comportamentos desses predadores permanecem em grande parte um mistério.
Este estudo recente sobre as interações entre orcas e tubarões brancos sublinha a importância da contribuição de cientistas, cidadãos e da tecnologia de drones na pesquisa marinha. Dada a velocidade e o comportamento elusivo das orcas, essas ferramentas oferecem uma interessante oportunidade para o estudo de suas estratégias de caça e interações sociais, em um ambiente onde cada descoberta pode virar o que sabemos sobre a vida marinha de cabeça para baixo.
A caçada solitária de Starboard aponta para uma complexidade além da previsão, nos lembrando nos lembram da constante necessidade de abordar o estudo do mundo natural com uma mente aberta, pronta para ser surpreendida pelo que ainda não conhecemos, para tentar entender como os ecossistemas estão mudando, os impactos disso no meio ambiente e como a mudança do próprio ambiente pode ou não ter alguma relação com esses comportamentos como o das orcas.
Fonte: Scientific American