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A anti-ciência de alguns cientistas

Créditos Imagens: Kauê Peinado para Futuro Relativo

Uma certa microbiologista que ganhou notoriedade midiática na época da pandemia, que por praticar sua ciência específica acha que sabe o que é ciência, afirmou duas bobagens (certamente muito mais do que duas, mas ouvi essas duas):

1. Na rádio CBN, afirmou que as sementes transgênicas combatem a fome porque permitem a produção de alimentos em massa e que qualquer posicionamento contrário seria um “preconceito contra a ciência”. 

Ignorância do fato de que a agrofloresta pode ser praticada em larga escala, e de que a agricultura familiar de sementes replantáveis pode produzir em larga escala; ignora inclusive que está reproduzindo um discurso absolutamente nada científico cujos interesses são meramente econômicos e de poder hegemônico de um grupo. 

2. Em seu livro de achismos em nome da ciência, afirmou que a homeopatia e a psicanálise são charlatonices.

O nome disso é cientificismo, ou positivismo cientificista e reducionista, isto é, a crença (uma crença, portanto nada científica) de que somente é sério ou “verdade” aquilo que aparece como demonstrado por alguma pesquisa científica (e não provado, pois a ciência não prova nada, apenas demonstra a partir da metodologia adotada em cada pesquisa).

Ora, a ciência não diz verdades, caso contrário não haveria métodos variados nem novas pesquisas sobre os mesmos temas; o fato de não haverem pesquisas sobre algo não faz dele algo não existente (inclusive porque pesquisas seguem interesses de financiamento); e sobretudo, o fato de algo não aparecer de forma inequívoca nos experimentos que visam a reprodutibilidade de um mesmo resultado (objetivo da pesquisa científica quantitativa, mas não da pesquisa científica qualitativa), não faz disso algo não existente, não anula seu efeito real – efeito compreensível para mentes científicas que sabem o que é ciência, ou seja, que não aderem à ideologia do cientificismo, uma crendice obtusa que extrapola todos os limites da ciência.

Em resumo, não se trata de ser radical ou de não conhecer psicanálise ou homeopatia. Muito pior, trata-se de não saber o que é ciência.

Nada mais anti-ciência do que um pesquisador que por fazer ciência em sua área específica, se arvora um arauto do que é ciência ou não, ignorando no entanto o be-a-bá da epistemologia.
Ignorância epistemológica e pretensão arrogante, nada científica, e nada inteligente. Uma forma anacrônica e superada de anti-ciência, típica do século XIX, de causar inveja ao terraplanismo.

André Martins

André Martins

Filósofo e psicanalista, artista do intelecto, professor do NUBEA-UFRJ, capricorniano, pai de dois meninos 😊

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