Nos anos 80, descobrimos um buraco na camada de ozônio da Terra, um dado que nós mesmos havíamos causado, que o tínhamos feito, com nossos aerossóis e refrigeradores cheios de CFCs. Mas há boas notícias: Nós podemos consertar essa bagunça!
Nossa camada de ozônio é a camada protetora que mantém os nocivos raios solares sob controle. Mas, graças a alguns químicos, em 1985, ficamos sabendo que tínhamos um grande buraco nela.
Diante disso, em 1987, líderes globais, cientistas e representantes da indústria se reuniram em Montreal, e estabeleceram o Protocolo de Montreal, que fez com que indústrias químicas investissem em alternativas lucrativas para colaborar com a camada de ozônio. Recentemente, cientistas anunciaram que a nossa camada de ozônio está se recuperando.
Visando enfrentar os desafios ambientais, o Protocolo de Montreal incentivou políticas com bases científicas e estabeleceu um compromisso de responsabilidade e cooperação global.
Agora, com tantos problemas urgentes com o meio ambiente e as mudanças climáticas que andam nos assolando, será que conseguiremos replicar o sucesso do Protocolo de Montreal, buscando, por exemplo, alternativas para nossa dependência de combustíveis fósseis que vem provocando o aquecimento global?
O planeta está atingindo as maiores temperaturas já registradas. Clica aqui e dá uma olhada no tamanho do problema!
O passado e o futuro da camada de ozônio
Na segunda metade do século XX, começaram a circular relatórios alertando sobre uma iminente crise ambiental: a camada de ozônio protetora da Terra estava sendo esgotada.
Em 1986, o problema havia se intensificado tanto que um buraco do tamanho dos Estados Unidos havia se formado na camada de ozônio, e o perigo que isso representava era palpável. Em 1989 ficou claro que o tempo estava se esgotando para uma ação eficaz.
Muitos, como David Doniger, diretor estratégico sênior do Programa de Clima e Energia Limpa do NRDC (Natural Resources Defense Council), reconheceram que a vasta maioria das pessoas não tinha conhecimento da existência de uma camada de ozônio antes dessas revelações. A ameaça a essa parte crítica de nossa atmosfera marcou um ponto de virada histórico, já que foi a primeira preocupação ambiental global a ganhar ampla atenção.
A iminente catástrofe ameaçava ter um preço trágico para a humanidade, com estimativas sugerindo até 800.000 mortes por câncer em 88 anos apenas na América. Estava se tornando claro que as atividades humanas poderiam danificar irreversivelmente todo o planeta.
Os culpados por essa degradação eram os clorofluorocarbonos (CFCs), substâncias químicas que revolucionaram a indústria de bens de consumo desde a década de 1950. Esses produtos químicos eram notadamente usados na produção de refrigeradores domésticos e aparelhos de ar condicionado, tornando-os mais seguros e acessíveis. No entanto, tinha o outro lado, bastante nocivo.
Um estudo pioneiro dos químicos da Universidade da Califórnia, Mario Molina e Sherry Rowland, sugeriu que os CFCs estavam gradualmente se movendo para a alta atmosfera, onde estavam esgotando a camada de ozônio estratosférica, que age como um escudo da Terra contra a prejudicial radiação ultravioleta.
No entanto, suas descobertas foram recebidas com ceticismo, tanto por certas partes da comunidade científica quanto pelas indústrias que dependiam fortemente dos CFCs. Mesmo enquanto Molina e Rowland enfrentavam um certo desprezo de seus colegas, Susan Solomon, professora de estudos ambientais no MIT, à época era uma jovem cientista atmosférica que também foi ridicularizada quando discutiu suas descobertas sobre a camada de ozônio.
As coisas começaram a mudar em 1985, quando cientistas britânicos descobriram um enorme buraco na camada de ozônio sobre a Antártica. Susan Solomon, liderando uma equipe para a Antártica, encontrou evidências convincentes de que os CFCs produzidos pelo homem eram responsáveis pelo esgotamento.
Quando a década de 1980 estava chegando ao fim, já havia proibições parciais de CFCs nos EUA, e o ímpeto para ação global estava crescendo. Notavelmente, o presidente dos EUA, Ronald Reagan, experienciado pessoalmente o câncer de pele, tornou-se favorável a encontrar uma solução.
Reconhecendo as possíveis perdas futuras, líderes da indústria decidiram que era melhor fazer parte da solução. Em 1987, uma cúpula histórica da ONU em Montreal levou a um acordo para reduzir significativamente a produção de produtos químicos que esgotam o ozônio. O Protocolo de Montreal, como ficou conhecido, visava finalmente eliminar completamente os CFCs, um objetivo fortalecido pela evidência de que substitutos acessíveis e eficazes estavam disponíveis.
Na década de 1990, estava claro que o Protocolo de Montreal estava tendo o efeito desejado, com o tratado se tornando o primeiro na história da ONU a obter ratificação universal, mas à medida que o século XXI avançava, surgiam novos desafios ambientais, particularmente relacionados às emissões de CO2 e às mudanças climáticas.
Traçando paralelos com o Protocolo de Montreal, Eileen Claussen, que ocupava um cargo importante em questões ambientais da Administração Reagan, observou que, enquanto havia vencedores e perdedores claros na luta contra o esgotamento do ozônio, as linhas não eram tão claramente definidas na batalha contra as mudanças climáticas.
Em 2023, 35 anos após a assinatura do Protocolo de Montreal, há um vislumbre de esperança. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration) informou que a camada de ozônio da Terra estava mostrando sinais de recuperação.
Steve Montzka, liderando uma equipe de cientistas na NOAA, elogiou o progresso feito através da colaboração internacional. Susan Solomon compartilha do sentimento e vê a camada de ozônio em cura como uma esperança para a capacidade da humanidade de enfrentar e superar desafios ambientais.
Montzka é otimista e sugere uma camada de ozônio totalmente recuperada até 2050 ou 2060, um legado que ele esperava que as futuras gerações apreciem.
Já tem até IA ajudando a prever efeitos as mudanças climáticas. Clica aqui pra ver!
Em meio a tantas preocupações com o meio ambiente, a ciência nos coloca diante de uma nova perspectiva. Esta boa notícia nos faz entender que o esforço coletivo pode ter um impacto gigantesco no futuro da humanidade.
De iniciativas que vão da conscientização à redução efetiva de gases nocivos por meio de transição para fontes de energia verde, é confortante saber que uma mobilização global pode recuperar nossa camada de ozônio.
Fonte: Scientific American