A energia escura é uma força misteriosa do universo e tem sido o centro de muitas discussões científicas desde sua descoberta, há cerca de 25 anos. Acreditando que ela seja responsável por impulsionar a expansão acelerada do universo, a energia escura constitui quase 70% do cosmos, posicionando-se como um dos maiores mistérios da cosmologia moderna.
Contudo, indícios recentes sugerem que talvez tenhamos que revisitar nossas teorias sobre essa força misteriosa. Análises provenientes do maior mapa 3D do universo já criado começam a insinuar que a energia escura, ao contrário do previsto pelo modelo padrão da cosmologia, o lambda-CDM, que prevê sua constância, pode estar enfraquecendo com o tempo.
Adam Riess, da Universidade Johns Hopkins, que encontrou a primeira evidência de energia escura, há 25 anos, salienta a magnitude dessas novas descobertas. Segundo ele, se os indícios se confirmarem, estaríamos diante de uma revolução em nossa compreensão do universo.
O modelo lambda-CDM, um pilar da cosmologia moderna, pressupõe que a força da energia escura é estática. No entanto, a possibilidade de que ela possa estar variando ao longo do tempo nos obriga a reconsiderar as fundações sobre as quais construímos nosso entendimento do cosmos, desde a origem do universo até suas dimensões, expansão e destino final.
A pesquisa que trouxe à tona essas provocativas sugestões é fruto do trabalho com o Instrumento Espectroscópico de Energia Escura (DESI, na sigla em inglês de Dark Energy Spectroscopic Instrument), localizado no Arizona. O DESI tem como objetivo mapear a estrutura em larga escala do universo através da observação da distribuição das galáxias, revelando, assim, como o universo se expandiu ao longo do tempo.
O estudo integrou dados de três conjuntos distintos de supernovas, estrelas cujas explosões funcionam como “velas padrão”, ou seja, marcadores com brilho previsível que ajudam a determinar a distância de objetos cósmicos. Curiosamente, cada um desses conjuntos sugeriu que a influência da energia escura pode ter diminuído nas eras recentes, embora com variações nos níveis de confiança.
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Divergências entre modelos de investigação da energia escura
Kyle Dawson, porta-voz do DESI e da Universidade de Utah, compartilhou o dilema enfrentado pelos colaboradores do projeto ao interpretar esses dados intrigantes. A discordância entre as duas amostras muito semelhantes de supernova introduz mais complexidade na análise dos resultados. Dawson reflete sobre a possibilidade de que a verdade esteja em algum lugar entre os dados divergentes, sugerindo que as diferenças podem residir na maneira como os dados foram avaliados.
Os desvios entre os modelos são mensurados por um fator chamado sigma, que indica a probabilidade de que tal discrepância ocorra por acaso. Riess menciona que um desvio de cerca de 3-sigma normalmente desperta a atenção da comunidade científica, sendo considerado uma indicação significativa. Os desvios observados entre o modelo lambda-CDM e as combinações das medições de supernova e DESI variaram de 2.5-sigma a 3.9-sigma, apontando para uma tensão notável, embora não conclusiva, entre os modelos padrão e as novas descobertas.
As implicações de um erro em nossa compreensão da energia escura são extensas, dada sua predominância no universo. Confirmar essas descobertas, no entanto, exigirá medições mais precisas nos próximos anos.
Se esses indícios se mostrarem verdadeiros, estaríamos diante da primeira pista concreta sobre a natureza da energia escura desde sua descoberta por Riess e sua equipe, o que não apenas revolucionaria nossa compreensão do cosmos como também abriria novas frentes na física fundamental.
A ideia de que a energia escura não é uma constante, mas sim uma força que pode variar com o tempo, desafia diretamente nossas concepções mais fundamentais sobre a cosmologia, o que pode sugerir uma necessidade de revisão das teorias existentes, dando possibilidade de descobrir novos princípios que governam o tecido do espaço-tempo.
Fonte: NewScientist