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A humanização é uma utopia?

Meu tio me chamou no WhatsApp. Não de propósito, mas não nos vemos com frequência, então qualquer desculpa poderia se encaixar aqui. Mas a verdade tem nome: desleixo, – substantivo masculino que quer dizer também falta de esforço. Mas não de propósito, porque os dias, as obrigações, as preocupações e tudo aquilo que queremos fazer, conquistar e organizar vai engolindo nossas prioridades mais genuínas.

Mas ele me chamou no WhatsApp. E como se nunca tivéssemos deixado de estar próximos física e constantemente, começamos a conversar. Meu tio é um cara muito inteligente, amante dos livros, fã de boas histórias, certamente a pessoa mais fácil de presentear. Se você estiver em uma  livraria e encontrar um clássico romance da literatura fantástica em língua espanhola elencado como um dos livros mais complexos de entender, pode levar! Ele não só vai amar como vai te contar de um jeito muito didático, inteligente e lúdico sobre as partes mais intrigantes do romance de James Joyce.

Bom, em dado momento da conversa ele me perguntou quais eram os meus planos. Eu tenho vários! – respondi. E contei que um deles era trazer humanização para minha área de atuação que é a publicidade. Sinto tudo muito robotizado, as ferramentas cada vez mais tecnológicas, o tempo de qualidade cada vez mais escasso e, nessa corrida, o ser humano vai se sentindo cada dia mais incapaz.

Reforcei o quanto isso me incomodava e o quanto eu odiava as lógicas de pastelaria do marketing digital.
 E sem pensar ele escreveu: “A publicidade é neta do capitalismo, a humanização no interior dela é quase uma utopia!“. Acho que eu nunca tinha ouvido algo que descrevesse tão intensamente a minha realidade, e acho que reli umas quatro vezes seguidas essa frase só para me certificar do que eu já sabia.

Não sei se é a dopamina de um briefing bem feito, a endorfina liberada no corpo depois de entregar uma planilha de excel cheia de métricas e análises, ou a oxitocina de receber um feedback agradecendo pela minha postura humanizada na liderança que me mantém viva nesse mundo. E embora isso que ele tenha me dito não tenha sido nenhuma surpresa pra mim, de alguma forma me tocou de uma maneira inesperada.


É impressionante como a gente se frustra ao ouvir algo que já sabe. É estranho imaginar que às vezes você precisa passar por determinadas situações para voltar ao mesmo ponto de partida, e perceber que desde o início as respostas já estavam nas suas mãos. E por incrível que pareça, eu não odeio as IA’s, nem me assusto quando penso em comprar um sapato e ele aparece na tela do meu celular em promoção. 

O que me entristece é saber que sempre que eu buscar a humanização, vou bater na porta do capitalismo. Nem sei se existem variações do conceito, e não me refiro ao capitalismo como um sistema que prima pela garantia do lucro, é sobre a forma como os homens querem impor suas garantias… sei lá! Vou perguntar o que ele acha…

Thaís Braga

Thaís Braga

Paradoxo da capricorniana publicitária espiritualizada e quase psicóloga ♑

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