A gente ouve falar do “poder da música de unir as pessoas” e nem sempre pensa o quanto isso pode ser real ou se é só um recurso poético, né? Mas agora a ciência traz uma nova perspectiva em um estudo recente de Yale, que chega para entendermos que realmente existe algo concreto aí.
Será que pessoas de diferentes cantos do mundo conseguem entender o sentimento por trás de melodias que nunca ouviram, apenas pela melodia, sem entender o idioma?
Buscando aprimorar nosso entendimento sobre a música em diferentes culturas e verificar se existem certos padrões universais no jeito que ela nos faz sentir, pesquisadores de Yale embarcaram em uma jornada para desvendar os mistérios dos temas musicais universalmente reconhecidos.
A intenção era entender até que ponto pessoas de diferentes culturas são capazes de inferir os contextos comportamentais de canções desconhecidas, produzidas em idiomas desconhecidos, usando apenas características acústicas das melodias. O estudo teve como objetivo abordar limitações de amostragem anteriores em pesquisas de percepção musical intercultural, explorando os papéis que a cultura e os links universais de forma-função da música desempenham na formação da percepção musical.
O experimento usou uma seleção de melodias chamada “Natural History of Song Discography“, uma coleção de gravações do mundo todo, que originalmente eram usadas em quatro contextos comportamentais: acalmar um bebê, dançar, expressar amor e curar os enfermos. A coleção foi organizada por Samuel Mehr, que atua no Yale Child Study Center e é professor de psicologia na Universidade de Auckland. Ele e sua equipe selecionaram 118 gravações de melodias de 86 sociedades, abrangendo 30 regiões pelo mundo.
Para garantir uma amostra global que maximizasse a diversidade linguística e geográfica, queriam, no mínimo, 100 participantes de cada país, de sociedades industrializadas àquelas com acesso limitado à mídia global.
Com mais de 5.500 participantes, vindos de impressionantes 49 países, o escopo deste estudo foi vasto: Pessoas de comunidades isoladas, de cidades movimentadas e do campo, todas unidas pela música, não em uma, não em duas, mas em 31 línguas!
Os participantes ouviram trechos de 14 segundos e tinham a tarefa de categorizá-los. Melodias de dança, canção de ninar, cura ou amor – em qual caixa o trecho se encaixaria?
O que observaram foi que as melodias de dança e as canções de ninar foram mais facilmente identificáveis pelos participantes dos diferentes grupos, já as canções que expressavam amor por outra pessoa foram mais difíceis de serem identificadas. Dos 28 grupos, todos conseguiram identificar as melodias para bebê, 27 as melodias de dança, 20 as chamadas “músicas de cura” e apenas 12 dos 28 conseguiram identificar corretamente as canções de amor.
Lidya Yurdum, a autora principal do artigo, que trabalha no Yale Child Study Center, graduada pela Universidade de Amsterdam, disse que canções de amor são como a arte abstrata, podendo ser mais confusas porque abrangem um amplo espectro: de alegria e atração à melancolia e ciúmes.
Os ouvintes estavam mais sintonizados com canções de amor de países vizinhos ou línguas que reconheciam. Talvez essas dicas linguísticas e culturais familiares tenham colaborado para esse resultado.
Mehr destacou que a música está profundamente enraizada na interação social humana, e isso não é apenas sobre melodias e letras, mas também pela conexão com as experiências humanas compartilhadas. As alegrias, as tristezas, as memórias – a música nos une de maneiras variadas e muitas vezes inexplicáveis.
O que é muito legal, à parte da dificuldadezinha com as canções de amor, é que o background geográfico e linguístico do ouvinte não influenciou tanto no reconhecimento de um tema musical, o que mostra o caráter de universalidade da música. Isso é irado! Mesmo em meio à nossa diversidade cultural, alguns acordes tocam as pessoas do mesmo jeito pelo mundo todo!
Conexão através da música
Esse estudo tem implicações importantes para a comunicação e compreensão intercultural através da música, já que os ouvintes desse experimento foram, no geral, bastante precisos para categorizar as melodias, ainda que em idiomas desconhecidos, sugerindo que pode haver links universais de forma-função no comportamento musical que transcendem fronteiras culturais.
No entanto, o estudo também descobriu que os ouvintes eram ainda mais precisos ao inferir os contextos comportamentais das canções que estavam mais relacionadas à sua própria cultura, sugerindo que o conhecimento e a exposição cultural podem desempenhar um papel na formação da percepção musical.
Para entender a complexidade dessa percepção humana, a exploração deve ser diversa, e como Yurdum destacou, ainda é muito limitado dizer que sabemos tudo em relação à universalidade da música considerando apenas os ouvintes ocidentais.
Isso sugere a necessidade de mais pesquisas para explorar os papéis que a cultura desempenha na formação da percepção musical e para desenvolver estratégias que promovam a compreensão intercultural através da música.
Com essa pesquisa, fica comprovada a conexão entre pessoas e sociedades diversas, onde as diferenças não mudam a universalidade possível através da música, que mostra a ocorrência de experiências humanas compartilhadas. Lindo isso, né?