Uma enxurrada de verdades e mentiras estão lado a lado, circulando com uma velocidade vertiginosa no mundo conectado em que vivemos. E nem sempre é fácil distinguir uma da outra.
Recentemente, casos de mentiras proferidas por figuras públicas, como Hunter Biden, George Santos e o rapper Offset, têm dominado os ciclos de notícias na gringa, levantando questionamentos acerca das circunstâncias que nos levam a mentir. Essa realidade nos impulsiona a refletir sobre as nuances do comportamento humano e as variáveis que influenciam a nossa propensão a mentir.
Desvendando as circunstâncias da mentira
Ao observar os exemplos citados, percebemos que cada caso carrega suas peculiaridades. Hunter Biden, filho do presidente dos Estados Unidos, enfrentou acusações de mentir em um formulário governamental ao comprar uma arma de fogo. Já o Representante Republicano George Santos teria mentido de diversas formas, inclusive para doadores, através de intermediários, com o intuito de desviar fundos arrecadados. Por fim, o rapper Offset admitiu ter mentido em sua rede social, Instagram, acerca de uma suposta infidelidade de sua esposa, Cardi B.
Esses casos revelam a complexidade do fenômeno da mentira, evidenciando que variáveis como o público-alvo e o meio utilizado para propagar a mentira são elementos cruciais a serem considerados. Enquanto Hunter Biden mentiu para uma entidade impessoal – o governo, Santos enganou doadores específicos e Offset dirigiu sua inverdade a milhões de seguidores online.
Assim, torna-se imperativo questionar: será que uma conexão pessoal aumenta ou diminui a probabilidade de sermos verdadeiros? Será que mentimos mais por mensagens de texto ou e-mail do que por telefone ou pessoalmente?
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A frequência de mentir
Pesquisadores de egano têm se debruçado sobre essas questões, buscando respostas por meio de pesquisas empíricas. Um estudo clássico conduzido nos anos 90 pela psicóloga Bella DePaulo considerou interações face a face, e os participantes contemplavam estudantes da Universidade da Virgínia e membros da comunidade ao redor da universidade. Foi constatado que, em média, estudantes universitários mentem duas vezes por dia, enquanto membros da comunidade ao redor da Universidade da Virgínia mentem uma vez ao dia.
Entretanto, é crucial ressaltar que as médias não descrevem os indivíduos de forma adequada. Uma pesquisa posterior com de 2010, da Universidade Estadual de Michigan revelou um cenário diferente: 59,9% dos 1.000 participantes americanos afirmaram não ter contado uma única mentira nas últimas 24 horas, e dos que admitiram mentir, a maioria disse ter contado poucas mentiras. As 1.646 mentiras relatadas foram desproporcionalmente contadas por apenas 5,3% dos participantes, destacando que a mentira é um comportamento raro para muitos, mas comum para um pequeno grupo de indivíduos.
O papel do meio e do público
Quando expandimos nosso olhar para diferentes meios de comunicação, para além das interações face a face, as descobertas são surpreendentes. Uma pesquisa de 2014 mostrou que, das 30 mensagens de texto mais recentes analisadas pelos participantes, 23% afirmaram não ter textos enganosos, e a maioria relatou que 10% ou menos de suas mensagens continham mentiras. Estudos recentes, como o de David Markowitz na Universidade de Oregon, confirmaram que as taxas de mentira não variam significativamente entre textos, telefonemas e e-mails, com uma média de 1,08 mentiras contadas por dia.
A relação com o receptor da mentira também é um fator crucial. Enquanto as “mentiras cotidianas” são mais frequentemente dirigidas a estranhos, as mentiras sérias tendem a ser contadas a parceiros próximos e familiares. DePaulo e sua colega Deborah Kashy constataram que os participantes mentiam menos de uma vez a cada 10 interações sociais com cônjuges e filhos. No entanto, quando se tratava de mentiras sérias, 53% foram dirigidas a parceiros próximos entre os participantes da comunidade, e 72,7% entre os estudantes.
A honestidade sobre mentir
É importante salientar que esses são achados iniciais e que pesquisas adicionais são necessárias para solidificar as conclusões. O estudo do comportamento humano é complexo e multifacetado, e variáveis como idade, gênero, religião e afiliação política ainda precisam ser exploradas de maneira mais aprofundada nesse contexto para entender mais sobre a mentira.
Apesar dos desafios e da necessidade de mais estudos, os resultados até agora indicam que a mentira é um comportamento relativamente raro para muitas pessoas, mesmo em interações digitais e com estranhos. O grande desafio reside em identificar e se proteger do pequeno grupo de mentirosos frequentes, que são responsáveis por uma parcela significativa das falsidades.
Ao compreender melhor as dinâmicas da mentira, podemos ter mais discernimento sobre as complexidades das relações humanas, valorizando e promovendo a honestidade e a integridade em nosso dia a dia.
Fonte: Scientific American