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Devemos acordar alguém que está tendo um pesadelo? Entenda um pouco mais sobre sonhos ruins

Devemos interromper o sono de alguém que está tendo um pesadelo? Quando alguém está se contorcendo ou se debatendo devemos interromper seu sono?

A despeito dos nossos instintos protetores, a resposta é que provavelmente acordar alguém por causa de um sonho ruim pode não ser a melhor opção.

De acordo com Deirdre Barrett, pesquisadora de sonhos na Harvard Medical School e autora de The Committee of Sleep (Oneiroi Press, 2001 – sem versão em português até o momento), os pesadelos ocorrem, na maioria das vezes, durante o sono REM (do inglês, “Rapid Eye Movement” ou Movimento Rápido dos Olhos), fase do sono que é caracterizada por uma atividade cerebral semelhante à de quando estamos acordados, e exceto pelo fato de serem assustadores, os pesadelos se parecem com qualquer outro sonho.

Enquanto estamos no sono REM, as áreas do cérebro responsáveis pela memória de longo prazo mostram uma ativação alterada, o que significa que tendemos a não lembrar dos sonhos ruins, a menos que sejam assustadores o suficiente para nos acordar. Se isso acontecer, essas regiões de memória são “ativadas” novamente. 

Em um cenário comum de pesadelo, seu coração pode acelerar uma média de sete batidas por minuto, conforme aponta Michael Schredl, pesquisador de sonhos e sono do Instituto Central de Saúde Mental da Alemanha. Mas mesmo assim, o indivíduo tende a permanecer tranquilo na cama, já que, durante o sono REM, os músculos ficam paralisados, evitando que ajamos conforme nossos sonhos.

Terror noturno vs. pesadelo

Agora, se você notar alguém se mexendo muito, falando durante o sono ou até a ocorrência sonambulismo, pode não ser um pesadelo, e sim um terror noturno. Estes casos ocorrem durante o sono não-REM

Leslie Ellis, conselheira clínica na Colúmbia Britânica que trata pacientes com pesadelos, aponta que o terror noturno é particularmente comum em crianças, e observa que não se deve acordá-las “pois ficarão desorientadas“, e se não forem despertados, provavelmente nem se lembrarão do sonho perturbador.

Pesadelos como reflexo da realidade

Interessante notar que sonhos perturadores podem ser ecos de experiências estressantes do nosso dia a dia. Por exemplo, nos primeiros dias da pandemia da COVID, muitas pessoas relataram um aumento nos pesadelos. Estudos sobre o tema, inclusive uma pesquisa publicada na revista Somnologie em 2022, mostraram novos temas emergindo nos sonhos, como doenças, confinamento e insetos – talvez uma representação simbólica de infecção ou contaminação.

Anu-Katriina Pesonen, investigadora psicológica da Universidade de Helsinque, analisou as mudanças nos sonhos no início de 2020 e observou: “Os sonhos muitas vezes refletiam as novas regras da pandemia. Por exemplo, dar as mãos em um sonho era vivenciado como um grande erro, ajudando possivelmente na assimilação das novas normas”.

Um pesadelo ocasional não é motivo de preocupação. No entanto, a recorrência pode ser um sinal de um distúrbio psicológico mais profundo. A boa notícia, segundo Barrett e Ellis, é que esses pesadelos são tratáveis. 

Pessoas têm sonhos ruins regularmente, especialmente aqueles relacionados a traumas, podem encontrar obstáculos em sua recuperação. E, conforme Barrett destaca, esses pesadelos traumáticos podem ocorrer fora do sono REM, o que sugere uma semelhança com os flashbacks do TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático).

Alguns problemas que podem causar pesadelos:

  • Sonhos estranhos e saúde mental

Os sonhos são frequentemente bizarros, perturbadores e às vezes assustadores. No entanto, a tentativa de identificar “tipos de sonhos” que caracterizam distúrbios mentais não avançou muito. Pessoas com distúrbios psicóticos, especialmente esquizofrenia, têm sonhos particulares que refletem sua maneira de pensar durante o dia. No entanto, sonhar de determinada forma não significa que se tem um distúrbio mental. A frequência de pesadelos, por outro lado, é geralmente maior em pessoas com algum tipo de desordem mental, seja depressão, ansiedade ou transtorno de estresse pós-traumático.

  • A frequência e os riscos à saúde mental dos jovens

Existe uma ligação bem estabelecida entre a frequência de sonhos perturbadores e o risco de suicídio entre os jovens. A recorrência desses sonhos está começando a ser incluída nos diagnósticos devido a essa correlação. O desafio é direcionar esses jovens para receberem ajuda mais cedo, prevenindo tentativas recorrentes de suicídio.

  • Sonhos e depressão

Os sonhos de pessoas com depressão são muitas vezes negativos, refletindo seu estado mental. Uma pesquisa revelou que, à medida que os antidepressivos começam a fazer efeito, o conteúdo dos sonhos dos pacientes torna-se menos sombrio e seu humor melhora. No entanto, é complicado entender a relação entre sonhos e depressão, pois os antidepressivos podem suprimir o sono REM, a fase em que mais sonhamos.

  • Riscos à saúde física

Em alguns casos, os pesadelos podem ser indicativos de problemas físicos. Por exemplo, um jornalista que tinha pesadelos em que se sufocava descobriu, após uma triagem de apneia do sono, que ele realmente estava se sufocando durante o sono devido a apneias frequentes. Quando tratado, seus pesadelos desapareceram na primeira noite.

  • Sonhos como indicadores de doenças neurodegenerativas

Sonhos agitados são característicos da Desordem de Comportamento do Sono REM (RBD – REM sleep behavior disorder). Mais de 80% dos pacientes com esta desordem desenvolvem uma patologia neurodegenerativa dentro de 10 a 15 anos após o início do RBD. A falha do cérebro em inibir movimentos durante os sonhos é um forte sinal de alerta, indicando que o cérebro já está começando a ser danificado.

Tratamentos

Há várias abordagens para tratar esses pesadelos. Em 2020 um estudo mostrou que uma  a “terapia de ensaio de imagens” pode ser tão eficiente que medicamentos para os pesadelos pós-traumáticos e pode funcionar para os pesadelos recorrentes, até os que se repetem por anos.

Esse tipo de terapia é basicamente psicólogos ou conselheiros orientando seus pacientes a imaginar finais alternativos para o pesadelo, oferecendo um senso de controle e resolução. Alguém que sofre com pesadelos pode até tentar essa técnica sozinho, embora em casos onde os pesadelos são mais angustiantes e persistentes, o ideal seja buscar por um profissional.

Acordar alguém de um pesadelo pode não ser a melhor solução, principalmente a longo prazo. É  essencial compreender e tratar a causa subjacente, porque esses sonhos ruins podem ser um sinal de que algo está errado, e vale uma análise tanto do aspecto psicológico como neurológico.

É preciso estar atento à recorrência e a intensidade dos sentimentos decorrentes desses pesadelos para que isso não coloque nossa saúde em risco. Uma só noite mal dormida é um tremendo problema, imagina os danos que podem ocorrer depois de várias noites perturbadas por pesadelos!

Fonte: Scientific American

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