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Aprendizado sem cérebro? Uma pesquisa mostra que as medusas podem aprender só pela experiência

É falar em Inteligência Artificial e a gente logo liga o cérebro e coisa e tal, né? Mas…. No emaranhado de natureza, inteligência e capacidade cognitiva talvez tenha algo que não precise de cérebro

Mesmo sem um sistema nervoso central, as medusas têm mais a nos ensinar do que podemos imaginar à primeira vista. Pesquisadores recentemente desvendaram o surpreendente fenômeno de que a minúscula medusa caribenha, Tripedalia Cystophora, pode aprender por associação, evitando obstáculos com base em pistas visuais e mecânicas.

Esta descoberta desafia muitas de nossas suposições tradicionais sobre cérebro, aprendizado e cognição. Afinal, quem poderia pensar que um ser tão simples poderia exibir um tipo de aprendizado associativo, algo que até então associávamos principalmente a seres com sistemas nervosos mais complexos? Para colocar em contexto, o aprendizado associativo, popularizado pelo neurologista Ivan Pavlov e seus experimentos com cães no final do século XIX, é uma forma pela qual um animal aprende a associar um estímulo a outro por meio de treinamento.

De humanos a pássaros, passando por polvos e até insetos, muitos têm a capacidade de aprender desta maneira. Mas, a recente descoberta com as medusas nos faz questionar: será que realmente precisamos de um cérebro para aprender e processar informações de maneira complexa?

Especialistas de várias partes do mundo estão fascinados, sugerindo que este poder de aprendizado associativo pode estar presente em toda a linhagem de cnidários, o grupo ao qual pertencem as medusas e as anêmonas do mar.

E o que um verme pode dizer sobre nosso cérebro humano? Não estamos tirando onda, não. A ciência diz que pode dizer e muito! Clica aqui e confere!

Aprendendo sem um cérebro

Em nossa contínua exploração do fascinante mundo das medusas, um experimento realizado com anêmonas-do-mar por Botton-Amiot, neurobióloga da Universidade de Friburgo, na Suíça, e sua equipe merece destaque. As anêmonas foram treinadas para associar uma luz brilhante a um choque elétrico, mas tem um problema importante levantado por Jan Bielecki, um eletrofisiologista da Universidade de Kiel: Ele questiona a relevância biológica do aprendizado observado nesse contexto já que esse tipo de estímulo não é algo natural no ambiente natural das anêmonas. Bielecki, que é coautor do estudo com as medusas, destaca o quão essencial é manter os experimentos o mais natural possível para o organismo em estudo, – cuidado que ele diz terem tomado com as medusas.

Capturando a essência natural da T. Cystophora, que busca minúsculos crustáceos entre as raízes dos manguezais, os pesquisadores recriaram este habitat, utilizando tanques cilíndricos com listras verticais, reminiscentes de raízes de manguezais em águas claras ou turvas. 

Em ambientes que simulavam águas turvas, as medusas frequentemente colidiam com as paredes, mas a natureza, em sua adaptabilidade, mostrou seu poder. Depois de vários choques, as medusas ajustaram seu comportamento, aprendendo a se mover rapidamente para longe das paredes ao perceberem uma proximidade excessiva. Foi essa combinação de estímulos visuais e mecânicos que desencadeou tal aprendizado sem um cérebro!

Bielecki vê esses resultados como algo esperado. Em sua perspectiva, esta aprendizagem é fundamental para a sobrevivência básica das medusas, especialmente em águas turvas onde seus olhos simples têm dificuldade em detectar obstáculos. 

Cheng, investigador de comportamento animal na Universidade Macquarie, em Sydney, Austrália, e Botton-Amiot, concordam sobre a relevância biológica do estudo das medusas pelo procedimento adotado, simulando a natureza tanto quanto possível.

Estas investigações no mundo das medusas têm revelado surpresas e desafiado nossas suposições sobre a capacidade de aprendizagem sem um cérebro.

As implicações do aprendizado sem cérebro

Reprodução: Nature – A água-viva (ou medusa) caribenha (Tripedalia Cystophora ) | Crédito: Jan Bielecki

Rhopalia é como se fosse ‘cérebro-olho‘ das medusas. São estruturas, com seus seis olhos rudimentares e centros nervosos que controlam os impulsos de natação, foram o centro da investigação. 

Ao isolar os rhopalia e expô-los a estímulos visuais de barras cinzentas em movimento, Bielecki conseguiu mapear a atividade nervosa em resposta a esses estímulos. Um detalhe surpreendente foi que ele também simulou o “choque” que uma medusa sentiria ao esbarrar em algo, utilizando um leve estímulo elétrico.

O que é ainda mais surpreendente é a capacidade desses rhopalia isolados de serem treinados. Assim como suas contrapartes vivas nos tanques, eles associaram um ‘choque’ elétrico à aparição de uma barra cinzenta, e, após um breve período de treinamento, eles aumentaram a frequência de seus impulsos de natação apenas com o estímulo visual. Esta descoberta levou Bielecki a concluir que os rhopalia são, de fato, o “cérebro-olho” onde o aprendizado ocorre nas medusas

As implicações e perguntas que emergem desta pesquisa são vastas. Botton-Amiot, por exemplo, quer saber como o T. cystophora coordena o aprendizado entre seus quatro rhopalia? E quanto à retenção dessa aprendizagem? Por quanto tempo permanece? Cheng, por sua vez, acredita que ainda temos muito a descobrir sobre esse tipo de aprendizado sem cérebro. Ele vê um vasto potencial em identificar os genes e vias bioquímicas envolvidos, o que poderia nos ajudar a rastrear as origens evolutivas da aprendizagem.

Olhando para o futuro, Bielecki tem objetivos práticos em mente, considerando a possibilidade de aplicar suas descobertas sobre o aprendizado das medusas a sistemas não biológicos. Imagine robôs que reconhecem padrões inspirados na maneira como as medusas aprendem, – sem cérebro! Ele sugere que os rhopalia podem ser a fonte de inspiração para a tecnologia, indicando que deseja “colocá-los em um chip“.

A aparente simplicidade das medusas tem muito a nos ensinar! Tá certo que a complexidade do cérebro nos desperta muita curiosidade, mas os organismos mais simples também não ficam atrás!

Tendemos a achar que a evolução da robótica e da inteligência artificial, por exemplo, depende muito de entender o cérebro humano, mas parece que existem outras alternativas que podem mudar o jogo! É a natureza nos mostrando que até as coisas mais simples podem ser bem complexas, né?

Fonte: Nature

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