Vamos falar de ciência, mais especificamente de astronomia, mas é sobre um assunto que é quase lúdico: as estrelas!
Já se perguntaram por que algumas estrelas cintilam em tons vibrantes enquanto outras simplesmente não?
Acontece que os segredos das estrelas não são tão misteriosos quanto você poderia pensar. De vermelhos suaves a azuis brilhantes, essas cores celestes são mais do que apenas um espetáculo para os olhos, elas nos dão uma compreensão mais profunda do universo. Olha como a ciência desvenda esse mistério!
O vasto céu noturno apresenta um espectro de cores que vai dos sedutores vermelhos aos vivos azuis. E por que esse show de cores? Acredite ou não, essas cores são como o próprio “termômetro” da estrela. A cor de uma estrela pode indicar sua temperatura e quão intensa é sua chama. Curiosamente, enquanto nossos céus estão pontilhados de inúmeras estrelas, apenas algumas ostentam orgulhosamente suas cores, a maioria brilha no clássico branco.
Shakespeare parece ter cantado a bola: Em Julius Caesar, tem o trecho “Os céus estão pintados com faíscas incontáveis, todos são fogo e cada um brilha”. E por “fogo” não estamos falando sobre estrelas pegando fogo ou algo do tipo. É mais sobre as temperaturas que alcançam graças à fusão termonuclear em seus núcleos. Parece que naquela época ele já deu a entender que a intensidade ou o “calor” de uma estrela ajuda a definir sua cor, né?
Para aqueles que gostam de anedotas históricas, antigos astrônomos recorreram a exemplos da vida cotidiana para entender este fenômeno celestial. Pense em uma barra de ferro numa forja. Inicialmente, ela brilha em vermelho. Conforme esquenta, torna-se laranja, depois amarela e, finalmente, branca incandescente. Assim, supunham eles, era como as estrelas se comportavam (menos o derretimento, claro!). Bem, como se vê, eles não estavam totalmente errados!
Avançando para o século XIX, o jogo mudou com a introdução dos espectros que os astrônomos começaram a observar. Isso envolveu o uso de prismas ou grades nos telescópios para dividir a luz das estrelas em suas cores constituintes. É como dissecar um arco-íris em nome da ciência! Ao criar gráficos da luminosidade desses espectros, tornou-se mais fácil medir e analisar as cores das estrelas com precisão.
Acontece que classificar as estrelas de acordo com esse gráficos não era nada fácil, e aí Annie Jump Cannon entra em cena, e graças à sua simplificação daqueles gráficos foi possível uma classificação das estrelas com base em sua temperatura. O trabalho de Cannon abriu caminho para a astrônoma Cecilia Payne-Gaposchkin, que pode então deduzir que as estrelas eram principalmente feitas de hidrogênio e hélio. Essa revelação mudou a ciência, e foi a pedra fundamental sobre a qual a astronomia moderna foi construída.
O resultado dessa evolução da astronomia foi um sistema de classificação que, embora um pouco complicado para os estudantes memorizarem, ajuda os astrônomos a categorizar as estrelas das mais quentes para as mais frias. E eles usaram a sequência cativante O, B, A, F, G, K, M, L, T, Y. Por exemplo, Vega com sua aura azulada é uma estrela do tipo A. Arcturus exibe suas credenciais laranja do tipo K, enquanto Antares brilha em um hipnotizante tom vermelho do tipo M.
Falando de temperaturas: Quão quente é “quente” no mundo da astronomia? Estrelas do tipo M, que são consideradas as mais frias, têm uma temperatura que varia de 2.100 a 3.400°C. No outro extremo do espectro, as estrelas do tipo O, incandescentes, podem chegar a mais de 100.000°C! E aqui vai a reviravolta divertida: no mundo estelar, “vermelho quente” é o mais frio que pode ficar.
A astronomia desperta curiosidade, né?
Aqui somos curiosos, e como você aí também pode ser, vamos deixar a classificação completa e uma diquinha usada pelos astrônomos para nunca esquecer a sequência. Eles usam a frase “Oh Be A Fine Girl/Guy, Kiss Me Like That Yo!” para ajudar a lembrar a ordem abaixo:
- O: Estas são as estrelas mais quentes, com temperaturas de superfície em torno de 30.000 a 60.000°C. Emitindo em um tom quase azul-branco, são caracterizadas por linhas fortes de hélio ionizado em seus espectros.
- B: Estrelas de tipo B têm temperaturas entre 10.000 a 30.000°C e emitem uma luz azulada. O hélio neutro é a característica dominante em seus espectros.
- A: Com temperaturas de 7.500 a 10.000°C, as estrelas de tipo A são brancas ou azul-branco. Elas possuem linhas espectrais fortes do hidrogênio.
- F: Essas estrelas têm uma cor branco-amarelada e temperaturas de 6.000 a 7.500°C. O espectro delas tem a presença tanto de hidrogênio quanto de metais ionizados.
- G: Estas são as estrelas amarelas com temperaturas variando de 5.200 a 6.000°C. Nosso Sol é uma estrela de tipo G. Seu espectro apresenta linhas de hidrogênio mais fracas, mas tem muitas linhas de metais neutros e ionizados.
- K: Estrelas de tipo K são de cor laranja com temperaturas de 3.700 a 5.200°C. Seus espectros são dominados por linhas de metais neutros e muito poucas linhas de hidrogênio.
- M: São as estrelas vermelhas e são mais frias que as outras, com temperaturas de 2.400 a 3.700°C. Elas têm bandas moleculares muito fortes e linhas de óxido de titânio.
- L: Estrelas de tipo L são estrelas marrons-avermelhadas. Elas são mais frias que as estrelas de tipo M, e muitas de suas características espectrais são definidas por metais e moléculas. Elas têm temperaturas entre 1.300 e 2.400°C.
- T: Estas são também estrelas marrons, mas são ainda mais frias, com temperaturas entre 700 e 1.300°C. São caracterizadas por uma abundância de metano em seus espectros.
- Y: O tipo espectral Y é o mais recente e representa estrelas marrons extremamente frias, com temperaturas abaixo de 700°C. Elas foram descobertas recentemente e ainda são alvo de muitas pesquisas.
Como a ciência é só curiosidade…
…Aqui vai mais um fato curioso: ao olhar para as estrelas, você pode estar perdendo suas verdadeiras cores. Não é culpa delas, é culpa da pecinha aqui na Terra: nós! Ou mais precisamente, nossos olhos.
Os bastonetes em nossos olhos detectam luz, especialmente em condições de pouca luz, enquanto os cones percebem a cor, mas tem um porém: Os cones precisam de mais luz para fazer seu trabalho. Então, para muitas estrelas, embora possam ser brilhantes o suficiente para se registrarem em nossos bastonetes, elas nem sempre ativam nossos cones, fazendo com que pareçam brancas.
Há uma estrela, chamada Fomalhaut na constelação Piscis Austrinus, que é uma das poucas que pode parecer azul para alguns, mas fatores como a qualidade da visão individual, as condições atmosféricas e até mesmo sua localização geográfica podem afetar o que você vê. Mas nem tudo está perdido. Um binóculos ou um telescópio podem transformar aquelas estrelas aparentemente brancas em um leque de cores.
Será que a astronomia tirou o encanto das noites contemplando as estrelas? Claro que não, né! A ciência ajuda a explicar o universo, mas o sentido lúdico das coisas que atribuímos às coisas é que deixam a vida ainda mais bonita!
Fonte: Scientific American