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Casas ancestrais carbonizadas de cerca de 3000 anos preservadas pela lama

Ao buscar entender nossos ancestrais, poucos achados da arqueologia conseguem capturar a imaginação como Must Farm, perto da pequena cidade de Whittlesey, um assentamento da Idade do Bronze localizado no leste da Inglaterra que pegou fogo há quase 3000 mil anos. Este sítio, muitas vezes comparado à antiga cidade de Pompeia, é uma oportunidade de investigação sobre a vida cotidiana de nossos ancestrais, como viviam, o que comiam e como construíam suas comunidades.

A descoberta inicial de postes de madeira antigos em 1999, na pedreira de Must Farm, nos arredores de Whittlesey, sugeriu algo notável escondido sob a superfície. No entanto, foi apenas em 2015 que uma escavação em grande escala, conduzida por Chris Wakefield, arqueólogo Universidade de York, que, junto à sua equipe, começou a revelar a magnitude do que jazia enterrado. 

Os pesquisadores descobriram os restos estruturais de quatro grandes casas redondas, estruturas circulares construídas principalmente de madeira, com telhados cônicos de palha. Estas casas, datadas de entre 3000 e 2800 anos atrás, eram sustentadas por estacas e conectadas por passarelas de madeira sobre um pequeno rio, indicando uma sofisticação surpreendente na arquitetura da comunidade da época.

Pelo tamanho verificado do canal, há uma perspectiva que sugere que à época, pode ter havido cerca de 10 dessas casas chamadas roundhouses, casas que se caracterizavam principalmente pela sua forma circular, conhecidas por terem um único espaço interno que servia para várias funções diárias, como viver, cozinhar e dormir. 

Fogo e lama preservaram as ancestrais

Reptodução: NewScientist – Ilustração representando a vida cotidiana em uma das estruturas da Must Farm – Judith Dobie/Inglaterra Histórica

A análise dos anéis das árvores nos restos das estruturas sugere que o assentamento foi destruído por um incêndio apenas um ano após sua construção, mas a sua queda na água lamacenta abaixo proporcionou um ambiente privado de oxigênio que preservou de forma excepcional seus conteúdos.

Esta condição de preservação, aliada à carbonização dos objetos, criou uma cápsula do tempo, permitindo-nos uma visão sem precedentes da vida nesta comunidade. As disposições dos objetos na lama revelaram detalhes íntimos da organização das casas: a cozinha geralmente localizada na parte leste, a área de dormir no noroeste e os currais para o gado no sudeste.

As análises químicas dos utensílios de cozinha de nossos ancestrais, incluindo potes, tigelas, copos e jarros, nos oferecem um vislumbre das dietas pré-históricas, indicando uma alimentação baseada em mingaus, cereais, mel e ensopados preparados com carne bovina, ovina e peixe. 

A Dra. Rachel Pope, arqueologista da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, destaca este achado como a melhor evidência que temos para entender as práticas alimentares e de cozimento pré-históricas, aproximando-nos de como seria entrar nessas grandes casas redondas há 3000 anos atrás.

Cada casa continha um kit de ferramentas essenciais para a sobrevivência e construção, incluindo machados, foices e navalhas. Um dos achados mais notáveis foi um machado com cabo de duas partes, permitindo a substituição da cabeça do machado, o que aponta para a inovação e habilidade técnica da época. Além disso, os tecidos encontrados no local, de uma muita qualidade qualidade e textura aveludada, o que sugere uma sofisticação rara para o período.

Também foram encontradas contas decorativas que possivelmente adornavam colares, indicando não apenas um alto nível de habilidade artesanal, mas também a possibilidade de comércio com regiões distantes da Europa e talvez até do Oriente Médio.

A comparação do assentamento de Must Farm com Pompeia não é exagerada. Assim como a antiga cidade romana, Must Farm oferece uma nos remete a uma visão de nossos ancestrais que parece ter sido congelada no tempo, permitindo-nos uma visão de aspectos íntimos da vida cotidiana pouco antes da catástrofe do incêndio. Michael Parker Pearson, da University College London, e Richard Madgwick, da Universidade de Cardiff, ambos no Reino Unido, reiteram a importância única deste sítio, com Madgwick sugerindo que talvez nunca encontremos outro local que nos conte mais sobre a Grã-Bretanha da Idade do Bronze.

Must Farm nos dá uma possibilidade de compreensão do passado, revelando a complexidade das vidas de nossos ancestrais há milhares de anos, oferecendo uma oportunidade única de investigarmos a vida na Idade do Bronze.


Fonte: NewScientist

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