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Cérebros conectados? Veja o que a ciência diz sobre isso

Recentemente, falamos aqui no blog que a neurociência está avançando no conhecimento do cérebro para coisas incríveis como diagnósticos precoces de Alzheimer.

Agora queremos te contar sobre outras perguntas que a galera das neurociências também estão procurando responder: Será que esse lance de “estar na mesma sintonia” com outra pessoa é real mesmo? Como isso acontece e por que é relevante?

Créditos: Kauê Peinado para Futuro Relativo

Você já ouviu falar sobre sincronia de ondas cerebrais? Algo mais ou menos assim: quando interagimos, nossas ondas cerebrais podem começar a “dançar a mesma dança”, sincronizando seus ritmos de uma forma incrivelmente ressonante. É como se estivéssemos realmente na mesma frequência! E agora, parece que podemos afirmar isso cientificamente.

Parece que muito mais do que padrões de pensamento, existe uma sincronia entre os cérebros!

A ciência olhando para os cérebros na coletividade

Até pouco tempo atrás, os neurocientistas costumavam investigar um cérebro por vez. Observavam, por exemplo, como os neurônios disparavam enquanto uma pessoa lia palavras específicas ou jogava um videogame. Mas aí começaram a considerar que nós, como seres sociais, cada vez mais, fazemos muitos trabalhos juntos, criando hipóteses, resolvendo problemas e ajustando experimentos, por exemplo. E é exatamente por isso que a ciência teria que começar olhar a partir dessa perspectiva.

A chamada neurociência coletiva está crescendo rapidamente, e um dos primeiros resultados é que, quando as pessoas conversam ou compartilham uma experiência, as ondas cerebrais delas sincronizam. Ou seja, os neurônios em localizações correspondentes dos diferentes cérebros disparam ao mesmo tempo, criando padrões correspondentes. É como se fossem dançarinos se movendo juntos.

Por exemplo, em salas de aula onde os alunos estão engajados com o professor, os padrões de processamento cerebral começam a se alinhar com os do professor. E, adivinha? Maior alinhamento pode significar melhor aprendizado. As ondas neurais em certas regiões cerebrais de pessoas ouvindo uma performance musical combinam com as do performer – quanto maior a sincronia, maior o prazer.  Em casais e amigos próximos também ocorrem graus mais altos de sincronia cerebral do que em conhecidos mais distantes.

Essa ciência está evoluindo mas ainda existe muito mistério sobre como essa sincronia acontece no nosso cérebro. Alguns cientistas, inclusive, costumam usar a palavra “mágica” para falar sobre isso. Uma explicação simples poderia ser que a coerência entre os cérebros é resultado de uma experiência compartilhada ou simplesmente um sinal de que estamos ouvindo ou vendo a mesma coisa que outra pessoa. Mas as pesquisas mais recentes apontam que há mais que isso.

Pesquisadores estão olhando para esse fenômeno em humanos e outras espécies, e estão mapeando sua coreografia – seu ritmo, tempo e ondulações – para entender melhor quais benefícios ela pode nos trazer. Eles estão encontrando evidências de que a sincronia intercerebral prepara as pessoas para a interação e estão começando a entendê-la como um marcador de relacionamentos.

O cérebro e a ressonância

Antes de começar….

Para entender o que vamos te contar a seguir é importante saber o que é um fMRI: Trata-se de uma técnica de neuroimagem não invasiva que permite aos cientistas medir a atividade cerebral em tempo real, através da medição de mudanças no fluxo sanguíneo no cérebro, que é um marcador indireto da atividade neural. Quando uma área do cérebro é ativada, ela requer mais oxigênio, o que leva a um aumento no fluxo sanguíneo para essa área. O fMRI pode detectar essas mudanças no fluxo sanguíneo e as usa para criar uma imagem da atividade cerebral.

Dito isso…

Em dezembro de 2022, um jornalista científico sentou-se em um aparelho de ressonância magnética funcional (fMRI) na Universidade de Harvard. Ele estava lá para participar de um estudo pioneiro sobre como a comunicação entre duas pessoas afeta seus cérebros.

O jornalista foi conectado a um fMRI, que rastreou sua atividade cerebral enquanto ele se comunicava com um parceiro em outro fMRI em Dartmouth College. O parceiro era um neurocientista que também estava participando do estudo.

Os dois participantes foram instruídos a contar uma história juntos em turnos alternados de 30 segundos. Enquanto contavam a história, os cientistas observaram que os cérebros dos dois participantes se sincronizavam. Isso significava que os padrões de atividade cerebral dos dois participantes eram semelhantes e aumentavam enquanto interagiam um com o outro. Isso sugere que a comunicação entre duas pessoas pode estimular a atividade cerebral.

Os cientistas estão agora analisando os dados do estudo para aprender mais sobre como exatamente a comunicação influencia a atividade do nosso cérebro.

O que os cérebros dos morcegos mostram

Em um laboratório na Universidade da Califórnia, Berkley, o neurocientista Michael Yartsev e o pesquisador pós-doutorado Wujie Zhang monitoraram o comportamento e a atividade cerebral de morcegos-de-ferradura em um ambiente de laboratório. Eles descobriram que os morcegos sincronizavam sua atividade cerebral quando voavam juntos, se comunicavam vocalmente ou se envolviam em comportamentos sociais, como acasalamento ou brigas.

A sincronização entre os cérebros tem sido observada em humanos e em outros animais, mas este é o primeiro estudo que mostra sua ocorrência em morcegos.

Os pesquisadores acreditam que o fenômeno nos cérebros dos morcegos pode ser um sinal de que os animais estão compartilhando informações ou coordenando suas ações. Ela também pode ser um mecanismo que os ajuda a se comunicar e a se adaptar ao seu ambiente.

Os resultados do estudo de Yartsev e Zhang fornecem novos insights sobre a cognição social dos morcegos, e também podem ajudar a entender como a sincronização cerebral funciona em outros animais, incluindo humanos.

O que a neurociência mostrou sobre o “eu” e sobre “o outro”

Uma pesquisa fascinante envolvendo cérebros humanos e de animais na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, liderada pelo pesquisador neurocientista Weizhe Hong, foi realizada para entender como o cérebro de diferentes indivíduos se sincronizam durante a interação. 

Eles utilizaram uma tecnologia chamada microendoscopia de imagem de cálcio, que mede mudanças na fluorescência induzida em neurônios individuais.

Hong e sua equipe focaram em dois tipos de células no córtex pré-frontal dos ratos, chamadas de “células do eu” e “células do outro”. As primeiras codificam o comportamento do próprio indivíduo, enquanto as segundas, o comportamento de outro indivíduo. Durante uma interação social, eles notaram que a atividade dessas células nos ratos interagindo se sincronizava.

A parte realmente interessante é que eles descobriram que essa sincronia pode prever os resultados de futuras interações. Por exemplo, em testes onde dois ratos competiam pelo domínio de um tubo, havia maior sincronia cerebral entre ratos com status sociais muito diferentes (um dominante e um submisso) do que entre ratos com status mais semelhantes. Essa observação foi tão consistente que eles podiam prever, baseados no nível de sincronia, qual rato dominaria e quanta vantagem ele teria em poucos minutos de interação.

Esse tipo de pesquisa é uma evolução nos estudos do cérebro, com os chamados “neurônios-espelho“, células cerebrais que são ativadas quando observamos outra pessoa realizando uma ação. A nova descoberta de Hong sugere que temos células cerebrais dedicadas exclusivamente a codificar o comportamento do próprio indivíduo ou de outro. Bem intrigante, né?

Por que a ciência está olhando para a sincronia dos cérebros

Um outro novo estudo está sendo feito, envolvendo duas pessoas que estão em scanners separados, enquanto elas criam uma história juntas. Os pesquisadores descobriram que as pessoas que se sincronizam mais têm mais probabilidade de ter histórias mais criativas, apontando que a conversação pode, de fato, sincronizar os padrões de atividade no cérebro. 

Em um estudo anterior, os participantes assistiram a clipes de filmes mudos e depois discutiram os clipes em grupos. Depois das discussões, os padrões de atividade cerebral dos participantes se alinharam quando eles assistiram aos clipes novamente.

Os pesquisadores acreditam que a sincronia é uma parte importante da interação social humana, e quem sem ela podemos ser mais propensos a problemas de saúde mental e física, porque essa sincronia nos ajuda a aprender, ensinar, fazer amigos, ter relacionamentos românticos e cooperar uns com os outros. E embora os estudos ainda estejam em andamento, os resultados preliminares são muito promissores. 

Parece que a ciência está comprovando, com base em nosso cérebro, que somos seres sociais, né?

Fonte: Scientific American

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