A poluição por plásticos nos oceanos é uma problemática amplamente discutida e preocupante nos dias de hoje. E agora uma nova dimensão desse problema veio à tona com uma descoberta surpreendente: os plânctons, pequenos organismos aquáticos, estão desempenhando um papel inesperado na fragmentação do plástico em partículas ainda menores, conhecidas como nanoplásticos.
Essa descoberta, publicada na Nature Nanotechnology, no dia 9 de novembro, traz uma nova perspectiva sobre os desafios enfrentados no combate à poluição por plásticos.
Neste estudo, cientistas alimentaram rotíferos, um tipo de plâncton, com pequenos pedaços de plástico fluorescente e acompanharam o processo de fragmentação. De forma alarmante, observaram que, em apenas um dia, um único rotífero em um ambiente rico em plástico pode produzir mais de 300.000 partículas de nanoplástico, cada uma menor que um micrômetro – uma fração do tamanho de uma célula sanguínea humana. Esta rápida transformação de microplásticos em nanoplásticos é uma preocupação crescente dentro do maior problema da poluição por microplásticos, – que variam em tamanho de um micrômetro a cinco milímetros.
O tamanho diminuto dos nanoplásticos é particularmente alarmante no problema da poluição, devido à sua escala microscópica, o que permite que essas partículas possam infiltrar-se facilmente no sistema sanguíneo e nos pulmões, além de serem ingeridas por animais menores, acumulando-se ao longo da cadeia alimentar. Esta situação é agravada pela descoberta de que a conversão de microplásticos em nanoplásticos ocorre muito mais rapidamente do que se pensava anteriormente.
Esta pesquisa foi inspirada por um estudo de 2018 sobre o krill antártico, que também mostrou a capacidade de quebrar microplásticos em nanoplásticos. Krill é um termo usado para descrever diversas espécies de pequenos crustáceos marinhos que são importantes componentes dos ecossistemas oceânicos, no caso dos antárticos, trata-se de uma espécie especificamente adaptada e encontrada nas águas frias em torno da Antártica
No entanto, o novo estudo focou em rotíferos em águas mais quentes e poluídas, para entender se o fenômeno observado no krill também ocorreria em diferentes ambientes.
Entendendo a poluição por nanoplásticos
Os rotíferos, escolhidos para o estudo, são organismos comuns nos oceanos e possuem uma estrutura conhecida como trophi – um aparelho especializado para moer sua dieta de algas e outros pequenos organismos. Este mecanismo é crucial na fragmentação do plástico. Diferentemente de certas bactérias e enzimas que digerem o plástico de forma química, transformando-o em compostos benignos, os rotíferos simplesmente fragmentam o plástico fisicamente, criando marcas de arranhões nas partículas e reduzindo-as a tamanhos cada vez menores.
A pesquisa sugere que rotíferos não são os únicos organismos com essa capacidade surpreendente de fragmentar microplásticos, e que, portanto, qualquer organismo com um aparelho de mastigação semelhante poderia ter um processo similar. Isso abre caminho para mais investigações usando uma variedade de espécies, incluindo aquelas que vivem em ecossistemas terrestres, para entender como esse fenômeno está se desdobrando em uma variedade de ambientes, podendo agravar a questão da poluição.
Esses resultados são um passo importante para compreender o que acontece com o plástico ao longo de sua vida útil, que pode chegar a centenas de anos no meio ambiente. Ainda há muito a descobrir sobre os diferentes caminhos que os plásticos tomam uma vez que entram em nossos oceanos e outros ecossistemas causando a poluição. Este estudo destaca uma dessas vias, mostrando como a vida microscópica pode ter um impacto enorme na disseminação da poluição por plásticos.
Além de aumentar nossa compreensão sobre a poluição por plásticos, a pesquisa também ressalta a importância de não subestimar os pequenos e estranhos organismos com os quais compartilhamos nosso planeta.
Estas criaturas microscópicas, muitas vezes ignoradas ou desconhecidas pelo público em geral, estão desempenhando um papel crítico na transformação e no impacto dos resíduos plásticos nos ecossistemas marinhos.
Em suma, enquanto o mundo luta para lidar com a crescente crise dos resíduos plásticos que causam tanta poluição, estudos como este revelam camadas adicionais de complexidade, mostrando como a interação entre organismos vivos e poluentes pode levar a consequências imprevistas, aumentando a urgência de encontrar soluções eficazes para a poluição por plásticos.
Fonte: Scientific American