O declínio cognitivo é um aspecto importante a ser observado para manutenção da saúde mental na velhice. E ao que parece, o que fazemos antes de nos tornamos idosos, vai ditar como será nossa vida na maturidade.
Em um mundo onde as demandas profissionais e as expectativas de carreira estão constantemente evoluindo, e muitos se sentem obrigados a aprender coisas novas constantemente, uma nova pesquisa surge com um incentivo adicional para buscar trabalhos que desafiem o intelecto.
Segundo um estudo conduzido pela Universidade Hospitalar de Oslo, o tipo de trabalho que realizamos durante nossas décadas produtivas, especificamente dos 30 aos 60 anos, pode ter um impacto significativo na saúde cognitiva na terceira idade.
A pesquisa, publicada na edição online de 17 de abril deste ano da revista Neurology, analisou mais de 7.000 indivíduos acima dos 70 anos, dsitribuídos por 305 ocupações diferentes na Noruega, e trouxe insights valiosos sobre como as demandas cognitivas no trabalho podem influenciar o risco de desenvolver comprometimento cognitivo leve (CCL) após os 70 anos.
O estudo categorizou as ocupações com base na natureza das tarefas executadas: manuais rotineiras, cognitivas rotineiras, analíticas não rotineiras e interpessoais não rotineiras. Através dessa classificação, foi possível observar que profissões como o ensino, que exige alto nível de demanda cognitiva, apresentavam taxas mais baixas de CCL em comparação com funções menos exigentes, como a de carteiro ou zelador.
Os participantes com mais de 70 anos participaram de testes de memória e pensamento para avaliar se apresentavam comprometimento cognitivo leve. Daqueles com maiores demandas cognitivas, 27% foram diagnosticados com comprometimento cognitivo leve, já dentre aqueles com as exigências cognitivas mais baixas, 42% foram diagnosticados com comprometimento cognitivo leve. A análise ajustada para idade, sexo, educação, renda e fatores de estilo de vida revelou que indivíduos em empregos menos desafiadores tinham 66% mais chances de desenvolver CCL em comparação com seus pares em posições de alta demanda cognitiva.
Os achados do estudo reforçam a noção de que o trabalho intelectualmente estimulante pode funcionar como um fator de proteção contra o declínio cognitivo mais tarde na vida. Trine Holt Edwin, médica, PhD, autora do estudo e pesquisadora na Universidade Hospitalar de Oslo, destacou a importância de ocupações que requerem pensamento complexo como um meio de manter a memória e as capacidades de raciocínio na velhice. Ela salienta que “Esses resultados indicam que tanto a educação quanto o trabalho que desafia seu cérebro durante sua carreira desempenham um papel crucial na redução do risco de comprometimento cognitivo mais tarde na vida.”
Um argumento contra o declínio cognitivo
Apesar dos resultados promissores, a própria Edwin adverte que, embora o estudo mostre uma associação clara, ele não prova que o trabalho estimulante previne o CCL, mas sim que existe uma correlação entre ambos. Além disso, o estudo reconhece que mesmo dentro de títulos de trabalho idênticos, os indivíduos podem desempenhar tarefas variadas e experimentar diferentes demandas cognitivas, o que sugere a necessidade de uma análise mais detalhada das atividades específicas que contribuem para a proteção cognitiva.
Uma direção futura crucial para a pesquisa será identificar quais tarefas ocupacionais específicas são mais benéficas para manter habilidades de pensamento e memória, possibilitando intervenções mais direcionadas no ambiente de trabalho que possam beneficiar a saúde cognitiva a longo prazo.
Este estudo sugere uma ideia muitas vezes subexplorada em discussões sobre a saúde na terceira idade: o que fazemos na maior parte de nossas vidas ativas tem um impacto duradouro, não apenas em nossa saúde física, mas também em nossa capacidade cognitiva. Com o envelhecimento da população global, entender como as atividades profissionais influenciam a saúde mental é mais crucial do que nunca.
Fonte: Neuroscience News