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O efeito do estresse no sistema imunológico: Entenda a conexão entre cérebro e microbioma

O estresse é um fenômeno comum na vida moderna, considerando que enfrentamos uma série de desafios profissionais e pessoais. O que vale levar em conta é que o estresse não afeta apenas o bem-estar mental, mas também pode comprometer seriamente o sistema imunológico. Novos estudos revelam que o estresse leva a uma desordem no microbioma intestinal, o que, por sua vez, provoca inflamação e diminui a capacidade do corpo de combater infecções.

O microbioma intestinal é um ecossistema complexo de trilhões de microrganismos, incluindo bactérias, vírus e fungos, que habitam o trato gastrointestinal. Ele desempenha um papel crucial na digestão, na produção de vitaminas e na proteção contra patógenos, e é essencial para o sistema imunológico, pois ajuda a regular as respostas imunológicas, mantendo um equilíbrio saudável e evitando inflamações desnecessárias. A desordem desse microbioma causada pelo estresse pode levar a uma série de problemas de saúde, dentre eles a menor capacidade de combater infecções.

Uma pesquisa realizada em ratos mostrou que o estresse pode fazer com que as pessoas se sintam doentes, com as bactérias intestinais desempenhando um papel crucial nesse processo. Os cientistas descobriram que o cérebro sob estresse desativa diretamente certas glândulas no intestino, afetando as bactérias intestinais e, consequentemente, o sistema imunológico do corpo. Este estudo foi descrito por John Cryan, neurocientista da University College Cork na Irlanda, como um “obra prima técnica”, destacando-se por investigar como estados psicológicos podem exercer controle “de cima para baixo” sobre as bactérias intestinais.

Há muito tempo, os pesquisadores sabem que o intestino e o cérebro “conversam” entre si. Em situações de estresse, o cérebro estimula a liberação de hormônios que podem desencadear condições intestinais inflamatórias. Por outro lado, certas bactérias no intestino podem liberar sinais químicos que afetam o cérebro e o comportamento.

No entanto, os caminhos de comunicação neural entre o intestino e o cérebro ainda não são bem compreendidos. Para explorar isso, o neurocientista Ivan de Araujo, do Instituto Max Planck de Cibernética Biológica em Tübingen, Alemanha, e sua equipe focaram em pequenos órgãos chamados glândulas de Brunner, localizados nas paredes do intestino delgado. Essas glândulas produzem muco e contêm numerosos neurônios, mas pouco se sabe sobre elas além disso.

A equipe de De Araujo descobriu que remover essas glândulas em ratos os tornava mais suscetíveis a infecções e aumentava os marcadores de inflamação, um dilúvio de substâncias químicas e células imunes que podem danificar tecidos. Esse efeito também foi observado em humanos: pessoas que tiveram tumores removidos da parte do intestino que contém as glândulas de Brunner apresentaram níveis mais altos de glóbulos brancos, um indicador de inflamação, em comparação com aquelas que tiveram tumores removidos de outras áreas.

Análises mais detalhadas mostraram que a remoção das glândulas de Brunner em ratos eliminou bactérias do gênero Lactobacillus, que vivem no intestino delgado. Em um trato gastrointestinal saudável, as Lactobacilli estimulam a produção de proteínas que atuam como argamassa entre as células que revestem o intestino, mantendo a maioria dos conteúdos intestinais dentro, enquanto permitem que certos nutrientes entrem na corrente sanguínea. Mas quando as Lactobacilli desaparecem, o intestino se torna “vazado”, permitindo que substâncias que não deveriam entrar no sangue o façam. O sistema imunológico ataca essas moléculas estranhas, causando a inflamação e a doença observadas em ratos sem as glândulas de Brunner.

Os pesquisadores então examinaram os neurônios das glândulas de Brunner e descobriram que eles se conectam a fibras no nervo vago, uma via de comunicação entre o intestino e o cérebro. Essas fibras correm diretamente para a amígdala do cérebro, que está envolvida nas respostas emocionais e ao estresse.

No final de 2023 foram publicados estudos que apontam que o cérebro e o corpo estão ainda mais conectados do que pensávemos! Clica aqui para ler!

Efeitos do estresse: Cérebro e Glândulas de Brunner

Quando ratos com glândulas de Brunner intactas foram submetidos a estresse crônico, os níveis de Lactobacillus caíram e a inflamação aumentou, sugerindo que o estresse havia desligado as glândulas de Brunner. Este resultado foi impressionante, destacando a linha direta entre o cérebro sob efeito do estresse, as glândulas intestinais, as bactérias e o sistema imunológico.

As descobertas desta pesquisa têm importantes implicações para o tratamento de distúrbios relacionados ao estresse, como a doença inflamatória intestinal. O grupo de Araujo agora está estudando se o estresse crônico afeta essa via em bebês, que recebem suas Lactobacilli através do leite materno. A hipótese é que essas glândulas são importantes para o desenvolvimento normal e a função imunológica desde cedo.

A especificidade da conexão entre o cérebro, as glândulas de Brunner, as bactérias e o sistema imunológico é surpreendente. Entender esses caminhos específicos pode ajudar os pesquisadores a explorar por que algumas pessoas são mais resilientes ao estresse do que outras e a desenvolver novas abordagens para tratar condições relacionadas ao estresse. 

Fonte: Nature

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