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Estimulação do cérebro com IA melhora foco em casa: inovação acessível e personalizada

Você já se pegou lutando com seu cérebro para manter a atenção durante uma tarefa importante, mesmo em um ambiente relativamente tranquilo? Seja para estudar, trabalhar ou concluir uma leitura exigente, manter o foco constante é um desafio crescente na era digital. Pensando nisso, um grupo de pesquisadores das universidades de Surrey e Oxford, em parceria com a startup Cognitive Neurotechnology Ltd, desenvolveu uma solução que pode transformar a forma como lidamos com a atenção no dia a dia: um sistema de estimulação cerebral não invasiva guiado por inteligência artificial (IA), projetado para uso seguro e eficaz em casa.

A proposta da equipe, publicada na npj Digital Medicine, da Nature, é ambiciosa e, ao mesmo tempo, surpreendentemente prática. Usando um tipo suave de estimulação elétrica do cérebro chamado estimulação por ruído transcraniano aleatório (tRNS) e algoritmos de IA que personalizam a experiência para cada indivíduo, o sistema mostrou resultados promissores na melhora da atenção sustentada – especialmente entre pessoas que, inicialmente, apresentavam baixa capacidade de foco.

O funcionamento do sistema é baseado na combinação entre uma tecnologia de estimulação do cérebro já conhecida (tRNS) e uma camada de inteligência adaptativa. Isso significa que a inteligência artificial ajusta automaticamente a intensidade da estimulação de acordo com as necessidades do usuário, como o nível de atenção e o formato da cabeça, tornando o processo mais eficiente e seguro.

A estimulação do cérebro utilizada, chamada tRNS (estimulação por ruído transcraniano aleatório), é um método não invasivo que envia pequenas correntes elétricas aleatórias e suaves pelo couro cabeludo, com o objetivo de ativar áreas do cérebro ligadas à concentração e ao controle da atenção. O procedimento é indolor e não causa desconforto significativo.

O diferencial aqui está no papel da IA aliada ao estímulo do cérebro. Tradicionalmente, definir a intensidade ideal da estimulação cerebral exigiria exames caros e complexos, como ressonância magnética. Esse novo sistema dispensa essa etapa e ajusta a estimulação com base em características simples do usuário, como o tamanho da cabeça e o nível atual de atenção, identificando automaticamente a configuração mais eficaz para cada pessoa. Com isso, o processo se torna escalável, acessível e personalizado, algo inédito nesse tipo de intervenção no cérebro.

Os testes foram realizados com adultos entre 18 e 35 anos, usando um capacete com certificação europeia (CE) e um tablet com tarefas cognitivas. Após treinar o algoritmo com dados de 103 participantes em 290 sessões, os pesquisadores realizaram um estudo controlado com 37 novos voluntários, no formato duplo-cego – ou seja, nem os participantes nem os avaliadores sabiam quem estava recebendo estimulação real ou placebo.

Estimulando o cérebro: Resultados consistentes e seguros

Os resultados foram claros: os participantes que receberam estimulação personalizada guiada por IA tiveram desempenho significativamente melhor nas tarefas de atenção sustentada do que aqueles que receberam estímulos padrão ou placebo. E o mais interessante foi que os maiores ganhos ocorreram entre pessoas que apresentavam inicialmente níveis mais baixos de foco, o que aponta para uma aplicação potencialmente valiosa em perfis com maior dificuldade de concentração.

Além do desempenho, a segurança foi outro ponto forte. Nenhum efeito colateral grave foi registrado, e as sensações relatadas pelos usuários durante a estimulação foram semelhantes às do grupo placebo, geralmente descritas como leves ou praticamente inexistentes. Mais ainda, graças à personalização automática, o sistema evitou níveis de estimulação que poderiam prejudicar a performance, algo que técnicas não personalizadas muitas vezes não conseguem prevenir.

Por que isso importa?

A relevância desse avanço vai além da melhoria pontual da atenção. A tecnologia representa um passo importante na direção de intervenções cognitivas personalizadas, seguras e viáveis para o uso cotidiano. Num cenário em que o excesso de informações, distrações constantes e múltiplas demandas competem pela nossa atenção, uma ferramenta eficaz para otimizar o foco, sem recorrer a medicamentos ou estruturas clínicas, é extremamente valiosa.

Segundo o professor Roi Cohen Kadosh, chefe do Departamento de Psicologia da Universidade de Surrey e fundador da Cognite Neurotechnology,nosso mundo moderno compete constantemente por nossa atenção. O que é empolgante neste trabalho é mostrar que é possível melhorar o desempenho cognitivo de forma segura e eficaz com um sistema personalizado que pode ser usado de forma independente em casa”.

Um panorama de aplicação prática

Com base no sucesso da pesquisa, abre-se um leque de possibilidades práticas para ajudar nosso sérebro! O sistema pode ser usado para melhorar a concentração durante longas sessões de estudo, aumentar a produtividade no trabalho remoto ou até mesmo ajudar em treinamentos de alta exigência mental. E, no futuro, pode evoluir para uso clínico em pessoas com transtornos de atenção, como o TDAH, embora esse não tenha sido o foco do estudo atual.

O uso doméstico é facilitado por um design simples: o usuário veste o capacete, conecta-se ao aplicativo ou tablet, e realiza uma tarefa de atenção enquanto a IA calibra e executa a estimulação do cérebro. Tudo ocorre em um ambiente familiar, sem a presença de técnicos ou necessidade de supervisão médica constante.

Limitações e próximos passos

Embora os resultados sejam promissores, os próprios pesquisadores reconhecem que ainda há etapas a serem vencidas. O número de participantes do estudo clínico foi relativamente pequeno, e é necessário ampliar a base de dados com pessoas de diferentes faixas etárias e contextos socioeconômicos. Também será importante investigar a durabilidade dos efeitos: por quanto tempo o ganho de atenção se mantém após o uso contínuo do sistema?

Além disso, estudos futuros devem explorar a interação entre a estimulação do cérebro e outras variáveis cognitivas e comportamentais – como humor, fadiga, e sono – que afetam diretamente o desempenho atencional.

A proposta de um sistema de estimulação cerebral adaptativo, inteligente e portátil, com uso voltado para o público geral, marca um ponto de inflexão importante na interseção entre neurociência, inteligência artificial e bem-estar mental. 

Ao dispensar estruturas clínicas complexas e permitir o uso autônomo, essa tecnologia inaugura uma nova fase de intervenções no cérebro, mais acessíveis, personalizadas e baseadas em evidências. Ferramentas como essa podem representar uma nova forma de alcançar e manter o foco em meio ao caos cotidiano, com segurança e eficácia.

Fonte: Nature

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