A depressão é muito falada em nossos tempos, e a música pode ter uma influência positiva em pessoas que sofrem desta condição.
Um estudo recente publicado na revista Cell Reports por cientistas na China revela como a música pode sincronizar as oscilações neurais entre regiões do cérebro associadas ao processamento sensorial e emocional, melhorando o humor dos pacientes.
Os pesquisadores focaram em 13 pacientes que sofrem de depressão resistente ao tratamento e que já possuíam eletrodos implantados no cérebro para estimulação profunda. Esses eletrodos foram colocados no prosencéfalo, também conhecido como cérebro anterior, responsável pelo processamento sensorial, controle motor, regulação de funções autonômicas e atividades cognitivas complexas. Os eletrodos foram implantados especificamente em um circuito que conecta duas áreas do prosencéfalo – o núcleo da estria terminal (BNST) e o núcleo accumbens (NAc).
Através desses implantes, os cientistas descobriram que a música gera efeitos antidepressivos ao sincronizar as oscilações neurais entre o córtex auditivo, responsável pelo processamento sensorial, e o circuito de recompensas, que lida com o processamento emocional.
O circuito BNST-NAc, às vezes chamado de “amígdala estendida”, destaca a relação próxima entre esse circuito e a amígdala, uma estrutura central no processamento de informações emocionais. O estudo revelou que a música induz uma sincronização tripla das oscilações neurais no circuito cortical-BNST-NAc através da sincronização auditiva.
Os pacientes foram divididos em dois grupos: um de baixa apreciação musical e outro de alta apreciação musical. O grupo de alta apreciação musical demonstrou uma sincronização neural mais significativa e melhores efeitos antidepressivos, enquanto o grupo de baixa apreciação musical apresentou resultados inferiores. Essa divisão permitiu aos pesquisadores estudar de forma mais precisa os mecanismos antidepressivos da música e propor planos de terapia musical personalizados que melhorassem os resultados do tratamento.
Por exemplo, ao inserir ruído na frequência theta, – que é um tipo de ritmo cerebral na faixa de 4 a 8 Hz associado a estados de relaxamento profundo, meditação, criatividade e certas fases do sono –, na música para aumentar o acoplamento oscilatório BNST-NAc, os pacientes do grupo de baixa apreciação musical relataram maior desfrute da música. Isso sugere que planos de terapia musical personalizados podem ser uma ferramenta poderosa no tratamento da depressão, especialmente quando combinados com outros estímulos sensoriais.
Música e novos tratamentos para depressão
Vários trechos de música clássica ocidental foram utilizados no estudo. Esse tipo de música foi escolhido porque a maioria dos participantes não tinha familiaridade com ela, e os pesquisadores queriam evitar qualquer interferência que pudesse surgir da familiaridade subjetiva. Concluiu-se que as escolhas musicais durante o processo de escuta formal eram individualizadas e não relacionadas ao fundo emocional da música.
As pesquisas futuras também querem investigar a interação entre a música e as estruturas mais profundas do cérebro e se desempenham nos transtornos depressivos, como o observado no cérebro anterior. Os pesquisadores também têm a intenção de introduzir outros tipos de estímulos sensoriais, incluindo imagens visuais, para investigar os possíveis efeitos terapêuticos combinados da estimulação multissensorial na depressão.
A equipe pretende desenvolver uma série de produtos de saúde digital baseados na terapia musical, como aplicativos para smartphones e dispositivos vestíveis. com funções como integração de recomendações musicais personalizadas, monitoramento emocional em tempo real e experiências multissensoriais em realidade virtual para fornecer ferramentas de autoajuda convenientes e eficazes para gerenciar emoções e melhorar os sintomas no dia a dia.
O diretor e professor do Centro de Neurocirurgia Funcional da Universidade Jiao Tong de Xangai, Bomin Sun, enfatizou que o objetivo final é traduzir as descobertas da pesquisa em prática clínica, desenvolvendo ferramentas e aplicações de terapia musical convenientes e eficazes. Sun destacou que essa pesquisa integra os campos da neurociência, psiquiatria e neurocirurgia, fornecendo uma base para qualquer pesquisa que vise a interação entre música e emoção.
Em suma, que as músicas já mexem com nossas emoções não é novidade, mas ao sincronizar as oscilações neurais nas áreas do cérebro responsáveis pelo processamento sensorial e emocional, apontando que a música pode melhorar significativamente o humor de pacientes com depressão, podemos esperar um potencial para além do senso comum da nossa relação com a música.
Fonte: Neuroscience News