Com a popularização da inteligência artificial, as obras de ficção científica ganharam novas nuances. Filmes que mostravam uma realidade muito distante ou irrealizável, já não parece tão impossível, né?
Se você é um daqueles fãs apaixonados por ficção científica que, às vezes, se pega pensando “será que isso realmente pode acontecer?”, vai curtir saber sobre o Caltech Science Exchange, evento da Caltech que rolou no final de setembro.
Com um público de mais de 800 pessoas e quatro especialistas afiadíssimos, o evento “Sci-Fi to Sci-Fact: Artificial Intelligence on the Big Screen” (Ficção-Científica à Realidade: Inteligência Artificial na Tela Grande, em tradução livre) se propôs a desvendar o que é real e o que é puro exagero da ficção científica hollywoodiana quando o assunto é inteligência artificial (IA).
O cenário estava montado: do lado de fora do Beckman Auditorium, robôs do Laboratório Autônomo de Robótica e Controle da Caltech (Caltech’s Autonomous Robotics and Control Lab) encantavam a todos, entusiastas ou não da ficção científica. Além disso, aconteceu uma caça ao tesouro guiada por um aplicativo, alimentado por inteligência artificial.
Os embaixadores da Caltech Science Exchange AI também estiveram disponíveis para tirar dúvidas e conversar com o público sobre seus estudos. Tudo foi pensado para que os visitantes pudessem ter mais contato com as pesquisas da Caltech e com a própria inteligência artificial das várias atividades.
No Beckman Auditorium, Latif Nasser, co-apresentador do premiado podcast Radiolab, WNYC Studios, conduziu o painel que contava com quatro professores do corpo docente da Caltech para desmistificar a ficção científica. Grandes nomes da IA, como DALL-E e ChatGPT, se tornaram os protagonistas da discussão
A intenção dos acadêmicos ali era mostrar a separação entre ficção e realidade, citando personagens carismáticos como WALL-E e C-3PO, além de menções a filmes como Star Wars, De Volta para o Futuro e 2001: Uma Odisséia no Espaço.
Eric Mazumdar, professor assistente de computação, ciências matemáticas e economia, foi categórico ao dizer que um dos maiores clichês do cinema é a ideia dos robôs humanóides. Ele esclareceu que a inteligência artificial de hoje está muito mais presente em nossos celulares, na nuvem e online do que em robôs que se assemelham a humanos que são mostrados na ficção científica.
Latif Nasser trouxe um pouco de humor e nostalgia, apresentando cenas de filmes como “Big Hero 6” e “Her” para comparar com as nossas interações com assistentes virtuais como a Siri, Alexa e ChatGPT, e ficou claro que nenhum deles se assemelha a robôs como Baymax ou assistentes virtuais como Samantha.
Hoje já interagimos diariamente com a IA, muitas vezes sem nem perceber, seja assistindo a um episódio na Netflix, fazendo um pedido na Amazon ou traçando uma rota no Google Maps. Todas essas experiências são otimizadas por sistemas de IA já há algum tempo.
Um ponto alto da discussão foi quando Anima Anandkumar, professora de ciências da computação e matemática, trouxe à tona as revoluções que a IA está promovendo na área da saúde, com a descoberta de novos medicamentos por meio de análise de moléculas e previsão de futuras variantes de vírus. Isso já está mesmo rolando, não tem nada de ficção científica.
Inclusive já tem medicamento que foi para teste clínico em humanos. Você viu? Clica aqui!
Ficção científica e o imaginário sobre a IA
O painel fez questão de abordar as representações sensacionalistas da inteligência artificial no cinema. Quem aqui não se lembra das ameaças em “Matrix” ou “Exterminador do Futuro“? Yisong Yue, professor de computação e ciências matemáticas, com um tom cético, afirmou que muitas destas representações da ficção científica são totalmente descabidas, e que a realidade traz outras preocupações e que os danos potenciais da IA não seriam nada como esses filmes.
Georgia Gkioxari, professora assistente de computação e ciências matemáticas e engenharia elétrica e William H. Hurt Schola, concordando com Yue, menciona o impacto real de filtros de redes sociais na saúde mental das pessoas.
Depois de reproduzidas cenas de WALL-E, Black Mirror e Blade Runner, outro alerta importante veio quando Anandkumar, que atuou diretamente em projetos de combate ao assédio online, destacou um estudo que apontou a presença de vieses em algumas tecnologias de inteligência artificial, como algoritmos de reconhecimento facial. O desafio é claro: como garantir que essas ferramentas sejam justas e não prejudiquem determinados grupos?
Ressaltando o perigo desses vieses, que se afasta muito do imaginário da ficção científica, ela menciona que se essa tecnologia for implantada em âmbito público, ou usadas em, por exemplo, câmeras policiais, esses vieses podem causar situações sérias, de vida ou morte. O que leva ao ponto de atenção extrema para que os dados de treinamento desses sistemas sejam diversos e representativos o suficiente.
A despeito da fantasia da ficção científica, mas sem deixar de reconhecer os desafios a serem superados, os especialistas foram unânimes em reconhecer os méritos da inteligência artificial, ponderando avanços em áreas como saúde, clima e física, salientando que, para cada ponto negativo, existe um positivo.
Gkioxari, que concentra seu trabalho na área de visão computacional, também mencionou as experiências com serviços e recomendações mais personalizadas, incluindo áreas importantes como a saúde.
Corroborando com as possibilidades da IA, os especialistas apontaram que estamos em uma era onde o poder dos dados, da escala e da computação pode colaborar para resolver problemas reais, e avanços em todas as áreas da ciência.
Antes de encerrar, os convidados foram inspiradores, especialmente para aqueles que buscam fazer parte desta revolução tecnológica. Dominando desde a parte teórica até a aplicação em sistemas reais, esses especialistas encorajaram os estudantes a explorarem todas as possibilidades da inteligência artificial, ressaltando o potencial de se manterem curiosos e aprendendo continuamente.
Estar em contato com especialistas pode nos fazer ter uma visão mais clara sobre as possibilidades da IA. À medida que nos afastamos de visões irreais como as da ficção científica, podemos nos aproximar, cada vez mais, de um uso responsável dessa tecnologia.
Fonte: Caltech