As primeiras amostras de rochas da face oculta da Lua aterrissaram com segurança na Terra hoje! O mundo científico celebra um marco histórico! Essas amostras foram trazidas pela cápsula de reentrada da missão chinesa Chang’e-6, que pousou na região autônoma chinesa da Mongólia Interior. A missão, realizada pela Administração Nacional Espacial da China (CNSA), marca uma conquista significativa na exploração lunar.
Até o momento, todas as amostras lunares trazidas para a Terra, seja pelas missões dos Estados Unidos, União Soviética ou mesmo pela própria China, vieram da face visível da Lua. Agora, as amostras da face oculta, coletadas pela Chang’e-6, prometem revelar segredos ainda desconhecidos sobre o nosso satélite natural. Yang Wei, geoquímico do Instituto de Geologia e Geofísica em Pequim, destaca a importância dessas novas amostras, afirmando que elas são essencialmente diferentes das coletadas anteriormente, e que há grandes expectativas quanto às descobertas que elas podem proporcionar.
A missão Chang’e-6 foi lançada em 3 de maio e chegou à Lua cinco dias depois. Após um período de preparação em órbita lunar, a nave pousou em 2 de junho no interior da Bacia do Polo Sul–Aitken (SPA), um dos locais mais antigos e enigmáticos da Lua. Essa região é coberta por rochas de lava resfriada, conhecidas como basaltos, que oferecem uma janela única para a história geológica da Lua.
Durante dois dias, a missão utilizou um braço robótico e uma perfuratriz para coletar até dois quilos de material. Posteriormente, o precioso carregamento foi lançado da Lua, se acoplou à cápsula de reentrada em órbita lunar e iniciou sua jornada de volta à Terra. No dia da chegada, por volta das 13:20, horário de Pequim, a cápsula iniciou o procedimento de aterrissagem, utilizando técnicas avançadas de reentrada na atmosfera e um paraquedas para garantir uma descida controlada.
A cápsula foi rapidamente localizada por uma equipe de recuperação após seu pouso. Depois do processamento inicial no local, será transportada para Pequim, onde as amostras serão retiradas e submetidas a análises científicas detalhadas. Este processo é vital para garantir que as amostras sejam preservadas e estudadas adequadamente, permitindo que os cientistas extraiam o máximo de informações possíveis.
No início deste mês, mais de 200 cientistas de universidades e institutos de pesquisa chineses se reuniram em Pequim para discutir as principais questões científicas que esperam abordar com as amostras da Chang’e-6. As principais prioridades incluem entender por que as duas faces da Lua são tão diferentes, explorar a composição das estruturas mais profundas do satélite e determinar a idade da Bacia do Polo Sul–Aitken.
Além dos pesquisadores chineses, cientistas internacionais também estão ansiosos para trabalhar com essas amostras. Qing-zhu Yin, geoquímico da Universidade da Califórnia, Davis, pretende utilizar os materiais para investigar o período de formação e solidificação do oceano de magma lunar, um evento crítico na história da Lua que se seguiu ao impacto gigante que formou o satélite.
A missão Chang’e-6 não apenas levou instrumentos chineses, mas também carregou quatro instrumentos internacionais para a órbita ou superfície lunar. Entre eles, destacam-se o detector de íons negativos da superfície lunar (NILS) da Agência Espacial Europeia e o instrumento francês de Detecção de Exalação de Rádon (DORN). O NILS detectou íons negativos na Lua pela primeira vez, uma descoberta que pode ajudar a entender melhor o ambiente da superfície lunar e a planejar futuras missões robóticas e tripuladas. Já o DORN registrou 19 horas de dados de alta qualidade durante as operações na superfície, e os resultados preliminares são promissores.
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Missões para continuar a exploração da Lua
A China está atualmente desenvolvendo as missões Chang’e-7 e Chang’e-8, programadas para lançamento em 2026 e 2028, respectivamente. Estas missões, ainda mais complexas, terão como objetivo principal a busca por gelo de água próximo ao polo sul lunar. O gelo de água é um recurso crucial, pois pode ser utilizado para produzir oxigênio e combustível para foguetes, facilitando a permanência humana a longo prazo na Lua.
Essas missões fazem parte de um programa lunar mais amplo da China, que visa estabelecer uma base lunar até meados da década de 2030. Namrata Goswami, pesquisadora de políticas espaciais na Universidade Estadual do Arizona, destaca que a capacidade da China de executar missões espaciais complexas de maneira eficiente sugere que o país está no caminho certo para estabelecer a primeira presença permanente na Lua.
A missão Chang’e-6 demonstrou a robustez das capacidades técnicas da China em realizar missões lunares complexas. Jonathan McDowell, astrônomo do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, ressalta que as tecnologias desenvolvidas para controlar espaçonaves, manobrar em órbita lunar, pousar, decolar e se encontrar em órbita são essenciais para futuras missões tripuladas à Lua.
Patrick Pinet, geólogo lunar do Instituto de Pesquisa em Astrofísica e Planetologia (IRAP) em Toulouse, França, acompanhou a missão em tempo real de uma sala de controle em Pequim. Ele elogiou a eficiência técnica e o domínio profissional de cada etapa complexa do processo, desde a coleta até o retorno das amostras.
A chegada das primeiras amostras de rochas da face oculta da Lua à Terra marca um avanço significativo na exploração lunar e abre novas oportunidades para a ciência, apresentando a proposta de responder a questões fundamentais sobre a formação e evolução da Lua.
Fonte: Nature