Uma xícara de café quente (ou talvez até duas ou três) começa o dia para muitos de nós. E agora a ciência mostrou que os benefícios vão para além dos que já conhecíamos.
Além de nos ajudar a despertar e aumentar nossa concentração, esse simples hábito pode estar desempenhando um papel importante na proteção contra o desenvolvimento da doença de Parkinson, principalmente para certos grupos genéticos asiáticos específicos.
A doença de Parkinson é a condição neurodegenerativa com crescimento mais rápido no mundo. Em Singapura, mais de 8.000 pessoas convivem com ela, e isso pode ser apenas a ponta do iceberg, já que estudos mostram que 26% da população idosa local exibe sinais leves de parkinsonismo. Diante desses números, o potencial protetor da cafeína é, sem dúvida, um passo positivo na luta contra esta condição debilitante.
Um estudo realizado em Singapura recentemente desvendou uma correlação fascinante entre o consumo de cafeína e um risco reduzido de doença de Parkinson, e essa correlação se torna ainda mais significativa para indivíduos com variantes genéticas asiáticas associadas à doença.
O estudo se debruçou sobre uma amostra de 4.488 indivíduos, e revelou que aqueles que consomem regularmente chá ou café têm um risco quatro a oito vezes menor de desenvolver a doença de Parkinson quando comparados aos que não consomem e carregam a variante genética.
A média de consumo de cafeína entre os participantes do estudo foi de 448,3 mg para casos de doença de Parkinson, enquanto nos participantes saudáveis foi de 473,0 mg. Para colocar em termos mais “palpáveis”, isso é equivalente a cerca de 4-5 xícaras de café do tipo Arabica, o tipo mais comum no ocidente, ou 2 xícaras do tradicional kopi de Singapura, feito com grãos do tipo Robusta, que têm um teor de cafeína mais alto.
E se você é do tipo que prefere a bebida mais suave, não se preocupe. Mesmo aqueles que consumiram abaixo de 200 mg de cafeína por dia (uma única xícara de café) ainda apresentaram benefícios, reduzindo seu risco de Parkinson. E é claro, sempre é bom lembrar que uma ingestão diária de até 400 é considerada segura para a maioria dos adultos saudáveis.
Variantes genéticas
Existem duas variantes genéticas asiáticas conhecidas que estão ligadas a um risco mais elevado de desenvolver Parkinson. Estas variantes são mais comuns em indivíduos de ascendência asiática oriental.
Em Singapura, por exemplo, até 10% da população carrega uma dessas variantes genéticas, que estão localizadas na região de codificação do DNA (a parte responsável por traduzir as informações em proteínas). Estas variantes podem aumentar o risco da doença de Parkinson em 1,5 a 2 vezes.
Mesmo aqueles que possuem a variante genética associada à doença e consomem cafeína regularmente, acabam tendo um risco menor do que aqueles que não consomem e nem possuem o gene. É um ponto que merece ser reforçado: esse simples hábito parece “nivelar” as coisas, reduzindo o risco genético elevado para níveis abaixo até daqueles que não possuem o gene e não bebem café ou chá.
Café do bem
A cafeína é conhecida por sua capacidade de reduzir a inflamação dos neurônios no cérebro, o que, por sua vez, ajuda a diminuir a morte celular, mas como ela interage especificamente com as variantes genéticas asiáticas ainda é uma incógnita.
O professor Tan Eng King, vice-diretor executivo (assuntos acadêmicos) e consultor sênior do Departamento de Neurologia do Instituto Nacional de Neurociências de Singapura, destaca que, embora saibamos sobre os efeitos protetores da cafeína contra a doença de Parkinson e outras condições neurodegenerativas, a relação exata entre a substância e essas variantes genéticas ainda precisa de muitas repostas.
…Mesmo que você não esteja em um grupo de risco genético, agora a ciência te deu mais um motivo para querer uma xícara de café agora, né?
Fonte: Neuroscience