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Memória e tempo: Por que esquecemos no curto prazo? Quais as lembranças parecem durar mais?

Como nossas memórias se relacionam com o tempo? Por que esquecemos coisas que acabaram de acontecer? Por que alguns acontecimentos que percebemos como memoráveis alteram a nossa percepção de tempo? Dois estudos trazer perspectivas interessantes sobre as nossas percepções cerebrais dos acontecimentos e do tempo.

A memória falhar no curto prazo é normal?

O primeiro estudo nos ajuda a entender sobre a importância de esquecer e de guardar memórias para o bom funcionamento do nosso cérebro.

Sabe aquela sensação de que a memória falha em situações banais, como quando não nos lembramos se trancamos a porta ao sair de casa ou se desligamos o fogão? Esses lapsos são comuns e intrigam cientistas há anos.O primeiro estudo sobre o qual falaremos foi da Universidade Rice, publicado na famosa revista acadêmica Elsevier, oferece novas perspectivas sobre como e por que nossa memória funciona dessa maneira, especialmente quando se trata de ações rotineiras.

As atividades diárias, como trancar uma porta ou desligar um aparelho, são frequentemente esquecidas devido à sua natureza repetitiva e à falta de características distintivas. Essas ações não carregam um significado emocional ou uma novidade que as faça se destacar em nossa memória. A pesquisa conduzida por Fernanda Morales-Calva, estudante de pós-graduação, e Stephanie Leal, professora assistente de ciências psicológicas, da Rice University, mostra como nossos cérebros tendem a filtrar e esquecer esses detalhes rotineiros para focar em conservar recursos cognitivos.

Porém, contrariando a crença popular de que memórias emocionais são sempre lembradas, o estudo revela que eventos significativos, principalmente os positivos, podem se tornar menos vívidos ou ser esquecidos após apenas 24 horas. Isso sugere que, mesmo experiências carregadas de emoção, podem não ser tão memoráveis a longo prazo quanto se pensava anteriormente.

O cérebro humano é extraordinariamente seletivo no que diz respeito à memória. Ele prioriza algumas informações em detrimento de outras, um processo essencial para gerenciar a carga cognitiva, o que na prática significa que lembramos melhor do “quadro geral” de um evento do que dos detalhes específicos. Essa seletividade ajuda a explicar por que, muitas vezes, recordamos um evento emocionante ou um momento significativo, mas esquecemos onde deixamos as chaves ou se respondemos a um e-mail.

Testando a seletividade da memória

Os pesquisadores exploraram essas ideias ao apresentar aos participantes uma série de imagens durante testes de memória, algumas delas repetidas, outras novas e algumas muito semelhantes entre si — projetadas para simular a repetitividade do cotidiano e testar a interferência na memória. As imagens “memoráveis” foram determinadas como aquelas que os participantes tinham maior probabilidade de lembrar

Os resultados de que depois de 24 horas os participantes se esqueciam de imagens memoráveis associadas a eventos positivos, sugere que por mais que sejam lembradas de início, essas memórias são mais propensas a serem esquecidas, destacando uma complexidade da memória que ainda precisa ser totalmente compreendida.

Entender a importância de esquecer pode aliviar a ansiedade que muitos sentem sobre seus próprios lapsos de memória. Saber que nosso cérebro está programado para funcionar dessa forma pode ajudar a mitigar a preocupação de que estamos perdendo a memória, quando, na verdade, estamos simplesmente experimentando o funcionamento normal do nosso sistema cognitivo.

A expectativa de Morales-Calva e Leal é de que futuras pesquisas considerem a complexidade da memória no cotidiano, incluindo a consideração do conteúdo emocional, o tempo que passou desde a experiência e as características perceptivas da memória que podem ter impactos significativos sobre o que lembramos e por que esquecemos.

Este estudo aponta que a memória é seletiva, adaptativa e intrinsecamente ligada à gestão dos recursos cognitivos e que esquecer é tão importante quanto reter memórias, principalmente nos nossos tempos onde somos impactados por tantas informações!

Percepção de acontecimentos memoráveis X percepção do tempo

Tudo bem, nem todos os acontecimentos, mesmo positivos, se tornam memoráveis. Mas qual a relação dessa percepção de “memorável” e tempo? É sobre o que o segundo estudo vai nos contar um pouco…

Antes disso, clica aqui para conhecer um outro estudo que traz uma reflexão importante sobre a ilusão da certeza, a partir da percepção das cores pelo nosso cérebro!

Expressões como aquela que diz que “o tempo voa quando estamos nos divertindo” refletem uma verdade científica intrigante: nossa percepção do tempo pode expandir ou contrair dependendo de como experienciamos o mundo ao nosso redor. A ciência por trás dessa sensação não está apenas nas mãos do destino ou em um truque de nossa mente ociosa, ela se enraíza profundamente na psicologia perceptual e nos complexos mecanismos de nosso cérebro.

Recentemente, outro estudo realizado por pesquisadores da George Mason University, liderados por Martin Wiener, divulgado na revista Nature Human Behavior mostra como imagens memoráveis podem distorcer nossa percepção do tempo

O estudo apontou que imagens que tendem a ser mais memoráveis parecem durar mais em nossa percepção e, o caminho inverso também se confirma, ou seja, aquelas que percebemos durar mais, também se tornam mais memoráveis. Esse fenômeno não é meramente uma curiosidade, e pode ter implicações profundas sobre como processamos informações e como nossa memória funciona.

A percepção do tempo é um campo complexo de estudo. Diferentemente dos ritmos circadianos, que são regulados por um grupo específico de células no centro do cérebro, o senso subjetivo do tempo emerge não de uma área isolada, mas de uma série de regiões cerebrais trabalhando em conjunto. 

Ainda não se sabe exatamente o que ocorre no cérebro durante a percepção da dilatação do tempo, mas os cientistas têm algumas teorias sobre por que isso acontece. Eles suspeitam que tal fenômeno ajude o cérebro a processar uma quantidade maior de informações em um tempo limitado.

Nossos sistemas visuais, em particular, estando hoje constantemente inundados com dados, desde rostos humanos até paisagens complexas, o cérebro precisa priorizar quais informações serão processadas com mais profundidade. Nesse sentido, características visuais simples, como o tamanho da cena ou o grau de desordem visual, podem influenciar nossa percepção do tempo. Cenas maiores tendem a fazer o tempo parecer dilatado, enquanto cenas mais caóticas podem fazer o tempo parecer contraído.

O estudo conduzido por Wiener utilizou uma série de experimentos com participantes que foram expostos a imagens por intervalos de tempo variando entre 300 milissegundos e um segundo. Após a visualização, os participantes deveriam categorizar a duração como “curta” ou “longa”. No dia seguinte, eles foram submetidos a um teste de memória surpresa para avaliar quais imagens foram lembradas. Curiosamente, os participantes tenderam a lembrar mais das imagens que perceberam como tendo ficado mais tempo na tela.

Esses resultados sugerem que as imagens não são apenas mais memoráveis se as olhamos por mais tempo, um efeito bem estabelecido, mas também se percebemos que as olhamos por mais tempo do que realmente olhamos. Isso indica que um fator subjacente, ainda não totalmente compreendido, pode estar causando ambos os efeitos.

A equipe de Wiener explorou essa ideia utilizando um modelo de rede neural, inspirado no sistema visual do cérebro, para analisar as imagens classificadas por memorabilidade, e descobriram que imagens mais memoráveis são processadas mais rapidamente pelo sistema, o que pode explicar por que a percepção de tempo é alterada.

A pesquisa ainda não conseguiu desvendar completamente por que um processamento mais rápido resultaria em uma percepção de tempo dilatado, mas uma explicação intuitiva seria que, ao processar informações de maneira mais eficiente, o cérebro pode “alargar o gargalo” de processamento, permitindo a absorção de mais informações simultaneamente e, consequentemente, dilatando o tempo percebido.

Este fenômeno de estiramento do tempo pode ser menor, como ao ver uma imagem particularmente memorável, ou extremo, como em situações de vida ou morte, onde o tempo parece parar completamente. Segundo Wilma Bainbridge, neurocientista cognitiva da Universidade de Chicago, que estudou a memorabilidade e a percepção do tempo, mas não participou do estudo de Wiener, “às vezes, algo precisa apenas de um processamento extra – ou menos processamento – que muda o ritmo e mudar a sensação de tempo.

O entendimento de como nossa percepção do tempo é influenciada por fatores visuais e cognitivos enriquece nossa compreensão do cérebro humano e pode ter implicações práticas em áreas como design de mídia, educação e até terapia psicológica. Reconhecer que nossa experiência do tempo é flexível e pode ser moldada por nossas interações com o mundo visual abre novas avenidas para explorar como vivenciamos e recordamos nossas vidas.

Esse estudo sugere que agora as imagens parecem ter uma memorabilidade inata e que os cientistas agora podem quantificar essa característica por meio do aprendizado de máquina, demonstrando que essas imagens podem interagir com uma gama de processos cognitivos, se contrapondo a ideia anterior de percepção dessas imagens por uma área isolada do cérebro. Wilma pontua algo quase filosófico diante dessas conclusões sobre nossas imagens memoráveis e o tempo: “Somos surpreendentemente semelhantes naquilo que lembramos e esquecemos, embora sejamos todos pessoas únicas.” 

Fonte: Neuroscience News e Scientific American

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