Desejos e habilidades do nosso cérebro são foco da neurociência. E há explicação até para aqueles momentos em não dá para resistir a uma fatia de pizza ou a uma necessidade de terminar um potão de sorvete… Quem nunca, né…?!

E, enquanto muitos de nós podem atribuir isso à falta de força de vontade ou simplesmente ao amor pela comida, a neurociência diz que nosso cérebro é mais complexo que isso!
Há um intrigante ângulo neuroquímico nesta história: O Neuropeptídeo Y (NPY), o protagonista que pode ser responsável pelo nosso gosto pela indulgência e pelo sofisticado cérebro que carregamos.
O Neuropeptídeo Y (NPY) é um neurotransmissor encontrado no cérebro e no sistema nervoso autônomo, desempenhando várias funções importantes, e tem sido associado a uma variedade de processos fisiológicos e comportamentais.
Mary Ann Raghanti, não é apenas fã de batatas regadas a manteiga, mas também é a antropóloga biológica da Kent State University que queria entender mais sobre o que está por trás dos nossos desejos.
Por que diabos adoramos alimentos gordurosos? O que nos faz pegar mais um biscoito pode também ter desempenhado um papel em como nossos cérebros evoluíram? A pesquisa fascinante de Raghanti, recentemente publicada nos Proceedings of the National Academy of Sciences USA, vai fundo no assunto.
O NPY está em nossos cérebros em níveis mais altos em comparação com primatas, como chimpanzés, bonobos e gorilas. Esse aumento no NPY pode nos dar insights sobre por que somos tão únicos, especialmente em relação a capacidades cerebrais.
O NPY é especialmente ativo no núcleo accumbens do nosso cérebro, uma região ligada à motivação e recompensa. Enquanto a dopamina e a serotonina sempre tiveram destaque nas discussões sobre neurotransmissores, o NPY tem sido associado ao que é chamado de “comer hedônico” – comer por prazer e não necessariamente por fome.
A ideia central é que o NPY é esse o que nos encoraja a buscar delícias carregadas de gordura e alto teor calórico. A teoria é que nossos ancestrais, com seu NPY elevado, se deliciaram comendo gorduras e açúcares, armazenando essas calorias extras. Em termos evolutivos, isso teria permitido um acúmulo de energia, o que por sua vez, teria apoiado o desenvolvimento de cérebros mais robustos.
A neurociência mostrou que o NYP também complica as coisas para o nosso cérebro…
Robert Sapolsky, pesquisador de neuroendocrinologia da Stanford University, observou acertadamente que isso pode ser um vislumbre de insight neurobiológico sobre nossa espécie. No entanto, o NPY também é associado a aspectos negativos como transtornos alimentares e abuso de substâncias. O que foi benéfico em um contexto evolutivo pode agora apresentar desafios em nossa sociedade contemporânea.
Benjamin Campbell, neuroantropólogo da Universidade de Wisconsin-Milwaukee, colocou um pouco de cautela no entusiasmo pelo NPY. Ele aponta que tirar conclusões audaciosas sobre nosso armazenamento de gordura a partir de pesquisas com ratos é questionável. Afinal, nossos caminhos evolutivos com os ratos divergiram há uns 65 milhões de anos.
Além disso, o cérebro humano é complexo demais, e atribuir uma característica evolutiva a um único neurotransmissor pode ser simplificar demais as coisas.
Mary Ann Raghanti concorda que há muito mais a explorar e compreender, e que a complexidade humana não pode ser reduzida a um único neurotransmissor ou região cerebral. É o conjunto completo de nosso sistema que cria a complexidade da experiência humana.
Então, da próxima vez que você estiver mordendo aquele hambúrguer ou não resistir à sobremesa, acene para o NPY, mas lembre-se também de que nosso cérebro ainda é um território que estamos explorando e com ou sem explicação da neurociência, vamos nos deliciar com as batatas fritas… tudo em nome da ciência, é claro. 😉
Fonte: Scientific American