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Nobel 2023 de química vai para descoberta e desenvolvimento de pontos quânticos, os “quantum dots”

Os pontos quânticos ou quantum dots foram o responsáveis pelo Prêmio Nobel de Química de 2023 dos três cientistas, Moungi G. Bawendi, Louis E. Brus e Alexei I. Ekimov.

Moungi G. Bawendi, Louis E. Brus e Alexei I. Ekimov

Esses pontos quânticos são as partículas mais minúsculas possíveis, tão pequenas que uma mudança mínima no tamanho delas pode alterar completamente seu comportamento. Eles são, basicamente, o cerne do mundo da nanotecnologia.

Nas aulas de química aprendemos que o comportamento dos elementos depende da quantidade de elétrons que eles têm. E quando falamos de coisas em escala “nano”, a história fica um pouco mais… quântica. Ao invés de apenas a quantidade de elétrons, o tamanho dessas partículas minúsculas começa a ter um papel super importante.

Graças aos nossos campeões do Nobel de 2023, esses pontos quânticos estão aparecendo em todos os lugares. Das cores vibrantes das nossas TVs mais recentes à tecnologia avançada que guia cirurgiões em operações complexas – tudo isso graças a esses incríveis pontos.

Um zoom no mundo dos pontos quânticos

Quando nos aprofundamos no mundo da nanotecnologia, as coisas que antes pareciam ficção científica se tornam realidade.

Imaginem um futuro onde a nanotecnologia, impulsionada pelos quantum dots ou pontos quânticos, possa ser aplicada no nosso cotidiano de formas que ainda nem podemos sonhar. Estamos falando de carros autônomos ainda mais inteligentes, tratamentos médicos super precisos e quem sabe até roupas que se ajustam automaticamente ao nosso corpo. 

E por falar em medicina, os avanços proporcionados por essa tecnologia são simplesmente revolucionários. Imagine um cirurgião sendo capaz de identificar e isolar células cancerígenas em tempo real durante uma operação, graças à luz emitida por esses pequenos pontos quânticos. Ou, pense em medicamentos direcionados, que poderiam ser entregues exatamente onde são necessários em nosso corpo, minimizando os efeitos colaterais. É uma revolução na maneira como vemos a medicina e o tratamento de doenças.

Mas além de todos esses avanços futuristas, o mais legal é que essa tecnologia já está entre nós. Da próxima vez que você comprar um gadget de última geração ou assistir algo em uma tela OLED super nítida, lembre-se: os pontos quânticos estão por trás disso, tornando tudo mais brilhante, claro e eficiente.

Vamos mais fundo nesse mundo quântico e nas contribuições dos 3 ganhadores do Nobel 2023

O mundo quântico: Além do vísivel

Lembra daquela famosa frase do filme “O Mágico de Oz”, “Toto, acho que não estamos mais no Kansas”? Pois bem, Dorothy e seu cãozinho Toto experimentaram uma transformação mágica ao entrar em um mundo novo e colorido. Se fosse possível uma “magia” nos transportar para um mundo em escala nano, nós provavelmente nos sentiríamos tão surpresos quanto Dorothy. 

Seria mais ou menos assim: seus brincos de ouro passariam a ter um brilho azul; o anel dourado em seu dedo se tornaria de um tom rubi vibrante. E aquela frigideira na cozinha? Melhor nem tentar fritar nada nela, porque ela poderia derreter no fogão. Ah, e aquelas paredes brancas da sua sala? A tinta, que contém dióxido de titânio, começaria a gerar um monte de espécies reativas de oxigênio.

Quando falamos em “nanomundo”, as coisas realmente funcionam de forma diferente. A matéria começa a mostrar comportamentos inesperados, desafiando a nossa intuição. E é justamente nessa escala minúscula, onde as dimensões são medidas em milionésimos de milímetro, que surgem os efeitos quânticos.

Os laureados com o Prêmio Nobel de Química de 2023 desbravaram esse universo nanométrico. Nos anos 80, Louis Brus e Alexei Ekimov, trabalhando independentemente, conseguiram criar os “quantum dots” (ou “pontos quânticos”). E em 1993, Moungi Bawendi aprimorou a fabricação desses pontos quânticos, alcançando uma qualidade incrível, abrindo portas para as aplicações atuais em nanotecnologia.

Graças ao trabalho desses cientistas, hoje a humanidade tem a capacidade de explorar algumas propriedades peculiares do nanomundo. Já encontramos pontos quânticos em produtos comerciais e em diversas áreas da ciência, de física e química até medicina.

Do vidro antigo aos pontos quânticos

O fenômeno quântico no nanomundo, durante muito tempo, pairava no domínio das predições teóricas. Herbert Fröhlich, lá em 1937, já havia sinalizado que as nanopartículas teriam um comportamento atípico. Ele se aprofundou na famosa equação de Schrödinger e percebeu que, ao atingirmos tamanhos extremamente pequenos, o espaço para os elétrons do material se reduz drasticamente. Isso significa que os elétrons, que têm características de ondas e partículas, ficam “espremidos”, provocando mudanças surpreendentes nas propriedades do material.

A comunidade científica ficou fascinada por essa percepção. Armados com ferramentas matemáticas, começaram a prever uma série de efeitos quânticos dependentes do tamanho. Mas passar da teoria à prática era um desafio gigantesco! Imagine criar estruturas que fossem milhões de vezes menores que a cabeça de um alfinete.

Entretanto, nos anos 70, utilizando um tipo de feixe molecular, pesquisadores conseguiram criar uma camada nanofina de material. E o mais incrível é que as propriedades ópticas dessa camada variavam conforme sua espessura. Era a prova viva da mecânica quântica em ação!

Mas reproduzir esse experimento não era nada fácil. As condições eram extremas, necessitando de um vácuo ultra-alto e temperaturas próximas ao zero absoluto. Parecia pouco provável que esses fenômenos quânticos encontrariam uso prático. Mas uma nova invenção mudou este cenário: o vidro colorido.

Os vestígios arqueológicos mais antigos de vidro colorido remontam a milhares de anos. Os artesãos do vidro, através de testes e experimentações, entenderam como produzir vidro em todas as cores do arco-íris, adicionando substâncias como prata, ouro e cádmio, variando as temperaturas, para produzir diferentes tonalidades. 

Quando chegamos aos séculos XIX e XX, os físicos começaram a explorar as propriedades ópticas da luz e o conhecimento dos vidreiros foi fundamental. Eles descobriram que uma única substância poderia resultar em vidros de cores completamente diferentes. Por exemplo, a combinação de seleneto de cádmio e sulfeto de cádmio poderia tornar o vidro amarelo ou vermelho, tudo dependendo do processo de aquecimento e resfriamento. Concluíram que as cores surgiam de partículas formadas dentro do vidro e que a cor era determinada pelo tamanho dessas partículas.

E é neste cenário, repleto de descobertas sobre a luz e o vidro, que chegamos ao final dos anos 70. Alexei Ekimov, um jovem doutor recém-formado, começou seu trabalho no Instituto Óptico Estatal S. I. Vavilov, na antiga União Soviética. 

Alexei Ekimov e o mapeamento dos vidros coloridos

Alexei Ekimov, estava perplexo com um fenômeno: como uma única substância poderia produzir vidros de cores tão distintas? Parecia desafiar a lógica. Por exemplo, se você pintar uma tela com a cor vermelho cádmio, ela permanecerá vermelho cádmio, a menos que outras tintas sejam misturadas.

Durante seu doutorado, Ekimov se aprofundou no estudo dos semicondutores, peças-chave na microeletrônica. O campo frequentemente utiliza métodos ópticos para avaliar a qualidade dos materiais semicondutores. É simples: os pesquisadores iluminam o material e medem a absorção, revelando sua composição e estrutura cristalina.

Aproveitando-se de seu conhecimento desses métodos, Ekimov começou a estudar vidros coloridos e após alguns experimentos iniciais com vidro tingido de cloreto de cobre, avançou em suas pesquisas, aquecendo o vidro fundido a temperaturas que variavam entre 500°C e 700°C, e ajustando o tempo de aquecimento entre 1 e 96 horas. Ekimov fez uma descoberta fascinante: Raios-X mostraram que pequenos cristais de cloreto de cobre formavam-se no interior do vidro e o processo de fabricação influenciava diretamente o tamanho dessas partículas. Em alguns casos, tinham apenas dois nanômetros, enquanto em outros chegavam a 30 nanômetros.

O que realmente chamou a atenção foi que a absorção de luz do vidro era afetada pelo tamanho dessas partículas. As partículas maiores absorviam a luz de maneira usual, mas quanto menores eram as partículas, mais azulada era a luz que absorviam. Ekimov rapidamente percebeu que estava diante de um efeito quântico influenciado pelo tamanho.

Em 1981, Ekimov compartilhou essa descoberta revolucionária com o mundo, introduzindo o conceito de “quantum dots” (pontos quânticos). No entanto, a política da época criou barreiras. Do outro lado da Cortina de Ferro, um pesquisador chamado Louis Brus também estava mergulhando nesses mistérios.

Brus aponta que as propriedades das partículas são efeitos quânticos

Brus, trabalhando no Bell Laboratories nos EUA, tinha o objetivo de impulsionar reações químicas usando energia solar. Durante seus experimentos com partículas minúsculas de sulfeto de cádmio, ele notou uma alteração em suas propriedades ópticas. 

Para entender melhor o fenômeno, ele produziu partículas de sulfeto de cádmio com apenas 4,5 nanômetros de diâmetro e as comparou com partículas maiores. E assim como Ekimov, Brus percebeu que estava observando um efeito quântico dependente do tamanho.

Essas descobertas abriam uma janela para um mundo até então pouco compreendido. O simples fato de mudar a cor de um material podia indicar uma alteração completa de suas propriedades, tudo governado por seus elétrons. Imagine por um momento um novo mundo, onde a tabela periódica não se limita apenas ao número de elétrons, mas onde o tamanho, em escala nano, também desempenha um papel crucial.

Enquanto a comunidade científica estava entusiasmada com as possibilidades, desafios práticos surgiam. Os métodos usados para fabricar essas nanopartículas muitas vezes resultavam em quantum dots de qualidade variável, repletos de defeitos e tamanhos inconsistentes. Ainda havia muito a se explorar, muito a se aperfeiçoar. 

Moungi Bawendi revoluciona a produção de pontos quânticos

Moungi Bawendi queria superar os desafios na produção de quantum dots de alta qualidade. Aprofundando-se no trabalho iniciado no laboratório de Louis Brus em 1988, Bawendi e sua equipe começaram a fazer experimentos com uma variedade de solventes, temperaturas e técnicas. Embora tenham realizado avanços significativos, os nanocristais produzidos ainda não atingiam o ideal.

Bawendi não se deu por vencido. Em 1993, como líder de uma equipe no MIT, ele continuou seus esforços para conseguir nanopartículas de maior qualidade, e sua equipe teve um avanço inovador ao injetar substâncias formadoras de nanocristais em um solvente específico. Esse método, ao ajustar dinamicamente a temperatura, permitiu a produção de nanocristais de tamanho específico, quase perfeitos, que exibiam efeitos quânticos notáveis.

O impacto dessa descoberta foi monumental. De repente, um método de produção acessível e eficiente estava disponível, e o mundo da química voltou sua atenção para as maravilhas dos pontos quânticos. Não demorou muito para essas partículas incríveis encontrarem seu caminho em produtos comerciais.

Passados 30 anos, os pontos quânticos tornaram-se peças fundamentais na caixa de ferramentas da nanotecnologia. Seus usos variam de criar luz colorida – com sua capacidade de mudar a cor de absorção ajustando seu tamanho – até serem integrados em telas QLED de última geração. Na medicina e bioquímica, esses pontos brilhantes estão sendo utilizados para mapear células e, possivelmente, rastrear tecidos tumorais no corpo.

Os avanços com os pontos quânticos não se limitam apenas à sua luminosidade,  também são vistos como catalisadores promissores para impulsionar reações químicas. E as possibilidades do futuro são muitas: potencial para eletrônicos mais flexíveis, sensores nanométricos, células solares ultrafinas e até mesmo comunicações quânticas seguras e criptografadas.

Os pontos quânticos estão se mostrando não apenas como uma maravilha da ciência, mas também como uma ferramenta que pode remodelar nossa tecnologia e avançar nossa compreensão do mundo ao nosso redor. A contribuição desses três cientistas para desvendar o mundo quântico é razão mais do que suficiente para um Nobel, né?


Fonte: Social Nobel Prize | Nobel Prize.org

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