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Por que não temos rabo? Um mistério da evolução desvendado pela curiosidade de infância de um cientista

A teoria da evolução humana é fruto de uma jornada fascinante que atravessa as fronteiras do tempo. Um novo estudo parece resolver uma questão bem em um ponto que conecta ciência e curiosidade infantil.

Pesquisadores liderados pelo geneticista Bo Xia, durante seu doutorado na Universidade de Nova York (NYU), desvendaram um dos mistérios mais intrigantes da evolução humana: como e por que nossos ancestrais perderam seus rabos? Este estudo, publicado após meticulosos 2 anos e meio de pesquisa e experimentação, iluminou nossa ancestralidade primata.

Desde pequeno, Bo Xia, agora no Broad Institute do MIT e Harvard em Cambridge, se perguntava para onde tinha ido seu rabo, uma questão que ganhou nova urgência após uma lesão no cóccix. Foi dessa curiosidade, reacendida na fase adulta, que impulsionou Xia, e sua equipe a mergulharem nos aspectos genéticos que poderiam responder a presença ou a ausência de rabos nos primatas. A chave para este enigma evolutivo reside em uma alteração genética específica, encontrada em humanos e outros macacos que pode ter contribuído para a perda do rabo dos seus antepassados, há cerca de 25 milhões de anos. 

Trata-se de uma inserção de DNA no gene TBXT, presente em humanos e outros primatas sem rabo, mas ausente naqueles que ainda ostentam o apêndice. O gene TBXT é fundamental no desenvolvimento embrionário, desempenha um papel crucial na formação da notocorda, precursora da coluna vertebral, e na especificação de células durante o desenvolvimento inicial de vertebrados, incluindo humanos.

Através de uma série de experimentos com camundongos geneticamente modificados, os pesquisadores conseguiram replicar variações no gene TBXT que resultaram em uma gama de condições de rabo – desde rabos ausentes ou encurtados até rabos deformados ou excessivamente longos. Esses resultados confirmam a teoria genética por trás da perda de rabo e demonstram a complexidade do processo evolutivo, que raramente se resume a uma única mutação ou alteração genética.

Este estudo revela que a perda do rabo em nossos ancestrais pode ter tido implicações significativas para a evolução do comportamento e da locomoção dos primatas. Embora a pesquisa sugira uma conexão entre a ausência de rabo e a adoção de uma postura ereta, bem como uma menor dependência da vida arbórea, especialistas como Gabrielle Russo, uma antropóloga biológica da Universidade de Stonybrook, advertem contra conclusões precipitadas. Os fósseis indicam que a bipedalidade, a habilidade de caminhar sobre duas pernas, evoluiu milhões de anos após a perda dos rabos, sugerindo uma sequência complexa de várias hipóteses sobre eventos evolutivos.

O caminho para a publicação deste estudo foi longo e minuscioso, ilustrando o rigor e a dedicação necessários para a pesquisa científica de ponta. Após quase 900 dias desde a sua submissão inicial até a publicação na revista Nature, o estudo passou por várias rodadas de revisão e experimentação adicional, apontando para um esforço e compromisso com a precisão dessas descobertas, trazidas por uma equipe de pesquisa que desenvolveu várias linhagens de camundongos geneticamente modificados para testar e confirmar suas hipóteses.

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A evolução e a ausência de rabo

Além de esclarecer a questão específica da perda de rabo, a pesquisa de Xia e sua equipe amplia nosso entendimento sobre a evolução dos primatas de maneira mais abrangente. A análise de mais de 140 genes envolvidos no desenvolvimento do rabo revelou milhares de mudanças genéticas únicas aos primatas sem rabo, sugerindo uma alta complexidade de fatores que influenciam a morfologia e a função ao longo do tempo evolutivo.

Outro aspecto fascinante é a motivação para este estudo, que veio da curiosidade de uma criança que, ao se tornar um cientista, se sentiu impelido à resolver a questão sobre a ausência de seu próprio rabo, desencadeando uma investigação que desvendou aspectos fundamentais da nossa evolução. 

A perda de rabo entre os primatas, como demonstra o estudo, não é uma ocorrência singular, mas um fenômeno que evoluiu várias vezes ao longo da história. Isso sugere que, embora compartilhemos uma ancestralidade comum, as rotas evolutivas que levaram às várias formas de vida primata são diversificadas e complexas.

Fonte: Nature

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