A SpaceX fez história recentemente ao completar a primeira caminhada espacial civil, um marco significativo no avanço da exploração espacial privada. O evento ocorreu como parte da missão Polaris Dawn, na qual uma equipe de quatro civis, todos participantes do programa privado da empresa, embarcaram no Crew Dragon para uma série de experimentos orbitais, incluindo a caminhada espacial. Essa missão é um passo ousado que reforça a capacidade da SpaceX de lançar missões tripuladas e ampliar os limites de quem pode participar dessas missões, saindo do tradicional monopólio de astronautas treinados por governos.
A caminhada espacial realizada pela tripulação da Polaris Dawn, embora não tenha sido uma caminhada espacial completa no sentido tradicional, ainda assim representa um avanço considerável na exploração espacial civil. Chamado de Stand-Up Extravehicular Activity (SEVA – em tradução livre “Atividade Extraveicular em Pé”), o evento envolveu dois tripulantes parcialmente saindo do Crew Dragon enquanto ele orbitava a Terra a uma velocidade de mais de 25.000 km/h e a uma altitude de cerca de 740 quilômetros. Essa atividade, apesar de tecnicamente diferente de uma extraveicular completa, envolveu muitos dos desafios enfrentados por astronautas durante missões espaciais governamentais.
O comandante da missão, Jared Isaacman, um empresário bilionário e cofundador do programa Polaris, foi o primeiro a emergir da cápsula Crew Dragon. Ele ergueu sua cabeça e torso para fora da nave e teve a oportunidade única de observar a Terra de um ponto de vista raramente acessível a não-astronautas. “Daqui, o mundo parece perfeito“, comentou Isaacman, uma reflexão profunda considerando os muitos desafios enfrentados pela humanidade na superfície. Depois de realizar testes de mobilidade e segurança no novo traje espacial da SpaceX, Isaacman retornou ao interior da cápsula.
Em seguida, foi a vez de Sarah Gillis, engenheira da SpaceX, realizar sua saída parcial. Antes disso, a Crew Dragon ativou seus propulsores para garantir que a órbita da nave permanecesse estável durante o processo. Embora nenhum dos dois tripulantes tenha deixado completamente a nave, esse SEVA foi um passo importante na verificação de trajes espaciais e tecnologias críticas que a SpaceX vem desenvolvendo para futuras missões, inclusive missões mais longas e desafiadoras no espaço profundo.
Novos trajes da SpaceX
Um dos destaques da missão foi o uso de um novo modelo de traje espacial desenvolvido pela SpaceX. Embora esses trajes tenham sido extensivamente testados na Terra, a missão Polaris Dawn representou a primeira vez que eles foram usados em órbita. Os trajes são desenhados para proporcionar maior mobilidade e segurança, especialmente em situações extraveiculares, e Isaacman e Gillis realizaram uma série de verificações para testar suas capacidades e funcionalidade.
A decisão de testar esses trajes no ambiente rigoroso do espaço é parte dos esforços da SpaceX de expandir as capacidades das viagens espaciais privadas. Diferente dos trajes volumosos usados por agências como a NASA, o novo design da SpaceX busca ser mais leve e prático, permitindo que futuros astronautas – tanto governamentais quanto privados – tenham mais flexibilidade durante as missões. O SEVA foi uma etapa essencial para garantir que esses trajes estejam prontos para serem usados em missões mais complexas no futuro.
O SEVA realizado por Isaacman e Gillis faz parte dessa missão maior, a Polaris Dawn, que é apenas um dos muitos passos que a SpaceX planeja dar em direção a uma exploração espacial cada vez mais privada e acessível. O programa Polaris, do qual essa missão faz parte, busca empurrar os limites do que é possível para civis no espaço, testando novas tecnologias, protocolos de segurança e a resistência humana em condições extremas.
Jared Isaacman, que já havia feito parte de outra missão marcante da SpaceX em 2021, onde o Crew Dragon realizou o primeiro voo orbital tripulado inteiramente por civis, voltou a liderar essa nova jornada. A cápsula usada na Polaris Dawn foi a mesma que realizou essa missão anterior, evidenciando a confiabilidade e a reutilização dos equipamentos da SpaceX – um dos pilares da visão de Elon Musk para o futuro das viagens espaciais.
A decisão de realizar a caminhada espacial sem o uso de uma câmara de descompressão (airlock) foi um elemento que trouxe mais riscos à missão. A Crew Dragon, diferentemente de outras naves projetadas para longas missões espaciais, não possui um airlock, o que significa que toda a cabine precisou ser despressurizada para permitir que os tripulantes saíssem da nave. Esse procedimento remonta aos primórdios da exploração espacial, nas décadas de 1960 e 1970, quando as naves não possuíam a tecnologia mais avançada que hoje é comum em estações espaciais, por exemplo.
Com a conclusão bem-sucedida do SEVA, a missão Polaris Dawn continuará com mais dois dias de experimentos em órbita antes de seu retorno à Terra. Esses experimentos são fundamentais para o avanço da exploração espacial privada, proporcionando insights valiosos sobre como os civis podem não apenas viajar ao espaço, mas também desempenhar papeis ativos em atividades extraveiculares e outras tarefas críticas durante missões.
O sucesso dessa missão sinaliza o que pode ser um futuro promissor para a exploração espacial comercial. À medida que empresas como a SpaceX continuam a empurrar os limites do que é possível no espaço, estamos cada vez mais próximos de um futuro onde missões orbitais, caminhadas espaciais e talvez até expedições a outros planetas possam ser acessíveis a mais pessoas, além dos tradicionais astronautas governamentais.
A Polaris Dawn é um marco, representando um passo adiante no processo de democratização do espaço. O fato de que civis, como Isaacman e sua equipe, estão desempenhando papeis tão importantes na exploração espacial nos faz refletir sobre o futuro da humanidade no cosmos – um futuro onde as fronteiras do espaço talvez não sejam mais tão distantes para todos nós.
Fonte: NewScientist