A busca por vida no espaço além da Terra divide e desafia cientistas. A lua de Júpiter, Europa, sempre cativou astrobiólogos e entusiastas do espaço com a promessa de um vasto oceano subterrâneo escondido sob sua crosta gelada.
A possibilidade de abrigar vida sempre colocou Europa sob os holofotes da comunidade científica, alimentando especulações e esperanças. No entanto, dados recentes da nave espacial Juno, da NASA, que orbita Júpiter, sugerem que as perspectivas de vida na lua oceânica de Júpiter podem ser mais desafiadoras do que imaginávamos, principalmente devido à possível escassez de oxigênio nesse ambiente distante e frio.
Apesar do fascínio por sua beleza e mistério, Europa é um lugar do espaço extremamente hostil para a vida como a conhecemos. Mesmo um astronauta protegido por um traje espacial na superfície de Europa estaria seguro das condições frias e praticamente sem ar do satélite natural, mas não escaparia de uma dose letal de radiação resultante do bombardeamento constante de partículas de alta energia, uma característica marcante do poderoso campo magnético de Júpiter. Curiosamente, esse mesmo bombardeamento de partículas tem um efeito potencialmente benéfico: ao atingir a superfície gelada da lua, desencadeia reações químicas que liberam oxigênio e hidrogênio, essenciais para a vida como a entendemos.
Jamey Szalay, da Universidade de Princeton, descreve a superfície de Europa como “o pulmão de Europa”, constantemente gerando oxigênio em todo o seu manto gelado, evocando a imagem de um lugar no espaço onde haveria um processo contínuo e vital, sugerindo que a lua poderia, de alguma forma, sustentar formas de vida.
No entanto, a realidade pode ser menos promissora. Uma pesquisa recente liderada por Szalay revelou que Europa produz oxigênio em quantidades muito menores do que se acreditava anteriormente. As estimativas sugerem uma produção máxima de apenas 18 quilogramas de oxigênio por segundo, um valor significativamente inferior às estimativas anteriores que sugeriam cerca de 1.000 quilogramas por segundo. Apesar desses números desanimadores, os cientistas ainda mantêm uma visão cautelosamente otimista, acreditando que tais quantidades de oxigênio ainda poderiam suportar a habitabilidade microbiana.
A atmosfera de Europa, por mais tênue que seja, revela mais sobre as condições desafiadoras na lua. Comparada com a densa atmosfera terrestre, a de Europa é uma fina camada de oxigênio que mal se agarra à sua superfície, sob uma camada mais extensa de hidrogênio, e é continuamente reabastecida pelo escape de hidrogênio e oxigênio da superfície irradiada, um fenômeno que, apesar de sugerir uma renovação constante, não compensa a escassez de oxigênio.
Observações feitas pela Juno, especificamente pelo instrumento JADE (Jovian Auroral Distributions Experiment), durante um breve sobrevoo em 2022, detectaram uma abundância de átomos de hidrogênio na atmosfera imediata de Europa, permitindo aos cientistas calcular a quantidade total de oxigênio que deveria estar sendo produzida neste ponto do espaço, levando às conclusões surpreendentes sobre a baixa produção de oxigênio.
O que torna Europa e outras luas oceânicas candidatas potenciais para a vida no espaço não é apenas a presença de água em estado líquido, mas também os elementos químicos que poderiam nutrir a vida. Estudos anteriores já haviam identificado sais como cloreto de sódio (sal de cozinha) e sulfato de magnésio (sal de Epsom) na superfície de Europa, o que sugere que o oceano da lua de Júpiter, assim como os oceanos terrestres, poderia estar em contato direto com as rochas do leito marinho, oferecendo nutrientes essenciais para a vida.
A presença desses sais também levanta a possibilidade intrigante de existirem fontes hidrotermais no fundo do oceano de Europa, semelhantes aos ambientes ricos em nutrientes encontrados nos oceanos da Terra, que sustentam comunidades vibrantes de vida microbiana.
A origem da vida na Terra, que floresceu mesmo em condições anóxicas (sem oxigênio) durante bilhões de anos, nos lembra de que a vida pode encontrar maneiras de se adaptar a ambientes extremos. A vida primitiva na Terra dependia de metabolismo anaeróbio, utilizando minerais oceânicos como fontes de energia. Essa flexibilidade bioquímica sugere que, mesmo em ambientes tão inóspitos e isolados quanto os oceanos subterrâneos de luas geladas no espaço, como Europa, formas de vida adaptadas a essas condições extremas poderiam potencialmente existir.
Apesar dos desafios evidentes, a escassez de nutrientes não significa necessariamente que a vida seja impossível nos oceanos subterrâneos de luas como Europa. Cometas e processos geológicos do espaço podem, ao longo de milhões de anos, entregar compostos orgânicos essenciais que se acumulam nas “tampas” de gelo desses oceanos e eventualmente se infiltram nas águas abaixo, fornecendo os blocos de construção necessários para a vida.
A perspectiva de vida em Europa e outros mundos oceânicos exige uma compreensão de que nossos estudos capturam apenas um momento no tempo, sem a capacidade de ver a história completa de bilhões de anos no espaço desses corpos celestes. A falta de dados concretos sobre as condições passadas em Europa complica as tentativas de determinar sua habitabilidade ao longo da história.
A contínua busca por vida no espaço
Olhando para o futuro, a missão Europa Clipper da NASA, prevista para chegar a Júpiter em 2030, promete lançar nova luz sobre os mistérios de Europa, mapeando seu interior e avaliando a profundidade de seu oceano subterrâneo. Com a capacidade de medir diretamente a abundância de oxigênio e outros compostos químicos, o Clipper oferecerá insights mais precisos sobre a complexa química que define esse mundo gelado e distante.
A busca por vida no espaço além da Terra continua a nos desafiar a expandir nossas concepções sobre onde e como a vida pode existir. Como observou Emily Martin, geóloga da National Air. e o Museu Espacial em Washington, DC, “não sabemos o que não sabemos“. A cada nova descoberta, aprendemos mais sobre a singularidade desses lugares distantes e as potenciais fronteiras da vida no espaço.
Fonte: Scientific American