Os ursos polares são animais majestosos e, ao mesmo tempo, dos mais enigmáticos da Terra, habitando o extremo norte do nosso planeta, onde as temperaturas caem para níveis quase inimagináveis.
Estes gigantes brancos do Ártico têm sido um mistério para os cientistas por muitos anos, principalmente devido às dificuldades imensas em rastreá-los em seu habitat natural hostil. No entanto, avanços recentes na ciência de rastreamento estão trazendo novas esperanças e abrindo portas para o entendimento profundo dessa espécie tão fascinante.
Tradicionalmente, o estudo dos ursos polares envolve expedições árduas e perigosas nas paisagens árticas, com pesquisadores enfrentando condições extremas para apenas encontrar esses animais e quando se trata de coletar informações genéticas, o desafio se torna ainda maior.
A prática comum envolve sedar e capturar os animais, o que representa um risco considerável tanto para os pesquisadores quanto para os próprios ursos polares. No entanto, uma nova metodologia promete revolucionar esse cenário.
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DNA das pegadas dos ursos polares e do meio ambiente
Recentes estudos trouxeram à tona uma técnica inovadora de identificação de indivíduos de ursos polares, linces e leopardos-das-neves a partir do DNA encontrado em suas pegadas na neve. Trata-se de uma abordagem não invasiva que além de reduzir os riscos associados aos métodos tradicionais, – para os ursos polares e para os pesquisadores – , também oferece uma alternativa mais ética e respeitosa para o estudo desses animais.
A chave dessa técnica reside no DNA ambiental, o eDNA, (do inglês environmental DNA), coletado não diretamente do animal, mas sim de células mortas da pele que se desprendem no ambiente. Esse eDNA tem sido recuperado de diferentes fontes, como água, solo e ar, para estudar uma variedade de espécies, tornando os novos estudos notáveis pela capacidade de rastrear esse DNA de volta a um único membro de uma população.
Um dos estudos, publicado na revista Frontiers in Conservation Science, demonstrou essa possibilidade impressionante. A equipe de pesquisa coletou neve de 130 pegadas de ursos polares perto da Costa Norte do Alasca, conseguindo isolar o DNA nuclear, o principal componente do DNA em uma célula, em 46% das amostras. Com isso, identificaram seis ursos polares individuais, incluindo seu gênero: cinco machos e uma fêmea.
O segundo estudo, publicado na mesma revista, confirmou esses resultados. Neste segundo caso, os pesquisadores coletaram eDNA de pegadas de ursos polares selvagens no Alasca e de linces eurasiáticos na Suécia, além de amostras de animais cativos.
Utilizando uma grande colher de metal, eles coletaram neve ao longo de três temporadas de inverno, e após derreter e filtrar a neve, a análise do DNA revelou informações surpreendentes: DNA nuclear em mais de 87% das pegadas de ursos polares selvagens, em quase 60% das pegadas de linces selvagens e em todas as amostras de animais cativos. O estudo identificou 12 ursos polares individuais a partir das amostras selvagens.
Essa técnica não só facilita o rastreamento desses animais, mas também oferece informações valiosas para a conservação da vida selvagem. A capacidade de determinar quantos animais habitam uma área e se estão relacionados é fundamental para esforços de conservação. Além disso, se pegadas de ursos polares são encontradas regularmente perto de comunidades humanas, isso pode ajudar os gestores de vida selvagem a determinar quais ursos representam maior risco para os seres humanos.
Um aspecto particularmente notável dessa nova abordagem é sua natureza não invasiva. Ao contrário dos métodos tradicionais, que muitas vezes incomodam os animais e colocam os pesquisadores em risco, a coleta de eDNA é uma técnica discreta e segura, complementando também outros métodos de vigilância, como coleta de amostras de sangue ou colocação de coleiras de rastreamento, proporcionando uma visão mais completa e detalhada da vida desses animais.
Essa abordagem também ressoa positivamente em contextos culturais e éticos. Em áreas onde comunidades indígenas se opõem à sedação de ursos polares por preocupações com a carne contaminada, ou onde existem preocupações com o bem-estar animal, o uso de eDNA apresenta uma solução alternativa e respeitosa.
Olhando para o futuro, os especialistas preveem que o rastreamento por eDNA se tornará um método rotineiro na conservação da vida selvagem nas próximas décadas. Essa mudança na pesquisa de eDNA representa um avanço significativo, abrindo um novo capítulo na compreensão e na proteção dos ursos polares e outras espécies esquivas.
Fonte: Science