Já sonhou que a ciência ia permitir a viagem no tempo, pra ver a Terra há um milhão de anos? Ainda não construímos uma máquina do tempo, mas estamos conseguindo um vislumbre fascinante do passado do nosso planeta. E tudo graças a um extraordinário pedaço de gelo e uma iniciativa científica chamada Beyond EPICA (Projeto Europeu para Extração de Gelo na Antártida em tradução livre).
Vamos desenhar o cenário: Imagine as paisagens congeladas da Antártica. Bem abaixo de sua superfície, cientistas estão fazendo mágica, perfurando para recuperar o gelo que conta a história dos climas antigos da Terra. E para que? Esse gelo encontrado nas profundezas da Antártica pode nos permitir entender melhor o papel que o dióxido de carbono atmosférico desempenha nos ciclos climáticos da Terra.
Nosso protagonista aqui, Florian Krauss, um estudante de doutorado na Universidade de Berna, na Suíça, tem transformado este gelo polar em um verdadeiro tesouro de dados climáticos. Imagine-o, com duas camadas de luvas, colocando um cubo de gelo em um cilindro dourado futurista, com lasers e tudo mais, tipo um filme de ficção científica, mas em vez de combater alienígenas, este laser está focado em decodificar nossa história climática. Se pudéssemos realmente usar um pedaço de gelo com um milhão de anos, que histórias ele revelaria? É exatamente isso que a ciência está buscando!
Aquelas bolhas presas dentro do gelo são pequenos bolsões de ar antigo. Como pequenas cápsulas do tempo de épocas passadas. Estudando essas bolhas de ar nos núcleos de gelo antártico, cientistas conseguiram montar a história climática da Terra nos últimos 800.000 anos. Mas a ambição da ciência não para!
Agora os pesquisadores querem perfurar ainda mais fundo e pegar um núcleo de gelo que seria um recorde de 1,5 milhão de anos. Esse não é um gelo qualquer. Ele promete nos levar de volta a uma era misteriosa, a Transição do Meio-Pleistoceno. É como um plot twist do próprio planeta, quando nossos ritmos climáticos mudaram drasticamente.
Com a genética conseguimos acessar informações de nossos parentes distantes de 2 milhões de anos. Clica aqui para conferir.
Métodos promissores dão uma perspectiva otimista para a ciência
Mas aqui está o desafio: não basta apenas recuperar este gelo antigo. Os cientistas precisam extrair o ar preso para realmente entender o que está acontecendo. E, como você pode imaginar, o velho gelo não revela seus segredos facilmente.
Derreter? Não, isso não funcionaria. Fato divertido: o dióxido de carbono, um importante gás de efeito estufa, se dissolve na água. Então, se o gelo for derretido, os cientistas estariam efetivamente perdendo dados preciosos. Métodos tradicionais, como moer o gelo, também não funcionam, especialmente para o gelo ultra-comprimido e super antigo do Beyond EPICA, porque as bolhas nem mesmo são bolhas mais. Elas se transformaram em algo chamado ‘clatratos’, pressionados na própria estrutura do gelo.
Um clatrato é uma estrutura cristalina onde moléculas de um gás, por exemplo, dióxido de carbono ou metano, ficam “presas” ou “encerradas” dentro de uma rede de moléculas de água. Isso acontece sob certas condições de temperatura e pressão. Os clatratos são importantes em estudos de núcleos de gelo porque podem aprisionar e conservar amostras de atmosferas antigas, permitindo que cientistas analisem a composição atmosférica de períodos passados da Terra.
Dito isso, parece que é impossível encontrar um método eficaz para explorar essas bolhas de gás, não é? Mas nunca subestime o poder da ciência! Nossa dupla suíça, Krauss e Hubertus Fischer, está criando um método revolucionário, com o nome cativante de deepSLice.
O DeepSLice tem duas partes. Uma delas é o Dispositivo de Extração por Sublimação Induzida por Laser (LISE, em sua sigla em inglês), que ocupa metade de uma sala no laboratório da equipe que faz algo que pode parecer complexo, mas aqui está o resumo: eles direcionam um laser ao gelo, transformando-o diretamente de sólido para gás. Este método captura o ar preso no gelo e permite que eles analisem seu conteúdo de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono aprisionado.
Christo Buizert, cientista de núcleos de gelo da Oregon State University e líder de análise de gelo do COLDEX (Centro de Exploração de Gelo Mais Antigo) – o equivalente americano do Beyond EPICAoutro, está realmente impressionado e otimista com o deepSlice. “Sublimar gelo é desafiador, mas muito promissor“, diz ele. Basicamente, este método garante que obtenhamos 100% dos gases presos.
Krauss e Fischer ainda têm 3 anos pela frente para aperfeiçoar seu método antes que acessar aquela seção crítica do gelo, para quando os contêineres congeladores chegarem em um navio da Antártica via Itália.
A ciência pode estar diante de um futuro promissor em relação à pesquisa climática da Terra. Existem alguns desafios técnicos a serem resolvidos, mas as perspectivas são boas, porque a precisão que conseguiram no último experimento indica que estão no caminho certo. Mistérios milenares do clima do nosso planeta podem ser desvendados muito em breve!
Fonte: MIT – Technology Review