A caminhada é apontada como uma das indicações para ter mais saúde, porém muitas vezes essas orientações tomam a forma de tendências passageiras e conselhos que mudam rapidamente, mas a recomendação de caminhar 10.000 passos por dia se destacou de forma consistente como uma prática, de fato, benéfica.
Apesar da popularidade da indicação da caminhada, essa diretriz sempre enfrentou críticas por carecer de uma base científica sólida. Contudo, um estudo recente trouxe evidências que podem mudar a maneira como encaramos esse conselho que até então parecia arbitrário.
A origem da recomendação de 10.000 passos remonta a uma campanha de marketing japonesa dos anos 60, destinada a promover a venda de pedômetros, e não a promover diretamente a caminhada como prática para melhor saúde. Por isso, por muito tempo, a precisão desse número como indicador de um estilo de vida saudável foi questionada por especialistas em saúde. No entanto, pesquisadores da Universidade de Sydney, liderados por Matthew Ahmadi, decidiram investigar a validade desta quantidade de passos.
O estudo analisou dados de caminhada de mais de 72.000 participantes, com uma idade média de 61 anos, todos integrantes do estudo UK Biobank. Para monitorar os movimentos diários desses indivíduos, foram utilizados acelerômetros de pulso 24 horas por dia, durante uma semana completa. O acompanhamento desses indivíduos prosseguiu por quase sete anos, período durante o qual 1.633 participantes faleceram e 6.190 eventos relacionados a doenças cardíacas foram registrados.
Os resultados do estudo foram reveladores. Após ajustes para fatores que poderiam influenciar o risco de doenças ou morte — como qualidade da dieta, status de fumante e prática de outros exercícios físicos —, descobriu-se que caminhar entre 9.000 e 10.000 passos por dia está associado a um risco significativamente menor de morte precoce e eventos cardíacos. Mais especificamente, alcançar essa faixa de passos diários foi vinculado a uma redução de 39% no risco de morte e 21% no risco de um incidente cardíaco durante o período de acompanhamento.
Outro ponto importante são os insights sobre o sedentarismo: A pesquisa aponta que em 34 estudos foram demonstrados que o tempo sedentário prolongado contribui para o aumento da inflamação, do estresse oxidativo e induz efeitos adversos na função do sistema nervoso autônomo cardiovascular. Em contrapartida, um maior volume de passos diários mais elevados podem levar a adaptações cardioprotetoras.
Só vale caminhada para melhorar a saúde?
Embora estudos anteriores tivessem sugerido que a AFMV (atividade física moderada a vigorosa) poderia compensar o tempo sedentário prolongado, nesta pesquisa, em que o ritmo da caminhada considerado foi de intensidade leve, não foi apontada uma relação compensatória da quantidade de passos pelo tempo de inatividade prolongada, o que pode sugerir que existe um papel importante da intensidade da atividade física para reduzir os riscos do tempo sedentário para a prevenção de doenças cardiovasculares.
Esses achados fortalecem a posição da caminhada como uma forma eficaz de manter a saúde, mas também sugerem que o alvo de 10.000 passos, antes considerado não científico, pode de fato ser um indicador válido para um estilo de vida saudável. Dale Esliger, da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, elogiou o estudo por ajudar a refinar a ciência que embasa as diretrizes de atividade física e tempo sedentário, indicando que a meta dos 10.000 passos pode realmente ser apropriada.
Apesar dessas descobertas promissoras, o estudo enfrentou críticas relativas à metodologia, particularmente no uso de acelerômetros de pulso para contar passos. Esses dispositivos, embora úteis, podem nem sempre fornecer a medida mais precisa da atividade física, e além disso, a pesquisa não levou em conta a intensidade ou cadência da caminhada. Como apontado por Esliger, é possível que uma quantidade menor de passos realizada em um ritmo mais acelerado possa oferecer benefícios à saúde comparáveis aos de 10.000 passos dados a um ritmo de caminhada mais lento.
Ainda assim, o estudo representa um avanço significativo na compreensão dos benefícios da caminhada para a saúde. A evidência de que caminhar entre 9.000 e 10.000 passos por dia pode contribuir substancialmente para a redução do risco de morte prematura e eventos relacionados ao coração é uma informação valiosa, especialmente em uma época em que muitas pessoas procuram maneiras acessíveis e eficazes de melhorar sua saúde.