Será que animais selvagens conseguem usar a natureza para se curar como nós utilizamos nossos remédios tradicionais? Que animais possuem um certo tipo de inteligência que garante a preservação de suas vidas a gente sabe… Mas até que ponto essa inteligência os permite ter comportamentos que não são habituais que configuram uma quebra de padrões a partir de uma necessidade física de cura?
Cientistas observaram um desses animais, que agiu de forma intrigante, apresentando uma conduta que seria análoga à nossa de buscar medicamentos e formas específicas de aplicação. Olha que doideira!
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Na floresta tropical do Parque Nacional Gunung Leuser, em Aceh, na Indonésia, Rakus, um orangotango jovem e curioso, demonstrou um comportamento impressionante que surpreendeu os cientistas: ele utilizou uma planta com propriedades medicinais para tratar uma ferida no rosto. Este é o primeiro registro científico entre animais selvagens usando uma planta com fins medicinais.
Rakus foi observado pela primeira vez em 2009 por uma equipe liderada pela primatologista Caroline Schuppli, do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, na Alemanha. Rakus, cujo nome significa “guloso” em indonésio, devido ao seu hábito de devorar flores de uma vez só, tornou-se adulto e passou a disputar a dominância com outros machos na floresta. Durante essas lutas, em junho de 2022, ele sofreu um ferimento facial que aparentava ter sido causado por dentes de outro orangotango.
Dias após o incidente, os pesquisadores testemunharam Rakus mastigando os caules e folhas de uma planta chamada akar kuning (Fibraurea tinctoria), conhecida localmente por suas propriedades medicinais, utilizada na medicina tradicional para tratar doenças como diabetes, disenteria e malária e raramente ingerida pelos orangotangos.
Rakus comeu a planta e também as mastigou sem engolir, aplicando o suco das folhas cuidadosamente em sua ferida com os dedos, passando sete minutos cobrindo a região. O animal também colocou um cataplasma de purê de folhas sobre a ferida depois de algumas moscas pousarem no local. No dia seguinte, ele repetiu o procedimento, e, em apenas oito dias, a ferida estava completamente fechada.
Este comportamento é incomum entre os orangotangos da região. Durante mais de 21 anos de observação, os cientistas nunca haviam registrado outro indivíduo usando a planta para fins medicinais. Isso pode se dever ao fato de que os orangotangos raramente se ferem ou ao fato de que Rakus aprendeu essa técnica em outra área antes de se estabelecer no Parque Nacional Gunung Leuser.
Animais selvagens x humanos
Este estudo é o primeiro a documentar cientificamente um animal selvagem utilizando consistentemente uma planta com propriedades medicinais para tratar uma ferida. O primatologista Michael Huffman, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de Nagasaki, no Japão, destacou a importância dessa descoberta, mencionando que o fenômeno de automedicação não é exclusivo dos humanos. Outras espécies animais, como os gansos-das-neves, que engolem folhas inteiras para expulsar parasitas, e os ratos-do-mato, que revestem seus ninhos com plantas aromáticas para combater parasitas, também exibem comportamentos semelhantes. Além disso, chimpanzés em Gabão foram observados aplicando insetos em seus próprios ferimentos, possivelmente para tratar infecções.
A habilidade de Rakus em usar a planta para tratar sua ferida levanta questões sobre a origem do conhecimento medicinal e o papel que a observação de comportamentos desses animais pode ter desempenhado no desenvolvimento da medicina humana. Huffman sugere que nossos ancestrais podem ter observado outros animais e aprendido sobre o uso de plantas medicinais ao longo das gerações.
Este é um exemplo que nos provoca a pensar nas nossas relações com os animais e o quanto eles podem ter a nos ensinar a partir de um tipo de inteligência diferente da nossa. A habilidade de Rakus de reconhecer e usar a planta certa para curar sua ferida ressalta as ligações potenciais entre o conhecimento de humanos e animais sobre a natureza e a medicina.
Fonte: Nature