A ciência se beneficia de um cenário colaborativo entre os países, e neste momento os EUA e a China estão em meio a um debate, decidindo o futuro de um acordo de ciência e tecnologia de 44 anos, o conhecido STA (Agreement Between the United States and China on Cooperation in Science and Technology).
Primeiro, um resumo rápido: a administração Biden quer renovar essa antiga relação de cooperação científica com a China. Imagine um parceiro de laboratório de confiança com quem você tem colaborado por décadas, e vocês estão prestes a decidir se vão trabalhar em outro projeto juntos. É mais ou menos isso que está acontecendo.
O próprio Joe Biden fez um movimento: deu a ambos os lados seis meses para decidir se esta colaboração vai continuar. É como dar uma pausa na sua música favorita para ter certeza de que todos ainda estão curtindo.
Acontece que nessa música nem todos estão dançando no mesmo ritmo: Republicanos no Congresso têm suas reservas, dado o recente clima tenso entre os EUA e a China. Alguns até pedem que essa colaboração pare completamente.
No entanto, acadêmicos têm uma visão diferente, considerando todos os incríveis projetos desenvolvidos em colaboração desde 1979 (que foi quando tudo começou). Foram muitas pesquisas revolucionárias, desde a redução das taxas de mortalidade infantil até o combate às mudanças climáticas. E eles não estão prontos para desistir.
O físico da Universidade de Harvard John Holdren, que também tem experiência como conselheiro de ciência de Obama, deu sua opinião, sugerindo que embora as tensões estejam, tiveram resultados incríveis decorrentes dessas colaborações entre os dois países, e que não deveriam jogar tudo isso fora.
Mas há aqueles que veem este acordo com um olhar cético, destacando que o momento atual é diferente: Enquanto em 1979 a China era aquele calouro ansioso por conhecimento, a China de hoje busca uma troca mais igualitária ou até mesmo levar alguma vantagem. Eles argumentam que esta não é mais a inocente parceria científica de décadas atrás.
O executivo de negócios Michael Kratsios, que ajudou a negociar a última extensão de 5 anos desta parceria em 2018, durante o governo Trump, levantou uma bandeira vermelha. Sua visão é que as áreas de interesse entre os países podem ser usadas pela China para fins que não estão exatamente alinhados com os interesses dos EUA. Basicamente, ele teme dar controle total à China sem saber quais serão seus próximos passos.
O futuro da ciência e tecnologia: Os próximos passos
Então, qual é o plano agora? O Departamento de Estado concedeu uma extensão de 6 meses, que não garante uma renovação mais longa do acordo, mas permite que ambos os lados discutam possíveis alterações, a fim de garantir que qualquer colaboração esteja em sintonia com os interesses e a segurança do povo americano.
A China, por outro lado, parece bem ansiosa para continuar essa parceria. A embaixada deles em Washington, D.C. afirmou que esta parceria de quatro décadas tem sido frutífera para ambos os países, destacando todos os benefícios que têm ressoado globalmente.
Curiosamente, enquanto o STA não financia ou dita nossos projetos científicos, vale lembrar que o acordo desempenhou um papel significativo em reunir as mentes mais brilhantes dos dois lados. Tivemos parcerias que produziram estudos importantes, por exemplo sobre como o ácido fólico pode prevenir defeitos congênitos e iniciativas para reduzir as emissões de carbono.
No entanto, críticos, como o Deputado Mike Gallagher, argumentam que até os projetos não secretos podem potencialmente dar à China uma vantagem. É como compartilhar um rascunho de uma música e temer que eles façam um remix antes da faixa ser lançada.
Já os apoiadores dizem que descartar completamente o acordo seria uma reação exagerada e pode prejudicar a ciência. Sudip Parikh, CEO da AAAS (que publica o Science Insider) compara isso a “jogar fora o bebê com a água do banho”. A sugestão dos pró-acordo é uma abordagem mais equilibrada – talvez ajustar o contrato para mais transparência e compartilhamento de dados.
Huiyao Wang, presidente do Centro para a China e a Globalização, uma grande figura no campo das relações internacionais, acha que essa extensão é um passo na direção certa para a ciência de ambos os lados. Ele lembra que o STA foi a primeira parceria após os EUA e a China oficializarem relações diplomáticas. Para a China, é mais que um acordo, é um símbolo. Wang também observa que os EUA se beneficiaram do influxo de estudantes chineses, que agregaram valor às universidades e à P&D dos EUA.
Antes de finalizar, vamos pensar num panorama mais amplo: os EUA têm colaborações científicas com cerca de 60 países. No passado, renovar essa parceria com a China era algo automático. Mas hoje, com as suspeitas e a geopolítica tendo um papel mais destacado, o cenário parece mais tenso.
Ambas as administrações, de Trump e de Biden, têm mostrado alguns sinais de resistência a essa parceria. A Iniciativa China da administração Trump, destinada a combater a espionagem chinesa, lançou uma sombra sobre colaborações anteriormente prósperas entre acadêmicos dos EUA e seus colegas chineses. Parece que a administração Biden cedeu a essa pressão, evitando iniciar novas iniciativas governamentais sob o guarda-chuva do STA.
O Professor Holdren espera que a renovação do STA coloque todos de volta no ritmo em prol da ciência. Mas ele também reconhece que decidir continuar a parceria não foi fácil para a equipe Biden.
Existem desafios científicos mundiais que são alvo desta colaboração – desde a prevenção de pandemias até a segurança nuclear e monitoramento de atividades sísmicas.
As tensões políticas acabam por refletir na evolução da ciência. Agora resta saber se os dois gigantes podem encontrar um ritmo que funcione para ambos. Por ora, EUA e China têm 6 meses para decidir os próximos passos.
Fonte: Science