Como os anúncios do Google são impactados por sites junk? Já ouviu falar disso? Sites junk são páginas cheias de texto gerado por inteligência artificial, que estão atraindo dinheiro de anúncios programáticos. Segundo uma nova pesquisa da organização de mídia NewsGuard, mais de 140 marcas estão anunciando em sites de baixa qualidade.
Inteligência Artificial gerando textos e lucros
Para começar, é interessante entender como essa dinâmica funciona. Sabe aquele site com um monte de texto que parece sem sentido? Pois é, ele pode estar gerando receita para alguém. Através de chatbots de IA, esses sites são preenchidos com textos criados por algoritmos, que conseguem atrair anunciantes dispostos a pagar.
Marcas grandes anunciando em sites de baixa qualidade
Ainda de acordo com a pesquisa da NewsGuard, mais de 140 marcas importantes estão pagando por anúncios que acabam nesses sites junk. A parte mais intrigante? Provavelmente elas não fazem ideia disso. Cerca de 90% dos anúncios de grandes marcas encontrados nesses sites foram veiculados pelo Google, o que viola as próprias políticas da empresa.
Mídia programática e o problema da economia de escala da desinformação
Agora, você deve estar se perguntando como essas grandes marcas acabam anunciando em sites dos quais nunca ouviram falar. A resposta é a publicidade programática ou mídia programática. Trata-se de uma prática onde algoritmos posicionam anúncios em vários sites, baseando-se em cálculos complexos que otimizam a quantidade de visualizações que um anúncio pode atrair do público-alvo de uma empresa.
Aproveitando a oportunidade: fazendas de conteúdo
Com essa prática de anúncios, surgiram as fazendas de conteúdo, onde humanos com baixa remuneração produzem conteúdo de baixa qualidade para atrair receita publicitária. Esses sites já têm até um nome: “made for advertising” (feito para anunciar). Eles usam táticas como clickbait, vídeos autoplay e anúncios pop-up para extrair o máximo de dinheiro possível dos anunciantes.
Inteligência Artificial: uma nova forma de automatizar o processo de fazendas de conteúdo
Agora, a IA oferece uma nova forma de automatizar o processo de fazendas de conteúdo e gerar mais sites junk com menos esforço. Esse fenômeno tem crescido rapidamente. A NewsGuard, que avalia a qualidade dos sites na internet, afirma que está descobrindo cerca de 25 novos sites gerados por IA a cada semana.
O perigo da desinformação
Embora a maioria dos sites gerados por IA sejam considerados de “baixa qualidade”, alguns são convicentes e propagam informações falsas e equivocadas.
Um exemplo disso foi o caso de um site que divulgou informações relacionadas à saúde, tais como “O limão pode curar a alergia na pele?”, “Quais são os 5 remédios naturais para o TDAH?” e “Como você pode prevenir o câncer naturalmente?”, espalhando conteúdo que pode prejudicar a compreensão e tratamento adequado de doenças. Portanto, enquanto a inteligência artificial permite criar mais sites com menos esforço, ela também ameaça agravar o problema da desinformação.
Alguns desses novos sites são mais sofisticados e persuasivos que outros, com fotos geradas por IA e bios de autores falsos. E o problema está crescendo rapidamente.
O papel da Google e as violações de política
O Google Ads, o produto de anúncios do Google, faturou US$ 168 bilhões em receita de publicidade no ano passado e a empresa sofreu muitas críticas por disponibilizar seus anúncios nessas páginas com esse tipo de conteúdo de baixa qualidade.
Apesar das políticas do próprio Google proibirem a colocação de anúncios em páginas com “conteúdo gerado automaticamente com spam”, aproximadamente um quarto desses sites sinalizados pela NewsGuard apresentou anúncios programáticos de gigantes do mercado. Dos 393 anúncios de grandes marcas encontrados em sites gerados por IA, 356 foram veiculados pelo Google.
O futuro da mídia programática e da IA
Ainda é cedo para dizer como o conteúdo gerado por IA afetará o panorama da mídia programática. Afinal, para esses sites lucrarem, eles ainda precisam atrair humanos para seu conteúdo e alguns desses sites chamados “fazendas de conteúdo” podem atrair alguns milhares de visualizações a cada mês, gerando muita receita.
A solução para esse problema não é fácil, especialmente considerando que a publicidade sustenta todo o modelo econômico da internet. Como então lidar com isso? A chave vai estar em garantir que existam mecanismos mais robustos para detectar toda essa disseminação de desinformação.
Banir a publicidade?
Banir anúncios parece algo muito distante e pode não ser a melhor saída nem para o Google, nem para as empresas anunciantes.
Os avanços da inteligência artificial demandam novas práticas de segurança, monitoramento e regulamentação que precisam ser levadas em consideração por instituições públicas e privadas para que o uso dessa tecnologia seja ético e responsável. E esse papel cabe aos humanos. Não é fácil acompanhar a velocidade da evolução dessa tecnologia, mas é importante monitorar de perto todos os movimentos para mitigar problemas como esse de sites sem credibilidade.
Fonte: MIT Technology Review