Na última década, a tecnologia de edição genética CRISPR tem se destacado como uma das maiores revoluções no campo da biotecnologia, prometendo transformar a maneira como lidamos com diversas doenças genéticas.
Recentemente, cientistas têm direcionado seu foco para um novo desafio: a busca pela cura do HIV. Este vírus, que causa a AIDS, tem se mostrado um adversário astuto e resiliente, resistindo a diversas tentativas de erradicação ao longo dos últimos 40 anos.
Em uma iniciativa ambiciosa e inovadora, a empresa de biotecnologia Excision BioTherapeutics, sediada em São Francisco, decidiu utilizar a tecnologia de manipulação genética CRISPR para enfrentar o HIV diretamente. Três indivíduos infectados pelo vírus foram submetidos a este procedimento experimental, recebendo uma dose intravenosa de um medicamento de edição genética, com o objetivo de cortar e destruir o vírus em seu refúgio celular, onde quer que ele estivesse.
O CRISPR, que foi desenvolvido em 2012 com base em mecanismos de defesa das bactérias contra vírus, tem se mostrado uma ferramenta versátil. Além de ser utilizado para modificar animais e tratar doenças como a anemia falciforme, o CRISPR também tem sido aplicado na edição de genes de bebês humanos. Neste caso específico da Excision, o objetivo é utilizar o CRISPR para eliminar o vírus do HIV, marcando uma abordagem única e ousada no campo da medicina.
O primeiro paciente submetido a este tratamento experimental recebeu sua dose há aproximadamente um ano. Desde então, os médicos envolvidos no estudo têm monitorado cuidadosamente os efeitos do procedimento.
Os resultados preliminares, apresentados em uma reunião em Bruxelas, indicam que o tratamento é seguro e não apresentou efeitos colaterais significativos. No entanto, os dados detalhados sobre a eficácia do tratamento ainda estão sendo mantidos em sigilo, deixando a comunidade científica e o público em geral em suspense.
A Excision está otimista e já anunciou planos de continuar o estudo no próximo ano, aumentando as doses do tratamento em seis novos pacientes. Esta abordagem gradual e cautelosa reflete a complexidade da luta contra o HIV e a necessidade de garantir a segurança dos pacientes em todas as etapas do processo.
O HIV tem se mostrado um inimigo difícil de ser vencido, principalmente porque ele é capaz de se integrar ao DNA das células humanas, criando cópias ocultas que podem reiniciar a infecção mesmo após o tratamento com medicamentos antirretrovirais. Estes medicamentos, que atualmente representam a principal forma de controle do HIV, são capazes de impedir a replicação do vírus, permitindo que as pessoas infectadas levem uma vida normal, mas a interrupção do tratamento resulta em um rápido rebote do vírus, que pode levar à AIDS se não for controlado.
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CRISPR: Resultados e desafios
A abordagem inovadora da Excision, utilizando o CRISPR para eliminar o HIV diretamente de seu esconderijo genético, representa um passo significativo em direção à cura da doença. Esta técnica, que foi testada com sucesso em células humanas e em camundongos infectados pelo HIV, agora enfrenta o desafio final: provar sua eficácia em seres humanos.
Os pacientes que participaram do estudo da Excision continuaram a tomar seus medicamentos antirretrovirais, mas o plano é interromper esses medicamentos 12 semanas após o tratamento com CRISPR para ver se o vírus reaparece. Esta etapa, conhecida como “interrupção do tratamento analítico”, será crucial para determinar se o CRISPR conseguiu destruir efetivamente os genes do HIV. Para dois dos pacientes, tratados há alguns meses, os dados já devem ser conhecidos pela empresa, mas os resultados completos para este grupo não serão divulgados até 2024.
O setor de edição genética tem enfrentado um ambiente financeiro desafiador, com algumas empresas enfrentando quedas nos preços de suas ações e outras tendo que reduzir sua equipe. Esta realidade financeira adversa tem levado as empresas a serem mais reservadas em relação à divulgação de seus resultados, aumentando ainda mais a expectativa em torno dos resultados do estudo da Excision.
Dr. Kamel Khalili, professor da Temple University, e um dos fundadores da Excision, destaca que, mesmo que o tratamento não resulte em uma cura completa, um atraso significativo no rebote do vírus já seria um avanço considerável. Este resultado poderia abrir caminho para estratégias futuras e mais eficazes, representando mais um passo na longa jornada em busca da cura do HIV.
A Excision, com seu experimento audacioso e pioneiro, está trazendo uma nova esperança na luta contra o HIV. Utilizando a tecnologia de manipulação genética CRISPR, estão desbravando caminhos inexplorados e trazendo uma luz no fim do túnel para milhões de pessoas ao redor do mundo afetadas por esta doença devastadora. O mundo aguarda ansiosamente pelos resultados finais, na esperança de que este seja o início de uma nova era no tratamento do HIV.
Fonte: MIT Technology Review