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Da criação à reprovação da bomba atômica: A jornada de Katharine Way contra as armas nucleares

Ciência, bomba atômica e uma história incrível. Esse é o mix que envolve Katharine “Kay” Way, uma figura notável da física nuclear, é uma personalidade que combina profundidade científica com uma perspectiva humanista. Seu envolvimento no Projeto Manhattan, seguido por sua firme oposição às armas nucleares após as devastadoras consequências em Hiroshima e Nagasaki, ilustra a complexidade de sua trajetória.

A trajetória na ciência: A ascensão de uma física nuclear

Kay nasceu em 1903 na Pensilvânia, frequentou escolas internas em New Jersey e Connecticut. Em sua juventude, demonstrou um senso aguçado de independência intelectual. 

Enquanto estudava em Connecticut, não apenas se contentou com o currículo da escola, mas teve a audácia de criticá-lo. Esse traço de pensamento independente e sua paixão pela física a levaram a buscar uma educação avançada em uma era em que poucas mulheres entravam no campo da física nuclear.

Graduou-se pela Columbia University e, posteriormente, conseguiu seu doutorado em física nuclear pela University of North Carolina em 1938. Era raro para uma mulher naquela época seguir uma carreira na área, mas Kay não era de se deixar limitar pelas convenções da sociedade.

Durante a década de 1930, enquanto a Carolina do Norte enfrentava os efeitos da Grande Depressão, em particular na indústria têxtil, Kay mostrou sua empatia e consciência social. Movida pelas dificuldades dos trabalhadores, ela, juntamente com colegas, forneceu apoio material aos grevistas, solidarizando-se com suas lutas.

No olho do furacão: Projeto Manhattan

Durante a Segunda Guerra Mundial, o talento de Kay foi reconhecido e ela foi convocada para trabalhar no ultra-secreto Projeto Manhattan. Lá, focou em criar uma fonte de nêutrons para a produção de Neptunium-239, um precursor crítico para o Plutonium-239 – o coração de uma bomba atômica.

Alex Wellerstein, um acadêmico proeminente, professor do Stevens Institute of Technology que estuda a história das armas nucleares, ressalta a complexidade do trabalho de Kay, detalhando o processo pelo qual o Urânio-238 absorve um nêutron e, após uma série de decaimentos, transforma-se em Plutonium-239

Kay também desenvolveu, em colaboração com o físico Eugene Wigner, a fórmula Way-Wigner, uma abordagem revolucionária para entender o comportamento dos produtos de fissão em reatores nucleares. 

Fissão nuclear é um processo pelo qual o núcleo de um átomo se divide em dois núcleos menores, liberando uma grande quantidade de energia. Esse processo é a base da produção de energia em reatores nucleares e também da detonação de bombas atômicas. 

A formula Way-Wigner foi tão impactante que, mesmo com os avanços tecnológicos de hoje, ainda é amplamente utilizada.

Kay teve a oportunidade de colaborar com alguns dos maiores nomes da física. Além de Eugene Wigner, o físico Enrico Fermi. 

Vale falar quem foram esses caras. Eugene Wigner, era um físico húngaro-americano, laureado com o Prêmio Nobel de Física em 1963 por suas contribuições à teoria do núcleo atômico e partículas elementares. Além de seu trabalho seminal em física quântica, Wigner é amplamente reconhecido por suas pesquisas em física teórica, particularmente por suas teorias relacionadas às reações nucleares e à simetria na física, e teve também um papel significativo no Projeto Manhattan.

Enrico Fermi foi um físico ítalo-americano, amplamente reconhecido como um dos principais cientistas do século XX, e foi laureado com o Prêmio Nobel de Física em 1938 por suas descobertas relacionadas aos processos de indução de radioatividade por meio de nêutrons. Ele é particularmente conhecido por seu papel na construção do primeiro reator nuclear controlado, o Chicago Pile-1, e por sua significativa contribuição ao desenvolvimento da teoria quântica. Também teve um papel crucial no Projeto Manhattan.

Voltando à Kay: sua expertise a levou a viajar entre vários locais do Projeto Manhattan, algo atípico, já que a maioria dos cientistas ficava restrita a um único local devido à natureza secreta do projeto.

Por falar em Projeto Manhattan, clica aqui pra ver a opinião de um historiador sobre o filme Oppenheimer.

No entanto, com o término da guerra e o uso das bombas em Hiroshima e Nagasaki, a realidade do poder destrutivo das armas nucleares se tornou evidente. Foi aqui que o lado humanista de Kay ressurgiu com força total.

Junto com outros cientistas, incluindo o renomado físico Leo Szilard, ela assinou a Petição Szilard. Essa petição urgente pedia ao presidente Truman que reconsiderasse o uso da bomba atômica contra o Japão. Sugerindo que antes do lançamento, fosse destacado o poder devastador da bomba atoômica, dando assim uma chance clara de rendição do Japão. Infelizmente, essa petição nunca chegou às mãos do presidente.

Além de sua defesa contra o uso indiscriminado de armas nucleares, Kay concebeu a ideia para o livro “One World or None“. Este livro, que contou com contribuições de mentes brilhantes conhecidas como Albert Einstein e Neils Bohr, foi uma tentativa de educar o público sobre os riscos das armas nucleares. Através de sua rede e determinação, ela conseguiu reunir uma série de contribuições influentes, fazendo do livro um bestseller do New York Times.

Reprodução: Atomic Heritage Foundation

O legado para além da conscientização sobre a bomba atômica

Após a guerra, Kay continuou sua carreira acadêmica, retornando à University of North Carolina. A trajetória dela foi de longe mais ampla e diversa do que se pode resumir em poucas palavras. 

Depois de sua contribuição inestimável para o campo da física nuclear, ela mergulhou profundamente em questões sociais. Ao entrar para a Federation of Atomic Scientists (Federação de Cientistas Atômicos, em tradução livre), ela já sinalizava sua preocupação com os impactos globais da ciência, especialmente em um mundo onde a ameaça de armas nucleares pairava como uma sombra sobre a humanidade.

Nos anos sessenta, quando o país estava turbulento, Kay esteve nas linhas de frente, marchando e defendendo os direitos civis. Foi nessa época que ela fundou o jornal “Nuclear Data Sheets”, um veículo que influenciaria uma geração inteira de especialistas.

Contudo, seu caráter destemido foi verdadeiramente revelado quando ela enfrentou as turbulências políticas do macarthismo. O macarthismo foi um período de intensa perseguição anticomunista nos Estados Unidos durante os anos 1950, caracterizado por acusações infundadas e investigações agressivas lideradas pelo senador Joseph McCarthy.

Em uma época em que muitos se calavam por medo, ela levantou sua voz, defendendo colegas cientistas que foram injustamente perseguidos por procedimentos anticomunistas baseados em meros rumores.

A vida pessoal de Kay não era solitária, embora não tenha se casado. Ela encontrou comunidade e propósito entre os aposentados de Durham, Carolina do North, onde estabeleceu o comitê “Durham Seniors for Better Health in the City of Medicine“, garantindo que os idosos daquela região tivessem acesso a cuidados de saúde de qualidade e direitos financeiros adequados.

Quando a notícia de sua morte em 1995 chegou ao público, não foi apenas a comunidade científica que lamentou. Aqueles que tinham se beneficiado de sua defesa incansável, sua paixão por justiça e igualdade, e seu desejo inabalável de fazer do mundo um lugar melhor, sentiram profundamente sua perda. 

Seu obituário em uma renomada publicação de física serviu como um lembrete de seu impacto duradouro: uma mulher que se expressava com fervor, defendendo não apenas a ciência, mas a essência da humanidade e da justiça social. 

Ao mesmo tempo que o conhecimento científico de Kay Way pôde contribuir com a bomba atômica, foi seu posicionamento firme e ativo que a colocou claramente contra as armas nucleares. Ela não era espectadora da história; ela foi, sem dúvida, uma de suas protagonistas mais valentes para além da ciência

Fonte: Scientific American

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