Nosso cérebro tem complexidades que podemos não perceber logo de cara. Você já tentou aprender uma nova habilidade e se sentiu frustrado, mesmo após horas de prática contínua? Às vezes, a chave para o domínio não está no ato repetitivo de praticar, mas no que acontece nos momentos de pausa.
Imagine um pianista dedicado tentando aperfeiçoar uma peça complexa. De acordo com o estudo citado por Hopkin, apresentado na revista Cell Reports, o verdadeiro progresso na aprendizagem da música não está tanto nas horas gastas acertando cada tecla, mas nos intervalos entre as sessões de prática. Parece um conceito estranho, mas ao mergulharmos nos detalhes científicos, começa a fazer muito sentido.
Leonardo Cohen, do National Institute of Neurological Disorders and Stroke (NINDS), compara aprender uma habilidade a montar uma sequência de ações. Usando o exemplo de tocar piano, Cohen destaca que a verdadeira esta prática está na combinação certa de teclas com o timing correto, e tão importante quanto a prática contínua, os períodos de descanso também entre as sessões de prática são cruciais.
Isso acontece pela maneira como nosso cérebro processa e revisa as informações. Durante os períodos de descanso, o cérebro revisa, ou melhor, “repassa” os movimentos, unindo-os para criar uma peça fluida e coesa. É uma espécie de ensaio neural em alta velocidade que solidifica a memória e a habilidade.
Falando em compreender o cérebro… Parece que um verme pode dizer muito mais sobre nós do que poderíamos imaginar! Clica aqui e olha que coisa maluca!
Como o cérebro se comportou no experimento
Para entender melhor esse fenômeno, Cohen e sua equipe usaram uma técnica de imagem chamada magnetoencefalografia (MEG). Quando os neurônios estão ativos, enviam sinais uns aos outros, gerando pequenos campos elétricos, que podem ser medidos por essa técnica neurofisiológica não invasiva, a MEG.
A vantagem da MEG, como destaca Ethan Buch, colega de Cohen no NINDS, é que ele oferece um olhar detalhado sobre a atividade neural com uma resolução de milissegundos. Durante o experimento, os participantes digitavam sequências em um teclado e, em seguida, faziam uma pausa. O que os pesquisadores descobriram foi notável: durante as pausas, o cérebro “repassava” a sequência digitada em uma versão muito mais rápida, como uma recapitulação acelerada da atividade.
Para colocar em perspectiva, um conjunto de teclas que poderia levar um segundo para ser digitado era “repassado” pelo cérebro em meros 50 milissegundos. Isso é uma compressão impressionante de 20 vezes!
Aqui está a parte ainda mais importante: quanto mais o cérebro “repassava” a sequência, mais rapidamente o participante melhorava na tarefa. No início, os participantes digitavam a sequência cinco a seis vezes em dez segundos. Durante o repouso, o cérebro “repassava” cerca de 25 vezes no mesmo intervalo de tempo. Esse rápido “ensaio” neural intensifica o aprendizado e a memória.
A grande lição é que quando estiver tentando aprender algo novo, seja tocar um instrumento ou fazer qualquer outra coisa, lembre-se de dar ao seu cérebro os intervalos de que ele precisa. Essas pausas são o momento em que seu cérebro faz o “trabalho pesado” de consolidar a memória e a habilidade.
Olhar sistematicamente para o nosso cérebro traz importantes perspectivas sobre nossa produtividade e capacidade de aprendizado. Se pensarmos em quanto tempo ficamos sentados na frente do computador vs. o que realmente produzimos ou aprendemos, muitas vezes chegaremos a conclusão que poderíamos ter ficado muito menos tempo olhando para a tela e que isso sim nos faria produzir ou aprender mais.
Nosso cérebro parece ser contra o famoso ficar “batendo cabeça”. O atual momento da nossa sociedade e do mercado de trabalho pode nos dar a impressão de que estaremos mais produtivos quanto mais tempo estivermos debruçados sobre algo. Mas parece que isso não é bem assim… A coisa toda da “alta performance” pode cair por terra se não soubermos como extrair o melhor do nosso cérebro!
Ao tentar praticar algo, aprender algo novo ou até cumprir sua agenda normal, coloque o “dar um tempo” no fluxo. Seja paciente consigo mesmo e entenda que a pausa faz parte do processo. Seu cérebro vai te agradecer!
Fonte: Scientific American