O destino de uma supernova icônica foi revelada pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST). Trata-se de uma das explosões estelares mais emblemáticas e estudadas da história: a supernova 1987A. Este fenômeno astronômico, que capturou a atenção de cientistas e entusiastas da astronomia ao redor do mundo, ocorreu em uma galáxia que orbita a Via Láctea, conhecida como a Grande Nuvem de Magalhães (do inglês Large Magellanic Cloud). A luz desta explosão estelar alcançou a Terra há 37 anos, proporcionando uma oportunidade sem precedentes de observação direta dos últimos estágios da vida de uma estrela.
Desde então, astrônomos empenharam-se em decifrar os mistérios deixados pela supernova 1987A, particularmente em relação ao que residia em seu núcleo pós-explosão: um buraco negro ou uma estrela de nêutrons, como muitos previam. O desafio era imenso, dada a complexidade de observar diretamente o coração de uma supernova, obscurecido por densas camadas de poeira e gás.
A entrada do JWST em cena mudou dramaticamente o curso dessa busca, e através de suas observações inovadoras, o telescópio detectou sinais de luz provenientes de átomos de argônio e enxofre ionizados, uma indicação clara da presença de uma estrela de nêutrons, alimentada pela radiação intensa do objeto cósmico. Estava aí a evidência mais forte até então da existência de uma estrela de nêutrons no cerne da SN 1987A, o que resolveu um enigma que perdurava por décadas.
A supernova 1987A se destacou no campo da astronomia não apenas pela sua proximidade relativa à Terra, a cerca de 160.000 anos-luz de distância, mas também pela riqueza de dados que ofereceu aos cientistas. Observada pela primeira vez em fevereiro de 1987 através de uma onda de neutrinos — partículas quase sem massa que atravessam o espaço quase sem interação com a matéria —, a explosão revelou-se brilhante o suficiente para ser vista a olho nu, um evento raro na história da observação celestial desde o início da era do telescópio no século XVII.
Nos anos seguintes, a supernova 1987A continuou a fascinar os cientistas com a evolução de suas estruturas de gás e poeira, fornecendo insights valiosos sobre o ciclo de vida estelar e o processo pelo qual as estrelas morrem e dispersam elementos químicos essenciais pelo cosmos. Ainda assim, a natureza do resíduo estelar permaneceu um mistério.
O JWST, lançado no final de 2021, representou uma revolução nas capacidades de observação astronômica, oferecendo uma resolução e alcance em comprimentos de onda inatingíveis para telescópios anteriores. Em julho de 2022, observou a SN 1987A por nove horas, coletando dados de qualidade excepcional. Foi essa capacidade única que permitiu aos astrônomos detectar a assinatura de gases ionizados, indicando a presença de uma estrela de nêutrons.
Avançando nas descobertas sobre a supernova 1987A
Apesar de não ser uma confirmação absoluta, as observações do JWST forneceram a evidência mais convincente até o momento da existência de uma estrela de nêutrons no local da explosão, um resultado que aponta para o poder do JWST em desvendar mistérios do universo que antes estavam além do nosso alcance.
Agora, com a presença de uma estrela de nêutrons mais firmemente estabelecida, o foco se volta para entender melhor suas características e evolução. Os astrônomos estão particularmente interessados em descobrir se a estrela de nêutrons é cercada por campos magnéticos poderosos, o que poderia fornecer mais pistas sobre os processos físicos que ocorrem em seu interior.
À medida que a supernova 1987A continua a expandir-se, a expectativa é que a poeira e o gás que atualmente bloqueiam a luz do centro se dispersem, permitindo uma observação mais direta da estrela de nêutrons. Este é um desenvolvimento que muitos na comunidade científica aguardam com grande expectativa, pois além da promessa de esclarecer os mistérios remanescentes da SN 1987A, aponta para a possibilidade de enriquecer nossa compreensão dos estágios finais da evolução estelar.
A descoberta da estrela de nêutrons na SN 1987A pelo JWST é um marco na astronomia, sugerindo outras possibilidades de compreensão sobre o destino dessa emblemática supernova.
Fonte: Nature