Sono é sinônimo de estar desconectado? Se você já imaginou que dormir é como desligar um interruptor, prepare-se para ser surpreendido!
O sono sempre foi considerado um momento em que nosso cérebro se desconecta do mundo externo, mas uma recente pesquisa publicada na Nature Neuroscience sugere que, mesmo durante o sono, ainda podemos estar sintonizados com o mundo ao nosso redor em certas fases a ponto de responder a alguns comandos simples.
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A visão tradicional do sono
Historicamente, dormir era como se estivéssemos em um “blackout” completo, isolados do mundo exterior, como se nosso cérebro baixasse uma persiana, impedindo qualquer interação com estímulos externos.
Delphine Oudiette, cientista cognitiva do Instituto do Cérebro de Paris, na França, e coautora do estudo, ressalta que a definição clássica de sono era um estado em que a consciência do ambiente cessava, ou, em outras palavras, não deveríamos ser capazes de reagir ao mundo exterior.
Acontece que isso começou a ser questionado há alguns anos, quando a própria Oudiette e sua equipe conduziram um experimento interessante, em que conseguiram se comunicar com pessoas que estavam cientes de que estavam sonhando enquanto dormiam, os famosos sonhadores lúcidos. A comunicação ocorreu por meio de movimentos oculares e por músculos faciais, revelando novos caminhos na pesquisa do sono.
O sono não-lúcido
Karen Konkoly, co-autora desse estudo e cientista cognitiva da Northwestern University em Evanston, Illinois, trouxe um questionamento intrigante após a publicação desse primeiro artigo: será possível comunicar-se também com os sonhadores não-lúcidos?
Para responder a isso, Oudiette e sua equipe deram um passo adiante em suas investigações, e no novo experimento, assistiram 27 pessoas com narcolepsia, uma condição caracterizada por sonolência diurna e alta frequência de sonhos lúcidos, e outros 22 indivíduos sem a condição.
Enquanto esses participantes dormiam, eles eram instruídos a sorrir ou franzir a testa, e acredite se quiser, todos eles responderam corretamente a pelo menos 70% desses comandos!
Os resultados foram ainda mais impressionantes durante o sono REM (Rapid Eye Moviment ou Movimento Rápido dos Olhos), uma fase em que, apesar de estarmos dormindo profundamente, o cérebro permanece bastante ativo.
Através da eletroencefalografia (EEG), os pesquisadores monitoraram a atividade cerebral dos participantes, confirmando esses resultados fascinantes.
Oudiette sugere que alguns estados fisiológicos do sono podem ser mais propícios à recepção de estímulos externos, ou seja, em certos momentos, mesmo dormindo, ainda estamos ligados no mundo exterior.
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O futuro da pesquisa do sono
Os resultados desse estudo têm implicações significativas para o futuro da pesquisa do sono.
Por exemplo, entender esses estados receptivos enquanto dormimos pode ajudar a lançar luz sobre distúrbios como insônia e sonambulismo. Além disso, pode auxiliar na identificação das partes do cérebro ativas quando adormecemos e como elas se relacionam com a consciência.
E não é só isso. Como destaca Mélanie Strauss, neurologista e cientista cognitiva do Hospital Erasmus em Bruxelas, Bélgica, os pesquisadores estão combinando o EEG com diferentes tarefas e estímulos, e essas abordagens refinadas poderão desvendar especificidades de diversas doenças ou condições relacionadas ao sono.
Que dormir é importante para nossa qualidade de vida, isso já é um fato, e a pesquisa no campo continua a surpreender e a desafiar nossas noções tradicionais.
Fonte: Nature