A tomada de decisão na vida adulta recebe muito destaque nos diálogos contemporâneos. Mas será que compreendemos o papel da infância no que decidimos hoje? A educação que recebemos não se limita à sala de aula, ela começa muito antes, no ambiente em que crescemos, e envolve não só o ensino formal, mas também os recursos sociais e econômicos que moldam nossas estratégias de vida.
Uma nova pesquisa da Cornell University revela que a maneira como avaliamos riscos na tomada de decisão na vida adulta está diretamente ligada ao tipo de educação e recursos que tivemos na infância.

Quando falamos em educação, pensamos rapidamente em escolas, diplomas e professores, mas a ciência lembra que o conceito é mais amplo: é um processo contínuo de adaptação ao ambiente, no qual o cérebro aprende a usar os recursos disponíveis para lidar com desafios. Nesse sentido, dois tipos de recursos exercem papel central: Os recursos econômicos, que são estabilidade financeira, acesso a bens e serviços; e os recursos sociais: redes de apoio, vínculos de confiança e segurança emocional.
A pesquisa separou esses fatores para entender como cada um influencia a tomada de decisão de risco na vida adulta, – algo que a maioria dos estudos anteriores tratava como um único pacote.
Dois tipos de infância, duas histórias de tomada de decisão
O estudo envolveu 48 adultos, divididos em dois grupos com base nas condições de sua infância:
Socialmente ricos: cresceram com forte apoio social, mas com menos recursos econômicos.
Economicamente ricos: tiveram mais estabilidade financeira, mas menos suporte social.
Essa distinção é importante porque educação não é apenas “ter mais” ou “ter menos”, mas aprender a viver e decidir com aquilo que estava disponível. A forma como avaliamos riscos mais tarde na vida pode ser resultado direto dessas lições iniciais.
Para investigar e revelar a tomada de decisão, os participantes realizaram o Balloon Analog Risk Task (BART), um jogo em que cada “inflada” num balão virtual rende alguns centavos; mas, se o balão estourar, todo o dinheiro acumulado é perdido. Esta é uma medida controlada de disposição ao risco, muito usada em pesquisas de psicologia e neurociência.
Durante o jogo, o cérebro dos participantes foi monitorado por ressonância magnética funcional (fMRI), técnica que mostra quais áreas cerebrais ficam mais ativas durante a tarefa. Eles também responderam questionários sobre sua educação e recursos na infância e na vida adulta, incluindo renda familiar, segurança do bairro e nível de apoio social atual.
Os resultados que relacionam estratégias cerebrais e educação foram surpreendentes: Os dois grupos assumiam níveis semelhantes de risco no jogo; ou seja, o tipo de educação e recursos na infância não alterou quanto risco cada pessoa assumia, mas sim como o cérebro chegava à decisão.
Um “freio” que todos têm
Em ambos os grupos, assumir riscos ativou o giro supramarginal, área ligada à atenção e ao controle das ações. A atividade nessa região estava associada a tomada de decisão que exigia mais cautela, funcionando como um “freio neural” para evitar excessos.
Além disso, foi constatado um esforço extra nos participantes socialmente ricos. Nestes participantes, a tomada de risco também ativou áreas occipito-parietais, responsáveis por processamento visual e atenção espacial, indicando que, para esse grupo, decidir sobre o envolvimento de riscos exige mobilizar mais recursos de atenção e análise detalhada.
Um ponto importante: quando essas pessoas tinham alto apoio social na vida adulta, precisavam menos dessa atividade extra. Isso quer dizer que o apoio social tornava o processo de tomada de decisão mais eficiente e, no jogo, até aumentava os ganhos.
Os cientistas observaram ainda que a conexão entre o giro supramarginal e o córtex pré-frontal variava conforme a compatibilidade entre os recursos da infância e os recursos atuais. Esse fenômeno, chamado especialização sensibilizada, mostra como a educação recebida nos primeiros anos continua influenciando a forma como o cérebro se ajusta a novos contextos.
Tomada de decisão e a educação no presente
Esses achados indicam que comportamentos iguais podem esconder mecanismos diferentes. Duas pessoas podem ter a mesma tolerância ao risco, mas usar estratégias mentais distintas para tomada de decisão, moldadas por uma educação baseada mais em recursos sociais ou mais em recursos econômicos.
Isso tem implicações diretas para políticas públicas, programas educacionais e estratégias de desenvolvimento pessoal. Ao entender a origem dessas diferenças, é possível criar ações que respeitem as particularidades de cada trajetória.
Em um ambiente universitário, por exemplo: Estudantes com educação socialmente rica, mas que hoje têm pouco apoio social, podem se beneficiar de iniciativas que ampliem redes de contato e integração. Já estudantes com educação economicamente rica, mas menos apoio social no passado, podem se desenvolver mais com programas voltados a habilidades socioemocionais.
Claro, esse experimento que analisa a tomada de decisão, mostra que ideal seria oferecer suporte econômico e social equilibrado, permitindo que todos usem seu potencial cognitivo de forma mais eficiente.
A pesquisa reforça aspectos da educação que deixam marcas duradouras no cérebro.
em um sentido amplo, que inclui recursos sociais e econômicos. A partir disso, pode-se dizer que embora a educação não determine exatamente o que você vai fazer, ela define o caminho mental da tomada de decisão. Compreender esse caminho é essencial para criar ambientes que maximizem o uso saudável e equilibrado dessas estratégias.
A educação não é apenas o que aprendemos na escola, mas também o conjunto de recursos e experiências que moldam nossa forma de pensar e agir. Reconhecer isso é um passo fundamental para entender como nos tornamos quem somos, e como nossa tomada de decisão sofre influências que precisamos compreender com profundidade.
Fonte: Cornell University