As mudanças climáticas são sentidas de diversas formas, e o calor é uma delas, chegando a ser letal.
Era um dia como qualquer outro em Pasadena, Califórnia. Esteban Chavez Jr., um jovem de 24 anos, faz seu trajeto rotineiro trabalhando como motorista. Era 25 de junho de 2022, a cidade passava por uma intensa onda de calor e os termômetros ultrapassavam os 32ºC. Passaram-se 20 minutos até que o dono da casa onde Esteban fez sua última entrega do dia percebesse que ele havia caído da cabine de seu caminhão. Vítima de insolação, a família confirmou que ele não resistiu à exaustão depois da exposição ao calor extremo.
Infelizmente, casos como o de Chavez não são tão incomuns. Desde os anos 80, os EUA têm visto um aumento de doenças e mortes relacionadas ao calor. Uma pesquisa da Agência de Proteção Ambiental dos EUA indica que cerca de 1.300 pessoas morrem todos os anos devido à exposição ao calor extremo. Com o clima ficando cada vez mais quente por causa das mudanças climáticas, esse número provavelmente vai aumentar, obviamente não só nos EUA, mas no mundo todo.
Pode parecer óbvio, mas vale a pena reforçar: o calor extremo pode danificar o sistema nervoso central, o cérebro e outros órgãos vitais, além de agravar doenças já existentes. Trabalhadores ao ar livre, independentemente da idade, são os mais propensos a sofrer com a exposição a essas temperaturas que também apresentam alto risco para a população mais velha e crianças, que podem ter uma capacidade inferior a de um adulto para regular suas temperaturas corporais de forma eficaz. Os portadores de doenças crônicas também estão muito vulneráveis.
Surpreendentemente, o as altas temperaturas é a causa número um de morte relacionada ao clima nos EUA, matando mais pessoas na maioria dos anos do que furacões, inundações e tornados combinados.
A mudança climática causada pela urbanização
Desde 1880 até 1980, a temperatura média mundial subiu cerca de 0,07ºC a cada 10 anos. Desde 1981, a taxa de aumento mais do que dobrou, e nos últimos 40 anos, a temperatura anual global aumentou 0,18ºC por década.
A urbanização é um grande vilão, agravando a situação. Cidades grandes, com seus prédios, estradas asfaltadas e estacionamentos, absorvem e retêm calor, criando o que chamamos de “ilhas de calor“. Dentro dessas ilhas de calor, existem pontos ainda mais quentes, onde o verde é praticamente inexistente.
A Scientific American mencionou que de acordo com a Divisão da População das Nações Unidas, 68% da população estará concentrada em áreas urbanas até 2050, acima dos 55% por cento registrados em 2018.
Mas a taxa de urbanização (pessoas que se deslocam de áreas rurais para cidades) global, aponta diferenças entre as nações: 82% das pessoas na América do Norte já vivem em ambientes urbanos, na China, 65% e 43% na África. Nos EUA, essa taxa aumentou de 50% na década de 1950 para 83% em 2020. Esse rápido crescimento, além das mudanças ambientais, agrava os fatores de estresse na saúde humana e na infraestrutura.
As mais altas temperaturas já registradas
Os 10 anos mais quentes já registrados nos EUA aconteceram desde 2010, e agora, na primeira semana de julho de 2023, foram registradas as maiores temperaturas globais de todos os tempos. Além de apontar o extremo para um verão no hemisfério norte, as máximas destacam o ritmo lento do progresso global na redução das emissões, que precisam ser reduzidas em 60% abaixo dos níveis esperados para o intervalo de 2019 a 2035.
Recordes de temperaturas em Pequim são resultado da nova onda de calor na China, em junho passado mortes em algumas regiões mais pobres da Índia são ligadas ao calor intenso e uma perigosa cúpula de calor cobriu o Texas e o norte do México, enquanto o Reino Unido passou pelo mês de junho mais quente já registrado.
E o desenvolvimento do fenômeno El Niño, esperado pela primeira vez em sete anos, está trazendo condições que podem aumentar ainda mais as temperaturas.
A tecnologia pode ajudar nas mudanças climáticas?
Como podemos aliviar os efeitos negativos do calor extremo? Em Baltimore, uma cidade que apresenta os efeitos mais intensos de ilhas de calor urbana nos EUA, pesquisadores da Howard University estão usando uma abordagem de ciência cidadã, desenvolvendo um aplicativo que combina dados meteorológicos, comunicação de risco e informações de saúde comportamental.
Porém, mesmo com toda essa tecnologia, a questão principal ainda parece ser a falta de percepção de risco pessoal. Muitos participantes dos estudos em Baltimore estavam cientes dos riscos gerais do calor, mas isso não se traduzia em ações de proteção pessoal.
Você pode conferir como a ciência está avançando com alternativas inusitadas para colaborar com o meio ambiente como carne artificial e micróbios!
O que fazer, então?
Embora não exista uma abordagem infalível para lidar com os riscos associados à exposição ao calor elevado, falar mais sobre o que está em jogo é um bom começo. Afinal, os perigos do calor excessivo vão além da saúde física – existem consequências econômicas também. Segundo o Atlantic Council, os EUA podem perder cerca de $100 bilhões anualmente devido aos efeitos do calor extremo.
Se você quiser ver mais informações sobre essas mudanças climáticas, pode acessar o artigo da Scientific American que traz outros dados, gráficos e números alarmantes.
A esperança é que com o tempo e esforço coletivo, possamos mudar essa história. Há um movimento crescente para lidar com as ilhas de calor urbanas e tornar nossas cidades mais verdes e menos quentes. E esperamos que, com uma melhor comunicação de risco e maior consciência e mobilização de órgãos públicos, privados e de toda sociedade, possamos nos proteger desses impactos.