Se lidos pela ciência, o que nossos olhos podem nos dizer? E olha que nem estamos falando da parte lúdica da coisa!
Pesquisadores de Stanford desenvolveram uma abordagem inovadora para medir o envelhecimento ocular. Em vez de se concentrar nas rugas ao redor dos olhos, o estudo foi mais profundo, analisando o que há dentro deles, especificamente as proteínas presentes no fluido ocular.
A equipe de Stanford, liderada por Vinit Mahajan, MD, PhD, professor de oftalmologia, deu um passo além ao analisar biópsias líquidas retiradas do humor aquoso do olho, aquele fluido que fica entre a lente e a córnea, enquanto os pacientes estavam sob anestesia local durante uma cirurgia. Eles estavam determinados a entender como diferentes doenças dos olhos impactam o envelhecimento celular.
A análise focou em doenças como retinopatia diabética, que faz os vasos sanguíneos do olho vazarem e pode levar à perda da visão; retinite pigmentosa, que destrói as células sensíveis à luz no fundo do olho; e uveíte, uma inflamação dentro do olho. Cada uma dessas condições, como se descobriu, tem uma assinatura única no nível celular.
Com a ajuda de um algoritmo de inteligência artificial treinado usando fluido dos olhos de 46 pacientes saudáveis, a equipe foi capaz de prever a idade do indivíduo. Eles então alimentaram o algoritmo com quase 6.000 proteínas presentes no fluido para ver se um subconjunto dessas proteínas poderia prever a idade do paciente. E bingo! 26 proteínas foram identificadas, podendo prever a idade quando usadas em conjunto.
A comparação entre o fluido de olhos doentes e saudáveis revelou que pacientes com olhos doentes tinham proteínas que indicavam uma idade biológica significativamente mais alta: 12 anos a mais em pacientes com retinopatia diabética em estágio inicial, 31 anos a mais nos estágios avançados, 16 anos a mais em pacientes com retinite pigmentosa e impressionantes 29 anos a mais em pacientes com uveíte.
Mas talvez o mais intrigante seja o fato de que as células responsáveis por indicar essa idade avançada eram diferentes em cada doença: células vasculares na retinopatia diabética em estágio avançado, células retinianas na retinite pigmentosa e células imunológicas na uveíte.
Um ponto de muita atenção é que: algumas células que são comumente alvo de tratamentos não são as mais envolvidas na doença, sugerindo uma reavaliação necessária das terapias atuais. Por exemplo, drogas para diabetes geralmente miram nas células dos vasos sanguíneos, mas o estudo descobriu um grande aumento de proteínas em macrófagos, células do sistema imunológico, ao passar de um estágio saudável para um estágio avançado de retinopatia diabética.
A descoberta de que algumas células mostraram envelhecimento acelerado antes mesmo dos sintomas aparecerem abre uma nova porta para tratamentos preventivos, sugerindo que tratar o caminho molecular de forma precoce, poderia evitar danos irreparáveis antes que seja tarde demais.
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A transformação celular através dos olhos
Vincular o tratamento tanto às células em envelhecimento quanto às afetadas pela doença pode ser a chave para terapias mais eficazes. As células não operam em isolamento, e entender suas interações e influências mútuas abre novas avenidas para intervenções médicas mais precisas e personalizadas.
A técnica utilizada foi a TEMPO (“tracing expression of multiple protein origin” ou “rastreamento de expressão de múltiplas origens de proteínas”, em tradução livre), que, juntamente com o relógio de proteômicos de IA para analisar envelhecimento ocular, tem um futuro promissor para além dos olhos.
Os pesquisadores estão otimistas de que essa abordagem pode ser estendida a outros fluidos orgânicos, como a bile hepática e o líquido sinovial das articulações, aumentando assim o escopo da pesquisa. Essa expansão não poderia revolucionar o campo da medicina molecular.
Os ensaios clínicos estão na linha de frente da pesquisa médica, testando novos tratamentos e terapias para uma variedade de condições. No entanto, o alto índice de falhas — cerca de 90% dos candidatos a medicamentos falham nos ensaios clínicos — destaca a necessidade de uma compreensão mais aprofundada dos processos celulares subjacentes às doenças. Aqui, a abordagem TEMPO e o relógio de envelhecimento podem oferecer uma visão mais detalhada, aumentando as chances de sucesso dos ensaios clínicos e, por fim, levando a tratamentos mais eficazes.
A jornada através do olho humano revela uma intrincada e complexa relação de células, cada uma desempenhando seu papel em relação à saúde dos olhos do envelhecimento. É como se estivéssemos agora equipados com uma lupa molecular, capaz de examinar as células vivas em detalhes inéditos. Conhecer os pacientes intimamente no nível molecular não é apenas um avanço para a saúde de precisão, é um passo gigantesco para ensaios clínicos mais informados e terapias personalizadas.
Fonte: Neuroscience