Em um estudo inovador intitulado “Consciência como uma Fusão da Hipótese da Rede Neuronal Global (GNW – do inglês Global Neuronal Workspace) e o Mecanismo Tripartite de Memória”, publicado no International Journal of Psychiatry Research, o Dr. Gerard Marx da MX Biotech e o Prof. Chaim Gilon da Universidade Hebraica de Jerusalém oferecem uma nova perspectiva sobre um dos enigmas mais fascinantes da neurociência: a consciência.
Este estudo integra as teorias sobre como as informações são processadas no cérebro e em como as memórias emocionais são armazenadas, sugerindo que, ao contrário de simplesmente funcionar como um computador que armazena dados, nosso cérebro codifica memórias de uma forma muito mais complexa e emocionalmente carregada.
A consciência sempre foi um tema que desafiou os limites do conhecimento humano, levando-nos a questionar a essência do que significa estar consciente. Tradicionalmente, a memória neural era comparada ao armazenamento de dados em computadores — um modelo estático e desprovido de nuances emocionais. Contudo, este novo estudo propõe uma visão radicalmente diferente, sugerindo que a consciência é profundamente influenciada pelas memórias emocionais armazenadas dentro de redes neurais complexas.
O trabalho de Marx e Gilon é uma tentativa de integrar duas teorias bem estabelecidas na neurociência. A primeira, a Hipótese da Rede Neuronal Global (GNW), que em português é mais conhecida como “Espaço de Trabalho Neuronal Global”, propõe que existe uma rede de neurônios interconectados que difundem informações pelo cérebro, permitindo a emergência da consciência. A segunda, o Mecanismo Tripartite de Memória, enfoca os processos pelos quais as memórias são armazenadas e acessadas, destacando especialmente os componentes emocionais e bioquímicos da memória.
Ao combinar estas duas teorias, os pesquisadores propuseram um modelo em que a memória não apenas suporta a função cerebral básica, mas realmente dá forma à experiência consciente através do que eles chamam de “nuvem cerebral”, um conceito que se refere à maneira como as informações fluem de maneira integrada através das regiões anatômicas do cérebro, facilitada pela GNW, criando uma rede unificada que fomenta a consciência através da memória emocional.
Uma das contribuições mais significativas deste estudo é a descrição de como os neurônios usam cátions (íons com carga positiva que resultam da perda de um ou mais elétrons por um átomo ou molécula) de metais de traço e neurotransmissores para codificar estados emocionais dentro da matriz extracelular neural. Este processo bioquímico complexo oferece uma compreensão mais rica e detalhada do armazenamento de memória, muito além das simples atividades elétricas tradicionalmente associadas à memória neural.
Marx e Gilon também discutem a importância evolutiva da sinalização química bacteriana no desenvolvimento da memória neural e da consciência em organismos mais complexos, sugerindo que esses processos de comunicação primitivos são a base para funções neurais mais sofisticadas, o que proporciona um novo entendimento sobre como a vida transitou para a consciência através da evolução da memória.
O estudo explora como as alterações nos níveis de metais podem afetar as funções de memória e potencialmente contribuir para distúrbios como a doença de Alzheimer e o autismo. A descoberta de que certos metais, ao se ligarem dentro da matriz extracelular neural, podem alterar sua estrutura e formar complexos que servem como unidades fundamentais de memória, abre novos caminhos para entender como as perturbações na regulação desses metais podem impactar a memória e, por extensão, a consciência.
Um novo paradigma sobre a consciência
Os autores desafiam a adequação da Teoria da Informação baseada em computador para explicar completamente a memória neural.
A Teoria da Informação, que foi desenvolvida por Claude Shannon na década de 1940, é um ramo matemático que estuda a transmissão, processamento e armazenamento de informações. Essencialmente, essa teoria quantifica a quantidade de informação em mensagens e analisa a capacidade dos canais de comunicação para transmitir essas mensagens de forma eficiente, lidando com conceitos como entropia da informação, redundância, capacidade de canal, e codificação de erro. A teoria é fundamental para várias áreas tecnológicas, incluindo telecomunicações, criptografia e compressão de dados.
No contexto deste novo estudo, os autores do questionam se essa teoria é suficiente para explicar a complexidade da memória neural, sugerindo que a experiência emocional e a bioquímica envolvida nas redes neurais desempenham um papel fundamental que vai além dos modelos computacionais tradicionais.
Eles argumentam que o conteúdo emocional armazenado dentro das redes neurais diverge significativamente dos dados padrão de computador, proporcionando uma fundação para a memória neural que adiciona profundidade e significado à experiência consciente.
Isso pode redefinir nossa compreensão da consciência, ampliando as fronteiras do que sabemos sobre a interação entre emoção e memória. Ao mapear o progresso da sinalização neural desde a comunicação química bacteriana até a consciência dos primatas, Marx e Gilon fornecem uma possibilidade de investigação abrangente para explorar a interação complexa entre memória, consciência e evolução. O que coloca um convite para podemos desvendar alguns dos mistérios mais profundos da mente humana.