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Transtornos de aprendizagem: Conhecemos a dislexia, mas você já ouviu falar em discalculia?

Você já ouviu falar no transtorno de aprendizagem chamado discalculia? A dislexia é um termo familiar para muitos, conhecido por desafiar o processo de leitura e compreensão de texto, mas a condição paralela e menos discutida, a discalculia, afeta a capacidade de uma pessoa em entender e processar informações numéricas.

Estimativas sugerem que entre 3 a 7% da população mundial enfrenta a discalculia, embora muitas vezes permaneça sem diagnóstico. Esta condição, reconhecida como um transtorno de aprendizagem específico pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), manifesta-se tipicamente na infância, influenciando diretamente a capacidade de compreender matemática e informações baseadas em números. Curiosamente, a inteligência geral dos indivíduos com discalculia não é afetada; trata-se, antes, de uma diferença na forma como seus cérebros processam conceitos matemáticos.

A discalculia não apenas desafia o entendimento matemático. Aqueles que vivem com a condição frequentemente lutam com inferência transitiva — uma forma de raciocínio dedutivo crucial para relacionar itens em uma sequência lógica

Além disso, tarefas cotidianas como gerenciar o tempo, distinguir esquerda de direita e seguir instruções sequenciais podem se tornar obstáculos significativos. A complexidade do transtorno da discalculia se estende também às suas comorbidades, não sendo incomum que indivíduos com discalculia também apresentem transtornos de saúde mental, como ansiedade, distúrbios de pânico, depressão, além de outras condições neurodivergentes como TDAH, transtorno do processamento sensorial, transtorno do espectro autista e dislexia.

Compreendendo o transtorno da discalculia

O DSM-5 é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em sua 5ª edição, sendo um guia publicado pela Associação Americana de Psiquiatria que fornece critérios padronizados para o diagnóstico de transtornos mentais, onde está incluso o transtorno da discalculia. Porém, a pesquisa sobre o assunto ainda está em seus primeiros passos, com muitas perguntas sobre suas causas e tratamento permanecendo sem resposta. 

A falta de compreensão sobre a discalculia por educadores e pesquisadores contribui para sua subdiagnóstico. Uma criança com dislexia é significativamente mais propensa a ser diagnosticada e receber apoio do que uma criança com discalculia, refletindo uma falta de conscientização e uma valorização cultural da leitura sobre a matemática.

A matemática, um campo vasto e complexo, requer a construção progressiva de habilidades sobre habilidades anteriores, apresentando desafios únicos na compreensão e no tratamento da discalculia. Além disso, a discalculia é um transtorno heterogêneo, não existe uma única causa ou conjunto de sintomas que definam todas as manifestações do transtorno, o que significa que cada caso de discalculia é único, complicando ainda mais os esforços de pesquisa.

Recentemente, o foco da pesquisa se expandiu além das habilidades matemáticas específicas do domínio, examinando como esses sistemas numéricos interagem com habilidades cognitivas gerais, como função executiva e memória. Essa abordagem mais holística reconhece a complexidade do funcionamento cognitivo na discalculia e sugere caminhos promissores para tratamentos mais eficazes como, por exemplo, a importância destacada em estudos recentes do controle inibitório, uma faceta da função executiva, na supressão de informações distrativas e respostas indesejadas durante tarefas matemáticas.

A investigação sobre a discalculia também aponta para uma grande questão em aberto: ela é originada de uma percepção numérica inata deficiente ou de uma “cegueira numérica”, ou seja, a incapacidade de reconhecer símbolos numéricos e conectá-los às quantidades que representam? Um estudo amplo, incluindo 1.303 crianças, sugere que a cegueira numérica pode ser a causa subjacente. Independentemente das origens da discalculia, é claro que habilidades cognitivas adicionais são fundamentais para a capacidade matemática, abrindo novas avenidas para a pesquisa e intervenção.

Um aspecto fascinante da discalculia é a sua relação com habilidades de ordenação não-numéricas e numéricas, e desempenho matemático. Pesquisas mostram que a capacidade de ordenar elementos — seja em contextos numéricos ou não-numéricos — pode ser um forte preditor das habilidades matemáticas. Treinamentos focados em habilidades de processamento ordenado mostraram melhorias significativas nas habilidades matemáticas e na ansiedade matemática, sugerindo que essas habilidades fundamentais podem servir como blocos de construção cruciais para a compreensão matemática.

Os pesquisadores permanecem otimistas quanto à desvendar o mistério da discalculia e o desafio da diversidade de suas manifestações. Um caminho promissor para avançar na pesquisa envolve a padronização de definições e critérios de diagnóstico, bem como o aumento do tamanho das amostras em estudos. Como em outras áreas da ciência, a colaboração global e o compartilhamento de protocolos podem acelerar o progresso. Ao seguir o exemplo de pesquisadores genômicos e estabelecer consórcios de pesquisa, podemos esperar um avanço significativo na compreensão da discalculia.

Fonte: Scientific American

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