Já pensou em viver fora da Terra? A NASA e até Elon Musk com a SpaceX têm sonhado alto em relação a isso. Mas será que esses sonhos são realmente alcançáveis?
O programa Artemis da NASA tem planos audaciosos: colocar astronautas de volta na Lua e, pasmem, criar uma presença humana mais constante por lá.
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Grandes nomes como a United Launch Alliance e a Lockheed Martin estão projetando infraestruturas para uma possível habitação lunar. E, claro, Elon Musk, em seu estilo visionário, até fala em colonizar Marte com sua SpaceX. Por mais que essas ideias pareçam saídas de um filme de ficção científica, a questão que se coloca é: quão difícil seria, de fato, vivermos no espaço?
Primeiramente, lembre-se de que nós, humanos, evoluímos e nos adaptamos para viver aqui, e não em outro lugar do universo. Ao pensar em sairmos da Terra, começam a surgir uma série de complicações, tanto físicas quanto psicológicas. A exposição aos raios cósmicos, por exemplo, eleva o risco de câncer, e os problemas que nossos corpos enfrentariam em ambientes de microgravidade seriam enormes.
Outra questão é saber se morar tudo isso valeria a pena, economicamente. Historicamente, a população não tem mostrado muito entusiasmo em financiar essas missões espaciais, e isso sem contar os dilemas éticos que essa colonização interplanetária poderia levantar.
Mas tem o outro lado. Recentemente, em uma conferência, a Analog Astronaut Conference, cientistas e entusiastas estavam reunidos no Biosphere 2, um local perto de Tucson, Arizona, um local planejado para ser uma “mini Terra”, para simular um posto espacial. Lá o sentimento era de otimismo, uma crença geral de que uma vida espacial é o destino da humanidade, um objetivo que, mais cedo ou mais tarde, alcançaremos.
Em 1991 oito pessoas viveram dentro desse Biosphere 2 por dois anos, e enfrentaram problemas como falta de oxigênio, água e comida, sem mencionar os conflitos interpessoais que surgiram entre os residentes.
Hoje quem participa de projetos dessas simulações são chamados de astronautas analógicos. A tentativa no Biosphere 2 não foi em vão, e hoje há simulações de longo prazo de viagens espaciais ocorrendo em diferentes partes do mundo. Por mais que os desafios sejam reais e tangíveis, como danos no DNA, alterações no microbioma, e problemas musculoesqueléticos, o sonho da vida espacial ainda permanece vivo para muitos.
Há também uma pesquisa feita na Universidade da Califórnia, em São Francisco, que apontou que os vasos sanguíneos que levam ao cérebro ficam mais rígidos em microgravidade, o que poderia explicar por que os astronautas, ao retornarem à Terra, não conseguem simplesmente sair andando de suas cápsulas.
Explorando o espaço: Os desafios biológicos, psicológicos, éticos e financeiros da vida fora da Terra
Além disso, você sabia que quando astronautas passam mais de um mês no espaço, os olhos deles se achatam? Sim, é tão bizarro quanto parece! Esse fenômeno é parte de uma condição chamada síndrome neuro-ocular associada ao voo espacial.
Os nossos ossos e músculos, também estão tão acostumados à gravidade da Terra, que têm dificuldades no espaço, e começam a se deteriorar, levando à perda óssea e à atrofia muscular. O que aliás é o motivo para os astronautas praticarem exercícios todos os dias no espaço, usando equipamentos que tentam simular a gravidade.
Mas talvez a maior preocupação seja a radiação. Na Terra, nossa atmosfera nos protege dessas partículas carregadas, mas no espaço, a coisa muda, e a radiação solar, especialmente durante tempestades solares, pode prejudicar nosso DNA. É bastante difícil se proteger de determinadas radiações, como os raios cósmicos galácticos, que são tão potentes que simples barreiras não são suficientes.
E se você não conseguir se proteger a tempo, a primeira coisa que sentirá é náusea. E não é um pequeno mal-estar, Dorit Donoviel, professora do Baylor College of Medicine e diretora do Translational Research Institute for Space Health (TRISH), mencionou que você literalmente vomitaria dentro de sua roupa espacial, e isso seria algo muito perigoso, por interferir nos sistemas de suporte à vida dos trajes.
Ainda que os problemas físicos sejam superados, temos mais: imagine que esses astronautas ficam presos em uma “grande lata” com as mesmas e poucas pessoas, sendo vigiados constantemente, com um ambiente externo mortal, uma rotina monótona, e um ciclo biológico do corpo anormal. Esses exploradores despaciais são propensos a uma regulação emocional deficiente, falta de resiliência, ansiedade, depressão, problemas de comunicação entre a equipe, distúrbios do sono, e comprometimento do sistema cognitivo e motor provocado pelo estresse.
Outro aspecto a ser considerado são os custos astronômicos de colonizar o espaço. Embora tenhamos empresas espaciais como a SpaceX fazendo avanços impressionantes, precisamos nos perguntar: “Quem vai pagar por isso?” E, curiosamente, mesmo que tecnologicamente viável, não significa que haja um bom retorno financeiro.
Atualmente, muitas destas empresas estão mirando em turistas espaciais, mas isso não está à parte das preocupações. Estes turistas espaciais não estão tão protegidos quanto os astronautas profissionais em termos de segurança.
A história nos mostra que, ao explorar novos territórios na Terra, muitas vezes encontramos recursos valiosos como ouro ou terras férteis. Mas no caso do espaço, isso é uma incógnita. O que realmente ganhamos ao colonizar Marte ou qualquer outro corpo celeste? Isso não é muito claro.
Claro, a ideia da vida espacial é absolutamente inspiradora, mas essa inspiração não paga as contas. Imagine tentar justificar, em termos econômicos, o valor de uma missão a Marte. Brendam Rousseau da Harvard Business School diz que seria ótimo ver isso acontecer, desde que não sejamos nós a pagar, – isso ecoa um sentimento de muitos entusiastas da vida fora da Terra.
Quanto ao público amplo, pesquisas sugerem que a maioria das pessoas não coloca a exploração espacial humana no topo da lista de prioridades. Em comparação com outras missões, como monitorar o clima da Terra ou fazer pesquisas científicas, enviar humanos a Marte ou à Lua não parece ser tão urgente.
Há também as implicações éticas. Devemos realmente enviar pessoas, sabendo dos riscos de saúde que enfrentarão? E quais são nossas responsabilidades em relação aos corpos celestes que pretendemos explorar? Afinal, estamos falando de ambientes que, uma vez alterados, podem nunca mais ser os mesmos.
A vida fora da Terra não é como nos filmes, tudo muito futurista e convenientemente funcionando. A astronauta analógica Ashley Kowalski descreveu como ela enfrentou enormes desafios ao tentar se reintegrar à vida “normal” após um período de isolamento na SIRIUS 21, uma missão conjunta dos EUA com duração de oito meses.
Apesar de todos esses problemas, a comunidade de astronautas analógicos permanece otimista. Para eles, e para muitos de nós, o espaço é a fronteira final que a humanidade deve explorar, independente dos desafios que terão de ser superados.
Ninguém sabe ao certo o que o futuro nos reserva. A vida fora da Terra aponta muitas possibilidades a serem exploradas pelos humanos no futuro, e talvez os desafios sejam menores do que a vontade de superá-los e desvendar os mistérios do universo.
Fonte: Scientific American