A adoção da Inteligência Artificial ligada à arte e à indústria do entretenimento está em pauta. Não à toa, o seu uso é bastante controverso, e têm levado a discussões importantes. Na Índia, as ferramentas de IA estão sendo muito usadas, e vêm dando o que falar.
Recentemente, até rolou aquela polêmica sobre a Marvel, lembra?
Segundo o site da Mint, a indústria do entretenimento indiana está usando essa tecnologia para criar músicas na voz de artistas que nem sequer cantaram as canções originais, além de criar pôsteres de filmes com atores em diferentes papéis, gerando verdadeiras revoluções nessas produções. E pode acreditar que esses exemplos são só o começo do que parece estar vindo por aí.
Os especialistas reconhecem que a intervenção humana no processo é muito importante em função dos muitos riscos envolvidos, dentre eles as questões relacionadas ao plágio. Mas eles preveem que a inteligência artificial vai auxiliar no roteiro, elenco, filmagem, pós-produção, marketing e na criação de melodias e letras.
Além disso, para a indústria do entretenimento, outro aspecto que enche os olhos, é a capacidade que a IA tem de fornecer dados valiosos sobre as preferências do público, ajudando, entre outras coisas, a prever o desempenho nas bilheterias. Isso pode estimular o aumento significativo na produção de conteúdo.
Há quem diga que esse aumento da demanda em consequência do uso da inteligência artificial pode democratizar as oportunidades dessa indústria tão concorrida, como é o caso da opinião do CEO da empresa de tecnologia Animeta, Devdatta Potnis. Ele afirma que a IA pode beneficiar principalmente aqueles que não têm a infraestrutura para se destacar na indústria do entretenimento, com criação de cenários, geração de possíveis enredos, diálogos e rascunhos de roteiros.
Ele ainda destaca que o impacto é muito percebido em como os criadores de mídia social exploram soluções visuais aprimoradas, conteúdo de marca e integram a inteligência artificial em como se envolvem com o público.
Vincent Kola, supervisor criativo de arte e vídeo na agência digital SoCheers, vai além e diz que a inteligência artificial também pode ser usada como uma ferramenta criativa para a indústria cinematográfica, tornando possível envelhecer um personagem ou trazer um personagem que já se foi de volta à vida.
Chandrashekar Mantha, sócio e líder do setor de mídia e entretenimento da Deloitte, concorda com as perspectivas sobre a inteligência artificial, destacando ainda a sua utilização nos efeitos e automação de tarefas inerentes às demandas por recursos visuais, na colaboração no estágio de ideação dos projetos, além da aplicação criativa e analítica no setor de marketing.
A inteligência artificial também pode criar músicas. Já existem modelos, como o Juke Deck e o MuseNet, que podem compor uma obra original em vários gêneros e imitar o estilo de músicos famosos, – foi o que lembrou o diretor criativo da FoxyMoron, Sujai Chandran.
Já falamos aqui sobre como essa tecnologia pode também ser usada para prever qual música será ou não um hit.
Segundo Ranjana Adhikari, parceira da empresa de advocacia IndusLaw, o ecossistema de Mídia e Entretenimento na Índia vai sofrer grandes impactos por causa da inteligência artificial, e os perigos precisam ser avaliados com muita atenção, em relação aos direitos de propriedade intelectual, desinformação, cuidado com as fontes de dados para o aprendizado de máquina, entre muitas outras coisas.
Ainda segundo a Mint, o Writers Guild of America, apresentou uma proposta para permitir que escritores e estúdios usassem a inteligência artificial, mas esclareceu que esse conteúdo não seria considerado como obra que os escritores criam por conta própria.
Você já parou para pensar quem é o autor das obras geradas por inteligência artificial? Não é uma questão tão fácil de ser respondida quanto parece. Clica aqui para entender como a gente pensou sobre isso.
Desafios da inteligência artificial na arte, filmes, textos…
O mundo todo está se deparando com as oportunidades que a inteligência artificial traz para a indústria do entretenimento, tanto para processos criativos com IA generativas quanto para análises mais robustas e eficazes com IAs preditivas ou interpretativas, por exemplo.
Tendemos a pensar somente no poder generativo dos algoritmos, mas esquecemos que existem tantos outros modelos que também estão sendo usados, e não é de hoje. A criatividade não é a única característica humana que se pretende replicar com a máquina.
Mais velocidade, mais volume, mais assertividade, mais potencial analítico, mais produtividade e até mais criatividade pode ser possível nesse novo momento, mas os problemas são tão numerosos quanto as possibilidades otimistas.
Pense nesses mercados onde a arte e o lucro são indissociáveis e as perguntas vão transbordar na mente.
Do ponto de vista da criatividade… Quem é o autor das obras de IA? Para uma obra ser considerada autêntica não pode se beneficiar de IA em nenhuma parte do processo? Os dados vão condicionar tanto a criatividade a ponto de todo produto criativo ser sempre previsível? Os artistas terão espaço para originalidade ou só poderão rentabilizar seu trabalho a partir das condições previamente impostas?
Os efeitos não são só os que se relacionam diretamente aos artistas. Até que ponto um condicionamento da arte pode moldar a cultura e o comportamento de uma sociedade? Quanto a adoção da inteligência artificial pode impactar na demanda por profissionais, tanto da arte como dos dados? E se a demanda de profissionais mudar, o mercado está preparado para reposicionar ou qualificar esses profissionais nessa nova realidade? Nós sempre saberemos quais dos nossos dados são coletados para medir a resposta de um lançamento?
E ainda… Haverá um controle com a questão das “deep fakes“? No caso de pessoas que já faleceram, quem decide sobre o uso de imagem? Ou antes, é válido que alguém delibere sobre as ações de um indivíduo depois de sua morte?
Autoria, responsabilidade legal, cultura, criatividade, segurança de dados, vieses, desinformação, novos cenários mercadológicos, desigualdades… A balança vai pender para um lado ou para o outro a depender da situação, mas o fato é que precisamos encarar que essa realidade não mostra sinais de desaceleração e, apesar dos problemas, de fato apresenta muitas boas oportunidades.
Ignorar algo que se impõe parece causar a impossibilidade de análise coerente sobre tudo que está acontecendo. Se lutar contra isso coloca mais perigos sobre a mesa, que as boas oportunidades da inteligência artificial sirvam de argumentos para não adiarmos as discussões tão necessárias.
Fonte: Mint