No mundo da arte, a inteligência artificial desperta sentimentos diversos, tanto em artistas como em consumidores de arte e mercado. Um novo recurso para proteger as obras disponíveis no mundo digital surge com uma sugestão inusitada: mandar um dedo do meio para as ferramentas de IA Generativa.
Calma! A gente vai te explicar melhor!
Quando os geradores de imagens por inteligência artificial surgiram, foi quase como assistir a um truque de mágica: máquinas capazes de criar imagens detalhadas em questão de minutos causaram entusiasmo e preocupação ao mesmo tempo, as oportunidades e as questões éticas e legais se misturavam nesse novo momento para a legislação e até para o entendimento sobre o que é ou não arte.
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Esses modelos de IA foram treinados em bilhões de imagens, mas muitas dessas imagens foram utilizadas sem a permissão de seus criadores. Eva Toorenent, ilustradora que atua como conselheira holandesa da Associação Europeia para Regulamentação da Inteligência Artificial, foi enfática ao dizer que essas máquinas “sugaram a criatividade de milhões de artistas”.
Os artistas viam seus trabalhos sendo usados sem permissão enquanto as avaliações e o valor das empresas de IA disparavam.
No último ano, muitos ilustradores, fotógrafos e outros artistas visuais sentiram o peso dessas máquinas e começaram a buscar maneiras de reaver o controle sobre suas obras. Alguns recorreram à justiça, enquanto outros apelaram para regulamentações.
Mas eis que surge uma luz no fim do túnel para esses artistas: a startup Spawning apresenta ao mundo a Kudurru, uma ferramenta projetada especificamente para bloquear tentativas de treinar inteligências artificiais com obras artísticas. O nome “Kudurru” é inspirado em um termo mesopotâmico que simboliza limites e propriedade, o que já dá uma ideia do propósito da ferramenta.
Como o Kudurru protege a arte
A maioria dos geradores de imagem por inteligência artificial se abastece de dados coletados, ou “raspados” (o chamado “scraping”), da internet. Isso é feito por softwares que capturam dados em massa de diversas fontes online, desde plataformas populares como DeviantArt até bibliotecas profissionais como Getty Images.
O Kudurru entra em ação justamente nesse momento de “raspagem” de dados. Durante os testes, a Kudurru conseguiu parar uma quantidade significativa dessa atividade, chegando a interromper por duas horas todos que estavam baixando um conjunto de dados popular chamado LAION-5B, onde bilhões de URLs de imagens estão listadas.
A estratégia da Spawning é inteligente. Eles operam uma rede de defesa composta por mais de 1.000 sites que hospedam imagens. Quando os raspadores tentam acessar essas imagens, seus endereços IP são registrados, e a Kudurru identifica os grupos e regiões mais envolvidos no processo, e com essa informação, eles desenvolvem uma lista negra em tempo real.
A Kudurru oferece aos artistas duas de ação. A primeira é simplesmente bloquear os endereços IP da lista negra. A segunda, porém, é um pouco mais audaciosa: os artistas podem “envenenar” a raspagem, enviando uma imagem totalmente diferente da solicitada. Isso pode confundir e até mesmo prejudicar o funcionamento das inteligências artificiais.
A própria Kudurru oferece algumas sugestões de imagens para que os artistas mandem de volta, uma delas é simplesmente uma imagem repetida de um “dedo do meio” para os raspadores.
Uma juíza federal nos EUA determinou: Arte feita por IA não é protegida por lei, não!
O futuro das ferramentas para proteger obras de arte
A Kudurru é promissora, mas ela não está sozinha no mercado. Outras ferramentas, como o Glaze da Universidade de Chicago, também estão surgindo. O Glaze adiciona uma espécie de marca d’água invisível às imagens para confundir os raspadores.
Empresas como a DataDome também oferecem proteção contra raspagem, mas muitas vezes com preços voltados para grandes corporações. Por isso, a chegada de uma ferramenta gratuita como a Kudurru é tão animadora.
No entanto, é preciso lembrar que, apesar desses esforços, ainda estamos à espera de ações regulatórias mais concretas em relação à arte. Muitos artistas acreditam que as empresas não vão parar de “raspar” dados por conta própria. Neil Turkewitz, um ativista dos direitos autorais, vê a Kudurru e ferramentas semelhantes como uma medida paliativa, e não a solução definitiva.
A questão dos direitos autorais ainda é um ponto sensível e precisa ser discutido para que a arte e a tecnologia estejam em seus devidos lugares.
Fonte: Wired