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Controvérsia espacial: Para que ir ao espaço levando fósseis humanos?

Uma controvérsia espacial tem causado alvoroço: Ir ao espaço levando fósseis muito antigos de humanos. Para que isso serviria exatamente? É em prol da ciência ou só publicidade? 

Uma nave da Virgin Galactic chamada VSS Unity voou cerca de 88 km acima de nós, chegando pertinho do limite do espaço. A bordo estavam dois pilotos da Virgin Galactic, um instrutor de astronauta, três clientes astronautas, e também restos de dois humanos antigos. E não estamos falando de quaisquer ossos, são os legítimos, vindos diretamente da África do Sul de centenas de milhares de anos atrás.

Falando de humanos antigos… Recentemente foram trazidas à luz informações genéticas de 2 milhões de anos que podem trazer novos insights sobre nossas origens. Você viu? Clica aqui!

Após uma breve passagem pelo espaço, durando cerca de uma hora, a VSS Unity e sua tripulação, incluindo nossos restos ancestrais hominídeos, retornaram à Terra uma hora depois. 

Mas essa viagem espacial não foi bem vista por muita gente do mundo acadêmico. Arqueólogos, paleontólogos e outros pesquisadores não curtiram muito essa aventura, por colocar algo tão precioso e insubstituível em risco pelo que chamaram de um “golpe publicitário”.

A controversa viagem ao espaço

Robyn Pickering, geóloga da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul da Universidade da Cidade do Cabo disse que tratar restos ancestrais de forma tão insensível e antiética, lançando-os no espaço pelo simples fato de que é possível, sem nenhuma outra razão, não apresenta mérito científico nenhum.

Antes que você se pergunte se esta é a primeira vez que alguém teve a ideia de enviar fósseis ao espaço… não é! Outros fósseis, inclusive ossos de dinossauros, foram levados em várias missões espaciais desde os anos 80.

Mas o que fez dessa viagem recente diferente foi que pela primeira vez restos de hominídeos antigos entram nessa de viagem pelo espaço. Estamos falando de ossos do Australopithecus sediba, que tem cerca de 2 milhões de anos, e do Homo naledi, de cerca de 250.000 anos. Ambas as espécies foram descobertas perto de Joanesburgo por equipes lideradas por Lee Berger, paleontólogo que agora está no National Geographic Society.

A Agência de Recursos do Patrimônio Sul-Africano (SAHRA, em inglês South African Heritage Resources Agency) deu a Berger o sinal verde para transportar esses fósseis nessa missão espacial e Tim Nash, um empresário sul-africano, foi quem os levou a bordo enquanto viajava como um astronauta particular.

Quando Berger se candidatou a essa jornada espacial, ele deu a entender sobre alguns possíveis estudos científicos nos fósseis, mas esse não era motivo motivo principal, e sua inscrição soou mais como uma iniciativa publicitária, enfatizando a “oportunidade única na vida” de chamar a atenção para a ciência, as origens humanas e o papel crucial da África do Sul em tudo isso. Mas, Robyn Pickering, que faz parte dos cientistas que descobriu a idade do Au. sediba, não comprou a ideia, enfatizando os riscos da viagem espacial e o quão valiosos são esses fósseis.

Há algo mais preocupante destacado por Yonatan Sahle, arqueólogo da Universidade da Cidade do Cabo, comparou isso às investigações da era colonial e neocolonial, onde pesquisadores ocidentais muitas vezes ofuscavam e manipulavam instituições africanas, tendendo a subordiná-las aos seus interesses. Sahle, sendo africano e atuando numa instituição africana, acredita que tal atitude é basicamente uma continuação dos aspectos mais problemáticos da investigação paleoantropológica do passado.

A SAHRA reagiu, defendendo sua decisão, dizendo que os benefícios publicitários justificavam os riscos envolvidos. Enquanto isso, Berhnard Zipfel, paleoantropólogo e curador das coleções da Universidade de Witwatersrand (onde os fósseis geralmente ficam) disse que, em sua opinião, esses fósseis específicos foram escolhidos porque foram escaneados em 3D e fotografados até a exaustão. Então, é como ter uma réplica super detalhada aqui na Terra.

Mas Rachel King, arqueóloga da University College London que estuda políticas de patrimônio cultural na África Austral, argumentou que ter uma cópia, ainda que muito fiel, não justifica colocar o material original em risco. Imagine que não seria razoável dizer “Ei, tirei fotos desse Picasso, então vamos brincar de frisbee com o original!”. Rachel tem um ponto.

A África do Sul sempre se destacou quando o assunto é proteger tesouros culturais. Essa recente iniciativa espacial privada, no entanto, surpreendeu especialistas como King, por se tratar de algo inesperado e que pode sinalizar que talvez os tempos tenham mudado.

Berger tem evitado dar declarações, não oferecendo comentários sobre essa polêmica espacial.

Tá certo que viagens espaciais às vezes têm lá suas controvérsias, mas esta é uma história que nos faz pensar sobre as questões éticas e as prioridades quando o assunto são os motivos para ir ao espaço!

Fonte: Nature

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