Tem muito a ser desvendado sobre a história humana, e não é todo dia que tropeçamos em uma revelação que redefine nossa compreensão sobre o assunto. Recentemente pesquisadores encontraram madeiras empilhadas datando de impressionantes 476.000 anos atrás. Estamos falando de quase meio milhão de anos de história!
Esses registros podem muito bem representar a estrutura de madeira mais antiga que se tem notícia, e foram encontrados em um lugar bem interessante – as Cataratas de Kalambo (Kalambo Falls), um sítio arqueológico situado em Zambia. Esta descoberta aponta que, mesmo antes do surgimento dos Homo sapiens, nossos parentes distantes já estavam de olho no potencial da madeira.
A decomposição da madeira dificulta que tenhamos mais evidências dessas estruturas. Se a madeira fosse tão bem preservada quanto pedra ou osso ao longo dos milênios, talvez a nossa pré-história fosse chamada de “Idade da Madeira“, e não “Idade da Pedra”. Pelo menos é o que sugere Larry Barham da Universidade de Liverpool, um dos autores da pesquisa que foi destaque na renomada revista Nature.
A história das escavações nas Cataratas de Kalambo começou há algumas décadas. Nos anos 50 e 60, o arqueólogo britânico J. Desmond Clark e sua equipe encontraram ferramentas de pedra e, o que é mais fascinante, objetos de madeira que poderiam ser ferramentas ou parte de uma estrutura. Mas naquela época determinar a idade exata e a autenticidade desses objetos de madeira era um desafio.
A madeira e a compreensão da história humana
Já nos anos 2000, Barham e sua equipe voltaram ao local com o objetivo de datar o sítio usando técnicas modernas e procurar mais ferramentas de pedra. A atual descoberta não estava em seus planos, mas no primeiro dia de escavação em 2019, a equipe encontrou um pedaço de madeira que parecia ter sido modificado.
Uma escavação mais detalhada revelou várias peças de madeira que mostravam sinais de modificação intencional. Por exemplo, algumas delas tinham marcas que lembravam objetos de madeira de outros locais arqueológicos. Mas o que se destacou mais foi um tronco de 1,4 metros de comprimento com extremidades afuniladas e um entalhe profundo. Este entalhe sugeriu que o tronco repousava sobre outro pedaço grande de madeira, possivelmente dando pistas sobre sua finalidade.
Ao tentar entender melhor a finalidade desses objetos, Barham chegou a uma comparação com os Lincoln Logs, um brinquedo de construção dos EUA, para ilustrar a ideia de estabilidade na construção. Pensar nisso hoje pode ser trivial, mas pensar nessas construções com quase meio milhão de anos de história é bem relevante!
O que, exatamente, nossos parentes distantes estavam construindo? Uma plataforma de pesca? Uma trilha elevada? Um abrigo simples? Sem mais material de madeira, a verdadeira finalidade permanece um mistério da história humana.
O uso de uma técnica moderna chamada datação por luminescência sugere que os grandes objetos de madeira têm pelo menos 476.000 anos, enquanto algumas ferramentas menores sugerem que os objetos são um pouco mais jovens. E embora não tenhamos encontrado restos de hominídeos nas Cataratas de Kalambo, um crânio de 300.000 anos de outro local de Zambia foi identificado como pertencente ao Homo heidelbergensis, possível ancestral comum dos Homo sapiens e dos Neandertais.
Recentemente, um crânio também de 300 mil anos foi encontrado na China oriental, e essa descoberta pode mudar a história da evolução humana. Será que teríamos um novo membro na árvore geneálogica? Clica aqui e dá uma olhada que intrigante!
Andy Herries, arqueólogo da La Trobe University em Melbourne, faz uma observação interessante: ferramentas de pedra dessa época frequentemente mostram sinais de terem sido anexadas à madeira. Portanto, a ideia de que hominídeos nas Cataratas de Kalambo fizeram ferramentas e possivelmente estruturas de madeira não é tão surpreendente.
Por outro lado, Richard Roberts da Universidade de Wollongong na Austrália, está convencido pela datação. Ele vê os objetos de madeira como intrigantes para a compreensão da nossa história, e sugere que o uso da madeira pelos hominídeos pode ter sido subestimado já que a madeira não é preservada normalmente. Por que essas foram preservadas?
Essa recente descoberta não só ilumina nossa compreensão do passado, mas também nos lembra da importância de olhar mais de perto para os registros mais frágeis da história. Mesmo que eles se decomponham, as histórias que eles contam podem durar para sempre.
Fonte: Nature