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Greve de Hollywood: Uso de Inteligência Artificial e trabalho digital estão entre os motivadores

O uso da Inteligência Artificial é um dos grandes motivadores da greve dos profissionais de Hollywood que começou na semana passada, mobilizada pelo SAG-AFTRA. A indústria do entretenimento passa por momentos tensos ao ter que adiar lançamentos e a produção de vários filmes e programas de televisão.

Créditos: Kauê Peinado para Futuro Relativo

Os motivos da greve que está rolando em Hollywood não se referem só à inteligência artificial, mas além das questões que se pretendem foco de todo sindicado, o caráter artístico desse movimento ligado à IA se depara com desafios realmente relevantes. Vamos por partes:

Quem está em greve em Hollywood?

Muitos estão falando em “greve dos atores de Hollywood“, porque as estrelas aderiram ao movimento, mas os atores não estão nessa sozinhos. A mobilização começou pelo SAG-AFTRA (Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists), um sindicato fundado em 1985 que representa mais de 160.00 profissionais da indústria, como diretores, produtores, roteiristas, dubladores, técnicos de som e fotografia, figurinistas, cabeleireiros, maquiadores, maquinistas, costureiros e artistas de efeitos especiais.

O que eles estão reivindicando?

Dentre as reivindicações, aqui estão algumas das principais:

  • Aumento salarial de 3% ao ano por três anos,
  • Melhorias nos benefícios de saúde e aposentadoria,
  • Reconhecimento do trabalho digital como trabalho de escopo,
  • Proteção dos atores dos efeitos negativos da IA,
  • Compromisso dos estúdios em usar inteligência artificial de forma ética e responsável.

Quais são os problemas com o trabalho digital?

A disputa sobre o trabalho digital é um dos principais pontos de discórdia, especialmente no que se refere aos atores.

Os atores geralmente recebem um salário fixo para atuar em um filme ou série, independentemente de onde o conteúdo seja transmitido. No entanto, alguns atores também recebem royalties por suas obras, o que significa que ganham uma porcentagem dos lucros que o filme ou série gera. 

Os royalties geralmente são pagos apenas por filmes e séries que são lançados em cinemas ou em plataformas de aluguel digital, como iTunes ou Amazon Prime Video (não se trata aqui da assinatura, e sim daquela opção que aparece pra gente alugar um filme). Filmes e séries que são lançados em plataformas de streaming (aqui sim, estamos falando da assinatura), como Netflix ou Disney+, geralmente não pagam royalties aos atores.

Os estúdios que produzem esses filmes e séries afirmam que o trabalho digital se diferencia do formato tradicional, alegando que os serviços de streaming não cobram dos usuários pelas visualizações como no modelo de locação, e que, portanto, não podem pagar royalties aos atores.

Os atores, por outro lado, argumentam que o digital é parte crescente da indústria do entretenimento, uma forma legítima de sua atuação, e por isso deveriam ser pagos por seu trabalho, que é valioso e merece ser recompensado, independentemente de onde o conteúdo seja transmitido. Atualmente, os atores só recebem royalties por seu trabalho em plataformas tradicionais, como televisão e cinema.

Outra questão que pode ser considerada uma preocupação para todos os profissionais que prestam serviços na indústria do entretenimento em Hollywood e, em contrapartida, uma oportunidade para os estúdios é que essa forma de trabalho está se tornando cada vez mais automatizada, o que implica na substituição de profissionais por máquinas

Créditos da imagem Mario Tama/Getty Images para The Guardian

Quais são os problemas com a inteligência artificial?

Os temores dos profissionais, e especialmente dos atores, sobre o uso da inteligência artificial nas produções de Hollywood vêm chamando muita atenção. A criação de versões digitais traz uma nova realidade cheia de pontos a serem discutidos.

Há uma preocupação de que essas versões digitais não sejam distinguíveis dos humanos. Sendo assim, as consequências são muitas, tais como:

  • O uso indevido da imagem dos atores para fins comerciais sem o consentimento deles,
  • Atribuição indevida ou não atribuição de créditos no uso da imagem de IA dos atores,
  • Possibilidade de manipulação do público,
  • Baixa na demanda por atores reais, o que tende a reduzir os salários,
  • Criação de conteúdo mais violento, sexualmente sugestivo, ou qualquer outro tipo que possa denegrir a imagem do ator real, etc.

Para proteger a integridade dos atores, algumas propostas apontam que os estúdios devem revelar quanto dessa tecnologia está sendo usada em cada produção, que devem dar mais controle aos atores sobre o uso de sua imagem em versões feitas com esse recurso, além de estabelecer padrões éticos e fornecer mais treinamento aos profissionais sobre como trabalhar com a IA.

Os estúdios dizem que a inteligência artificial não é uma ameaça aos atores humanos, e sim uma ferramenta que pode ser usada para criar novos tipos de conteúdo e para melhorar a experiência do público. Alegam também que estão comprometidos a usar esse recurso de uma forma que beneficie os atores humanos.

O cinema, as séries, a música, a criação de imagens, entre outras produções mostram que poderemos encontrar IA com mais frequência do que imaginamos. E os problemas não são só sobre os direitos autorais

Os impactos da greve em Hollywood

Com a paralisação, os profissionais não trabalham em qualquer projeto que seja produzido pela indústria do entretenimento (incluindo filmes, programas de TV, videogames e comerciais) e também não estão negociando contratos diretamente com os estúdios.

A orientação é para que não seja aceita nenhuma oferta de trabalho que não seja aprovada pelo SAG-AFTRA e para que não haja participação em qualquer atividade que possa prejudicar a greve ou o sindicato.

Diante dessa situação, grandes lançamentos podem sofrer atrasos, como a sequência de Avatar e Beetlejuice, e os filmes Ghostbusters 4 e Mufasa: O Rei Leão. Além disso, os atores são orientados a não participarem das cerimônias de lançamentos, embora alguns movimentos estejam tentando manter os esforços de publicidade.

Tom Cruise, por exemplo, encorajou o sindicato a considerar manter a promoção dos filmes mesmo em  meio à greve sem, contudo, deixar de se empenhar fortemente para que a AMPTP (Alliance of Motion Picture and Television Producers) reconhecesse a gravidade das questões levantadas pelo SAG-AFTRA no que diz respeito às barreiras em relação à IA ​​generativa.

A inteligência artificial aplicada à arte

As conversas sobre os efeitos da inteligência artificial aplicada à arte já são cada vez mais presentes, especialmente da perspectiva de propriedade intelectual, direitos autorais e dos impactos econômicos em toda cadeia de produção. Mas já parou para pensar essa nova realidade do ponto de vista do público?

Dada à influência gigantesca dos filmes de Hollywood em várias partes do mundo, como os efeitos dessa nova tecnologia incidirão sobre a cultura? Será que, cada vez mais, teremos mais do mesmo? Até que ponto os conteúdos carregarão vieses que podem ditar aspectos culturais e sociais, por se tornarem demasiadamente presentes? Será que a produção em larga escala vai suprimir a emergência da originalidade? Qual o efeito dessas resoluções em nossas assinaturas de streaming? Quais os limites do uso dos nossos dados para as produções audiovisuais?

A verdade é que movimentos notáveis como esse acendem alertas não só para os envolvidos diretamente, – o estúdio e os profissionais que trabalham nesses estúdios -, mas trazem a necessidade de um olhar muito mais abrangente, pois existem relações interdependentes entre todos os agentes, considerando também os consumidores, para que a indústria do entretenimento aconteça.

Mais do que evidenciar as divergências, esperamos que esses diálogos se direcionem para um ponto de convergência de interesses, de meios para que todos os envolvidos tenham direitos e deveres assegurados, inclusive do lado de quem consome o conteúdo.

Fonte: BBC, Deadline, The Guardian

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